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Ibovespa cai 0,74% nesta terça e 7,49% em fevereiro, com juros em foco no Brasil e no exterior; dólar sobe quase 3% no mês

Inflação nos Estados Unidos pressiona Federal Reserve e incertezas no cenário doméstico impactam ativos brasileiros

Vitor Azevedo

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Fevereiro foi um período negativo para os ativos de risco no Brasil e em boa parte do mundo. Por aqui, o Ibovespa acumulou queda de 7,49% no mês, tendo fechando esta terça-feira (28) com menos 0,74%, aos 104.931 pontos. Nos Estados Unidos, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 4,20%, 2,51% e 1,11% no mês e 0,71%, 0,32% e 0,10% hoje, na mesma ordem.

De forma geral, fevereiro foi impactado pela perspectiva de que o Banco Central brasileiro e o Federal Reserve não conseguirão diminuir as taxas de juros dos dois países ainda em 2023.

“No cenário internacional, a política monetária americana segue em destaque. Dados recentes, especialmente os de mercado de trabalho, apontam para mais altas de juros por parte do Fed para conter a inflação”, comenta a Rio Bravo Investimentos em relatório sobre o segundo mês do ano. “No Brasil, os eventos políticos ainda estão no holofote, especialmente as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva [PT] à política monetária e à meta de inflação”.

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Há duas semanas, nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) trouxe uma alta de 0,5% em janeiro, ante consenso de 0,4%. Outros dados, como o de inflação ao produtor e do mercado de trabalho do país também fortaleceram a tese de que a maior economia do mundo segue aquecida.

Após um começo do ano no qual parte dos investidores acreditou que a inflação poderia ceder sem as taxas de juros americanas irem a patamares muito elevados, o sentimento mudou. O treasury yield para dois anos saiu de 4,11% no primeiro pregão de fevereiro para fechar nesta terça a 4,787%. O título do tesouro americano para dez anos fechou o mês a uma taxa de 3,90%, tendo o começado a cerca de 3,40%.

“No Brasil, os ruídos políticos ainda dominaram o cenário. Além das incertezas sobre a política fiscal, que estão presentes desde a eleição do presidente Lula, a condução da política monetária também se tornou alvo de conturbações políticas”, comenta a Rio Bravo.

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O começo do mês de fevereiro foi marcado também por uma ofensiva de Lula contra os atuais níveis da Selic e, mais do que isso, contra a independência do Banco Central. Posteriormente, as críticas foram apaziguadas.

Apesar da insatisfação do PT com os atuais níveis do juros do país, as ameaças, junto com o cenário externo, aumentaram as incertezas do mercado e mais criaram problemas que melhoraram o cenário. A curva de juros brasileira subiu em sua ponta longa durante o mês. Os DIs para 2027 no começo de fevereiro eram negociados a uma taxa de 12,76% e no fim estavam a 12,97%. Os para 2029 foram de 12,95% para 13,34% e os para 2031 de 13,02% para 13,48%.

Por conta disso, entre as maiores quedas do Ibovespa de fevereiro ficaram companhias ligadas ao mercado interno, as de crescimento e as mais alavancadas. As preferenciais da Azul (AZUL4) perderam 39,83% e as da Gol ([ativo=GOLL]4), 27,81%. As ordinárias da Yduqs (YDUQ3) recuaram 31,75% e as da CVC (CVCB3), 31,33%.

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“Nosso cenário interno deu uma deteriorada, principalmente no tocante à curva de juros. Foi um mês que intensificou a visão de que a Selic não será reduzida neste ano, isso muito em conta do fato de o governo não trazer seus planos para a economia, principalmente no que tange a regra que irá balizar a política fiscal”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos. “Tivemos os embates do Lula com o Banco Central, com o presidente criticando a curva de juros. Tudo isso piora o clima institucional e o mercado fica à deriva. Em janeiro, havia um voto de confiança, mas agora investidores querem sinalizações mais completas”.

O dólar fechou fevereiro com alta de 2,9% frente ao real, sendo que nesta terça a moeda americana subiu 0,34% frente à brasileira, a R$ 5,225 na compra e na venda.

Nesta terça, por fim, o Governo Federal anunciou reoneração de R$ 0,47 para gasolina e de R$ 0,02 para o etanol e o mercado tentou interpretar as mudanças.

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“As medidas que envolvem a compensação da reoneração dos combustíveis, bem como a possibilidade de mudanças na distribuição de dividendos, ampliaram as incertezas e a percepção de risco e levou os papéis da Petrobras (PETR3;PETR4) para baixo na véspera da divulgação de resultados”, debate Leandro De Checchi, analista de Investimentos da Clear. “Já os juros futuros avançaram por toda curva com alguma piora na expectativa da inflação. O dólar acompanhou esse movimento para ganhar força frente ao real, refletindo a percepção atual de aversão ao risco”.

Além disso tudo, as petroleiras juniors também fecharam em forte queda. Investidores repercutem o anúncio pelo governo de um imposto de exportação que será implementado para minimizar os impactos da desoneração recente dos combustíveis nas contas públicas. As ordinárias da PRIO (PRIO3) recuaram 9,04% e as da 3R Petroleum (RRRP3), 6,97%.