Economistas já preveem Selic acima de 13% após Copom; redução de juros deve acontecer somente em 2023

Depois de subir os juros em 1 ponto percentual, autoridade monetária sinalizou para aumento de mesma magnitude na próxima reunião

Mitchel Diniz

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A decisão foi unânime e não surpreendeu: o Banco Central elevou os juros básicos da economia em um 1 ponto percentual, de 10,75% para 11,75% ao ano, maior patamar desde abril de 2017. O que chamou a atenção, mais uma vez, foi o comunicado que acompanhou a decisão. No texto, o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom mais hawkish, preocupado com deterioração do cenário inflacionário global, em função da Guerra da Ucrânia, e até mesmo com uma piora da situação fiscal no Brasil.

Contudo, não dá para dizer que o Copom não cumpriu com que o havia sinalizado no comunicado da reunião anterior, em fevereiro. A autoridade monetária de fato reduziu o ritmo de alta de juros, que vinha sendo de 1,5 ponto percentual para 1 ponto. Porém, sinalizou que deve fazer um novo ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Economistas já começam a prever Selic acima de 13% este ano e acreditam cada vez menos na possibilidade dos juros serem reduzidos ainda em 2022.

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“Entendo que, em fevereiro, o Copom enxergava que algo em torno de 12% seria suficiente pra segurar as expectativas de inflação dos próximos anos. Diante de todos os choques recentes, o BC imagina que será necessário levar os  juros para um patamar mais elevado”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Além da alta de 1 ponto em maio, a RB acredita que o Copom deve fazer uma alta final de meio ponto na reunião seguinte, levando a taxa a 13,25%.

“Na melhor das hipóteses, se as altas terminassem com a sinalização hoje, o final do clico de aperto monetário seria de 12,75%, o que é uma taxa de juros bastante elevada. Mas existe sim a perspectiva de que esses reajustes possam continuar após o próximo Copom, porque os eventos que ditam o ritmo do mercado internacional e da inflação como um todo são mais preocupantes nesse momento”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

“Acreditamos que o Banco Central deve elevar a taxa até os 13,25%, ou seja, além de mais uma alta de 100 pontos base em maio teremos outra alta, em junho, de 50 pontos base”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton. O comportamento da inflação, sobretudo os preços de commodities, serão fundamentais para saber se o Copom vai insistir em mais altas além do previsto. Desde já, a autoridade monetária sinaliza que está preparado para ser mais contracionista, a depender de como o cenário se desenvolva.

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Caio Megale, economista-chefe da XP, disse que ainda não mudou seu cenário para Selic, que está em 12,75%, no fim do ciclo de aperto monetário. Para ele, a ata desta última, que vai ser divulgada em breve, “nunca foi tão importante” para explicitar os cenários que o BC está vendo, ainda mais em um momento em que o “mundo está mudando muito”.

“Muito se pergunta se a decisão foi mais leve ou mais dura e eu diria que teve componentes dos dois lados no comunicado”, apontou. De qualquer forma, ressaltou que, assim como outros BCs do mundo, a autoridade monetária brasileira terá que que aceitar inflação mais alta por mais tempo e uma demora maior para trazê-la para meta.

O economista também cita que a taxa de câmbio influencia nesse contexto. “É importante nesse momento que o real esteja se valorizando – o dólar saiu de R$ 5,70 no final do ano para R$ 5,10 agora – o que ajuda a compensar alta de commodities. Esse movimento tende a ser persistente, não vejo o real depreciando de novo, estamos atraindo fluxo, com alta das commodities, além de Rússia e Turquia fora do jogo também”, afirmou Megale.

Segundo Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos, o tom do Copom foi cauteloso, porém duro com a inflação. “O Copom reconheceu as pressões inflacionárias vindas do exterior, assim como a incerteza do cenário. Dados os riscos atuais, foi proposto um cenário alternativo à aquele que o Banco Central vem utilizando. Considerando a possibilidade de adentrar um território ainda mais contracionista, a autoridade monetária anteviu mais uma alta de mesma magnitude para maio, levando a Selic a 12,75%. Ainda reconheceu que pode fazer alterações na política monetária caso seja necessário”, apontou.

Andamento da guerra na Ucrânia será definitivo

Na avaliação de João Beck, economista e sócio da BRA, o comunicado foi bastante duro, ao citar a guerra na Ucrânia como um peso relevante para o balanço de riscos e apontar para um cenário ainda mais contracionista. “O mercado esperava cautela diante de incertezas que o próprio evento traz, mas o comunicado foi enfático e ainda citou o efeito defasado que a alta recente das commodities pode impactar nos núcleos”, afirmou.

Em um cenário de referência, as projeções para inflação do Copom subiram para 7,1% em 2022 e 3,4% em 2023. Porém, diante da volatilidade dos preços de commodities, sobretudo dos combustíveis, o Comitê adotou um cenário alternativo, em que preço do barril do petróleo terminaria o ano em US$ 100 e passaria a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Para esse cenário, as projeções de inflação do Copom ficam em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.

“A politica monetária começa a ser feita pensando no ano que vem e, se ano que vem, a projeção está fora do centro da meta, realmente preocupa”, afirmou Helena Veronese, economista-chefe da Azimut Wealth, em live do InfoMoney, após a decisão do Copom.

Na mesma conversa, Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, disse acreditar que o Copom não fez um ajuste mais alto da Selic agora para avaliar se o cenário conflituoso se resolve, podendo resultar em uma acomodação das commodities.

“Errar a mão agora teria custo muito alto em termos de atividade econômica”, afirmou Alessandra. Apesar da mudança no plano de voo, ao sinalizar alta de 1 ponto na próxima reunião, a economista não acredita que o Copom vá elevar a Selic a patamares muito mais altos. “Pode ser que ele preze por um ajuste um pouco mais rápido e não tão gradual como o mercado esperava”, disse.

Para Helena Veronese, é difícil imaginar que o clico de aperto monetário terminaria com uma alta de 1 ponto percentual. “Se o cenário melhorar, a alta seguinte vai ser menor, mas vai ser uma alta ainda. Política monetária é a grande dúvida do  mercado hoje”, conclui.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados