Enquanto Ibovespa luta com 75 mil pontos, “seguro-calote” não para de cair: o que explica esse descolamento?

Risco-País caminha para o menor patamar desde dezembro de 2014 e isso afeta diretamente o mercado

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Depois de disparar 3.700 pontos entre 16 e 21 de novembro, sacramentando fundo sobre a média móvel de 21 semanas (veja mais aqui), o Ibovespa estacionou sob a faixa de 75 mil pontos nos últimos dias. Apesar desta pausa, o CDS (Credit Default Swaps) de 5 anos, um dos mais importantes índices de risco do mercado financeiro, seguiu sua trajetória de queda e acumula nesta terça-feira (28) a 9ª queda consecutiva, atingindo 165 pontos e caminhando para o menor patamar desde dezembro de 2014, o que chama a atenção dos investidores pois o índice pode estar se antecipando ao mercado. Assim, fica a pergunta: o que explica esse descolamento dos últimos dias?


*Fonte: Bloomberg

Para José Faria Júnior, diretor de câmbio da Wagner Investimentos, esse movimento pode ser explicado principalmente pela menor percepção de risco dos investidores estrangeiros com o Brasil em relação aos seus pares emergentes, tendo em vista os avanços do governo com a reforma da Previdência. Basta ver o comportamento do CDS de 5 anos da Turquia, um dos principais “concorrentes” do brasileiro: do dia 16 novembro até então, o “seguro-calote” turco recuou apenas 1 ponto, enquanto o doméstico caiu 15 pontos, descolamento explicado justamente pela maior percepção de risco diante das indefinições sobre o futuro do governo.

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No último domingo (26), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou que renunciará ao cargo caso o líder do principal partido da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, provar as acusações de corrupção contra ele. O Partido da Justiça e do Desenvolvimento, liderado por Erdogan, bloqueou no parlamento a investigação sobre suposta ligação dos filhos do primeiro-ministro do país, Binali Yildirim, para empresas em paraísos fiscais.

Além dos avanços com a Previdência, outros dois eventos econômicos explicam a menor percepção de risco para o mercado brasileiro e favorecem o fluxo de entrada. O primeiro está relacionado com as melhores perspectivas para a economia doméstica, com a Selic estacionando na faixa de 7% ao ano e o comportamento benigno da inflação em 2018, assim como as projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para o ano que vem. No último relatório Focus, as estimativas do mercado subiram de 2,51% para 2,58%.

O segundo efeito está relacionado à política monetária do Federal Reserve, que, pelas primeiras palavras do novo presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, deve seguir expansionista e favorecer o fluxo para os mercados emergentes, apontou Faria. Powell, que assumirá o lugar de Janet Yellen em fevereiro do ano que vem, afirmou nesta terça-feira que mesmo com o mercado de trabalho forte e próximo do pleno emprego, a economia norte-americana não mostra sinais de superaquecimento, vide que a inflação deve seguir em baixa, ao contrário do que se imaginava. Com perspectivas melhores para a economia e menor risco, carregar posição no Brasil fica mais interessante para os investidores estrangeiros em relação aos seus pares emergentes, o que explica a queda do Risco-País. Mas o que isso significa na prática?

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Menor risco, maior atratividade

Na prática, CDS é percepção de risco. E quando estamos falando de um país, essa cesta engloba, basicamente, as perspectivas econômicas do mercado, comportamento futuro do câmbio e taxa de juro, como a capacidade de honrar as dívidas. Daí a analogia de “seguro-calote” e sua importância para os investidores, em especial aos estrangeiros, fatia importante no nosso mercado.

Um Risco-País baixo, que é o caso do Brasil neste momento, reduz os temores sobre todas as variáveis listadas no primeiro parágrafo e altera (positivamente) o humor do investidor estrangeiro, que, como sabemos, é uma fatia importante na B3. Para termos uma ideia dessa relevância, neste mês, os “gringos” foram responsáveis por 50% do volume negociado no segmento Bovespa (que envolve ações à vista, termo, opções e exercício de opções) – veja mais aqui.

Por todos esses fatores, o CDS é utilizado no valuation para capturar com mais agilidade à percepção de risco do mercado. Nesse momento, com o risco de calote brasileiro na mínima de 2 anos, a interpretação é de que investir no Brasil tornou-se menos arriscado e isso abre espaço para uma melhor de percepção sobre o rumo do País, refletindo, diretamente no comportamento das ações e do Ibovespa, assim como no câmbio, que recua em vista do maior fluxo pelos investidores estrangeiros.