Ibovespa cai mais de 1% após ministro da Saúde pedir demissão; dólar sobe a R$ 5,84

Mercado acelera perdas diante de mais um ponto de turbulência no cenário político brasileiro

Ricardo Bomfim

Nelson Teich (Foto: Karina Zambrana)

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SÃO PAULO – O Ibovespa acelera perdas e cai mais de 1% após o ministro da Saúde, Nelson Teich, deixar o cargo depois de menos de um mês desde que foi nomeado. Teich entrou para substituir Luiz Henrique Mandetta, que protagonizou diversos incidentes de desacordo com o presidente Jair Bolsonaro na questão do isolamento horizontal.

Assim como seu antecessor, Teich mostrou resistência a adoção da cloroquina no tratamento da Covid-19. Dias antes, o agora ex-ministro também foi surpreendido por decreto de Bolsonaro ampliando a lista de serviços essenciais durante a pandemia, incluindo salões de beleza, barbearias e academias de ginástica.

Teich teria dito recentemente que é difícil conciliar os desejos de Bolsonaro com a realidade.

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Às 12h31 (horário de Brasília) o Ibovespa caía 1,79% a 77.594 pontos. O dólar comercial tem alta de 0,38% a R$ 5,841 na compra e a R$ 5,8421 na venda.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 cai quatro pontos-base a 3,60%, o DI para janeiro de 2023 tem queda de quatro pontos-base a 4,78% e o DI para janeiro de 2025 recua seis pontos-base a 6,74%.

Mais cedo, o clima já era de pessimismo depois que a administração do presidente americano, Donald Trump, adotou medidas para bloquear os embarques de semicondutores das maiores fabricantes de chips globais para a Huawei.

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Em resposta, o editor-chefe do veículo estatal de imprensa chinês Global Times, Hu Xijin, tuitou que a China irá “restringir e investigar” empresas americanas como Qualcomm, Cisco Systems e Apple caso os EUA tentem bloquear a cadeia de fornecedores da Huawei.

Os EUA estão tentando convencer seus aliados a excluir equipamentos da Huawei das redes de 5G. A justificativa é que os chineses podem se utilizar dessa tecnologia para espionar o mundo todo.

Além das tensões com a China, os EUA também foram foco do noticiário porque as vendas no varejo desabaram 16,4% em abril na comparação com março, baixa maior que a expectativa mediana dos economistas do mercado compilada no consenso Bloomberg, que apontava para uma queda de 12%.

Apesar disso, antes da demissão de Teich a Bolsa brasileira ainda se sustentava com os ganhos das ações da Petrobras, que apesar do prejuízo de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre, animou os investidores por conta de outros números da demonstração de resultados.

“A alta qualidade dos ativos do pré-sal da Petrobras é evidente em um trimestre onde, mesmo após uma grande baixa contábil, o fluxo de caixa ainda aumenta. A liquidez parece abundante e, com preços do petróleo aparentemente se recuperando do fundo do poço, continuamos confortáveis com a nossa recomendação de exposição acima da média (overweight) para as ações da companhia”, avalia o Morgan Stanley.

Entre os indicadores brasileiros, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 5,9% em março na comparação com o mês anterior, em linha com as projeções dos economistas, que eram de um recuo de 5,95%. O indicador é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB).

Na comparação anual, o IBC-Br caiu 1,52%, ante projeções de uma retração de 2,4%. Em fevereiro, o IBC-Br havia crescido 0,35% na comparação mensal e 0,6% na base anual.

Por outro lado, a produção industrial chinesa cresceu 3,9% em abril (acima das projeções de 1,5%), enquanto as vendas do varejo no país asiático caíram 7,5%, mais que estimativa de queda de 6%.

O minério de ferro sobe a US$ 90 a tonelada pela primeira vez desde março, à medida que os investidores se preocupam cada vez mais com o impacto da pandemia nos embarques brasileiros com o país se tornando um novo epicentro global da doença. O surto de vírus no estado do Pará é particularmente preocupante para o mercado da commodity​​.

Política

A transcrição fornecida pela Advocacia Geral da União (AGU) da fatídica reunião ministerial de 22 de abril mostra que o presidente Jair Bolsonaro, ao contrário do que declarou, cita em voz a Polícia Federal, ao dizer que iria interferir na atuação da polícia judiciária nacional.

O mandatário classifica como “vergonha” não ter acesso a informações de órgãos de inteligência e avisa: “Por isso, vou interferir. Ponto final”, de acordo com jornais O Globo, Estadão e Folha de S. Paulo. A transcrição foi entregue ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga a denúncia do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro.

Em videoconferência na tarde de ontem com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Bolsonaro incitou a entidade a enfrentar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e lutar contra um possível “lockdown” (tranca-rua), que pode ser declarado hoje pelo governador para frear a epidemia do coronavírus, que já matou mais de 4 mil pessoas em São Paulo e 13,9 mil no Brasil. Doria pediu a Bolsonaro que abandone o “discurso de ódio” e “comece a ser um líder”.

Por outro lado, Bolsonaro reúne-se com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e diz que vivem em harmonia, indicando um alívio na tensão política que vinha preocupando os investidores. Maia teria sugerido debate do veto ao reajuste com governadores e defendido reformas no pós-crise.

Ainda do lado fiscal, o Ministério da Economia recomenda dois vetos a projeto de ajuda a estados. A permissão para reajustes salariais aprovada pelo Congresso tem perda potencial de R$ 120 bilhões nos próximos 18 meses, segundo a nota do ministério.

Mercado de trabalho 

O governo federal estima que o Brasil encerrará 2020 com a perda de 3 milhões de postos de trabalho formais, informa o jornal O Globo. Se a projeção for confirmada, será a maior destruição de vagas com carteira assinada da história recente do Brasil, e o mercado formal voltará aos patamares de 2010. Na recessão entre 2015 e 2017, foram destruídas 2,9 milhões de vagas formais.

Noticiário corporativo 

O noticiário corporativo é movimentado, com destaque para a Petrobras, mas atenção também para os números de Suzano, B3, JBS, CSN, entre outras companhias (veja mais clicando aqui).

A Localiza, maior locadora de carros do país e que teve lucro líquido de R$ 230 milhões no 1º trimestre, informou que o aluguel e a venda de seminovos despencaram do 1º trimestre para abril, com a taxa de utilização caindo de 78,2% para 53%, enquanto a diária média recuou de R$ 69,22 para R$ 47,00. A empresa disse que tem R$ 2 bilhões no caixa para atravessar a crise provocada pela epidemia. Já a Light, concessionária de energia no Rio, informou que alocará R$ 315,3 milhões dos dividendos de 2019, que deveriam ser pagos aos acionistas, mas irão para o caixa da empresa para atravessar a recessão.

Ainda haverá a estreia das ações da Allpark/Estapar no Novo Mercado da B3.

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(Com Agência Estado e Bloomberg)

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.