Efeito Trump? Especialistas começam a ver primeiros impactos da eleição americana nos mercados

Em seu último mandato, republicano aumentou protecionismo e gerou uma guerra comercial com a China

Vitor Azevedo

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Na última terça-feira (16), especialistas do mercado financeiro apontaram que as eleições americanas podem ter feito peso no mercado. A vitória esmagadora do ex-presidente Donald Trump em uma das primeiras prévias do Partido Republicano, em Iowa, teria ajudado a criar um sentimento de aversão ao risco, principalmente nos países emergentes. 

Investidores, cada vez mais, veem como certo que o empresário concorrerá pelo seu partido, a não ser que o judiciário impeça sua candidatura por conta das acusações referentes à invasão do Capitólio e desvio de dinheiro de campanha. 

Em Iowa, Trump teve 51% dos votos, bem acima da segunda colocada, Nikki Haley, que teve 21%. Fora isso, nas pesquisas para as eleições gerais, o republicano também traz alguma vantagem contra o atual presidente, o democrata Joe Biden. 

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“Ele ganhou com uma margem folgada em Iowa e acho que trouxe um pouco do trigger, principalmente para nós”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio da Novus Capital. “Acho que o mercado já está começando a olhar para a questão Trump”, avalia o gestor.

Os efeitos para os mercados, principalmente os emergentes, são mapeados. A questão que pesa para países emergentes, para Portella, é que Trump, em seu último mandato, teve uma postura anti-China e protecionista no geral. 

“De 2017 a 2021 ele teve uma postura bem anti-China. Queria fortalecer o dólar, o mercado americano, levar de volta postos de emprego para o país. Isso gerou a chamada Guerra Comercial”, explica Portella. “E não é só China… O México também foi muito atacado por Trump”, acrescenta. 

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Durante seu mandato, o republicano impôs tarifas sobre os produtos chineses, tentando reduzir o déficit comercial americano com o país (como, por exemplo sobre aço e alumínio) e renegociou o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA. 

A perspectiva, então, é que a volta de Trump ao cargo de presidente pode voltar a aumentar o protecionismo norte-americano, o que impactaria a China, e, consequentemente, o Brasil. Na terça, a Vale (VALE3), uma das empresas com mais peso do Ibovespa e muito dependente da China, caiu 1,30%. 

No dia, no entanto, o sócio da Novus mencionou que houve outros fatores que ajudaram a puxar as Bolsas do Brasil e de outros emergentes para baixo – como as falas de Christopher Waller, diretor do Fed, que, em discurso disse que a intensidade do corte de juros pela autoridade monetária dependerá de dados futuros – colocando em dúvida o ritmo de flexibilização nos EUA. No entanto, as eleições nos Estados Unidos também apresentaram influência na queda, segundo o especialista.

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Em um episódio do Stock Pickers de dezembro do ano passado, Ruy Alves, da Kinea, também falou sobre a questão. 

“Ele vai apertar todo parceiro comercial dos Estados Unidos. Ele vai trazer o ‘Make America Great Again’, tentando trazer a indústria de volta para os Estados Unidos”, diz. “A chance de ele ganhar é alta. Devemos ter, ao menos, um susto com o efeito Trump, com todo mundo falando ‘vende China’, ‘vende exportador para os EUA’. Nós já estamos nos posicionando para isso”.

João Visotaky Jr, analista da Ticker Research, menciona que, por enquanto, o que o mercado está fazendo é estimar o que o bilionário fará se chegar à presidência. 

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“É preciso considerar a posição que ele vai adotar em relação à China: confronto ou apaziguamento? Talvez ele adote medidas protecionistas, afetando negócios chineses e brasileiros através de limites à importação de certos produtos industriais e commodities”, completa.

As incertezas se avolumam, o que não é bom para o quadro geral dos mercados de risco. Conforme apontou pesquisa recente da Reuters/Ipsos, Trump e o presidente dos EUA, Joe Biden, começam o ano eleitoral empatados, tornando factível uma variedade de cenários.