Conteúdo editorial apoiado por

Muito além da ata do Copom: os fatores externos que levam à queda da Bolsa nesta terça-feira

Dados frustrantes da China e noticiário de bancos (na Europa e nos EUA) aumentam aversão ao risco global e impactam ações por aqui

Lara Rizério Vitor Azevedo

Publicidade

Enquanto a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu por um placar acirrado cortar os juros em 0,5 ponto, para 13,25% ao ano, era visto como o grande ponto de atenção dos investidores por aqui, é o noticiário externo que gera o grande impacto opara o mercado brasileiro na sessão desta terça-feira (8).

A ata deixou a porta apenas “um pouco aberta” para o Comitê cortar os juros em um ritmo além do 0,5 ponto feito na última reunião, acrescentando que “há baixa probabilidade de uma intensificação adicional no ritmo de ajuste” (conforme o parágrafo 18). Esses termos reforçaram a visão de um BC “hawkish” (duro sobre a inflação), mas com o tom que já havia sido mostrado no comunicado que se seguiu à reunião de corte de juros.

Assim, analistas apontam que a forte queda do Ibovespa no pregão de hoje vem principalmente de fatores externos, com um dia de forte aversão ao risco no exterior e com os principais índices de Wall Street caindo por volta de 0,8%. Já o Ibovespa tinha perdas de 1,30%, a 117.823 pontos às 10h53 (horário de Brasília), enquanto o dólar subia 0,65%, a R$ 4,924 na venda. 

Continua depois da publicidade

Diversos fatores levam a uma queda dos ativos, divididos em dois pontos principais: dados frustrantes da China e noticiário de bancos (na Europa e nos EUA).

Conforme destaca a Ágora, durante a madrugada, mais uma vez, dados a respeito da economia chinesa frustraram: desta vez foram as exportações e importações em julho que vieram abaixo do esperado.

As exportações da China recuaram 14,5% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, para o equivalente a US$ 281,76 bilhões. Além de a queda ter sido mais intensa que a esperada pelo mercado – a projeção era de -12,5% – também foi o maior declínio desde fevereiro de 2020, no início da pandemia de covid-19. Em junho, a queda tinha sido de 12,4%.

Continua depois da publicidade

Além disso, voltou ao radar as preocupações com as finanças de incorporadoras da região, com a importante incorporadora Country Garden não realizando pagamento de juros em dólar que eram previstos para o último dia 6 de agosto, em um montante de US$ 22,5 milhões.

“Com isso, a bolsa de Xangai teve queda, modesta, mas o suficiente para contaminar pares vizinhos, com exceção de Tóquio, que encerrou em sentido contrário”, aponta a casa.

As ações da Vale (VALE3), com maior peso individual na carteira do Ibovespa, tinham baixa de cerca de 2% em um dia de queda para o minério com os dados fracos da China e também pela possibilidade de cortes na produção de aço.

Continua depois da publicidade

Para o petróleo, em meio ao baixo apetite a ativos de risco, os contratos futuros chegaram a operar com queda superior a 2%, afetando as ações do setor por aqui. Contudo, os preços da commodity voltaram a subir, com a menor produção de petróleo na Arábia Saudita.

Enquanto isso, os índices acionários europeus foram pressionados novamente por uma leitura negativa sobre a dinâmica de preços, uma vez que a inflação ao consumidor, o chamado CPI, de julho avançou para 6,2% na leitura anual na Alemanha, em linha com as estimativas, mas muito distante da meta de inflação.

O noticiário sobre bancos, na Europa e nos EUA, também impacta negativamente o mercado. A decisão do governo italiano de taxar ganhos extras de suas instituições financeiras em 40% já criava o temor que outros países possam seguir a medida, afetando diversas ações do Velho Continente.

Continua depois da publicidade

Enquanto isso, o aviso da Moody´s sobre o estado delicado dos bancos americanos ao rebaixar novos bancos de pequeno e médio porte no país carimbou a piora de sentimento, avalia a Guide.

A agência cortou na noite de segunda os ratings de dez bancos regionais dos Estados Unidos e informou que estava revisando as notas de seis outras instituições, diante de lucros menores e maiores custos de financiamento.

M&T Bank, Pinnacle Financial Partners e Commerce Bancshares estavam entre os rebaixados. Os cortes foram de uma nota, e todos os bancos seguiam com grau de investimento. A Moody’s ainda revisou os ratings de seis outros bancos, entre eles Bank of New York Mellon, Northern Trust, State Street e US Bancorp, e atribuiu perspectiva negativa a 11 outros bancos americanos.

A ação da agência sugere que o setor bancário do país segue vulnerável a problemas, como o estresse de mais cedo neste ano que levou à quebra de alguns menores no setor, entre eles o Silicon Valley Bank (SVB). Os desafios incluem bônus desvalorizados, investidores cautelosos, retirada de depósitos e custos mais altos de financiamento.

“Diante deste fluxo de notícias negativo, investidores descarregam risco e buscam proteção em títulos de dívida soberanos nas economias centrais, o que pode ser visto através das quedas das taxas nos EUA, Alemanha, Japão e Reino Unido. O dólar também mostra sinais de força até o momento, com valorização contra seus pares desenvolvidos e grande parte das divisas emergentes”, reforça a casa de análise.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.