Dólar em queda, DIs pressionados: como o mercado deve reagir aos sinais do Copom

Mudança de projeções sobre ritmo de corte de juros em 0,5 ponto de "próximas reuniões" para "próxima reunião" é o foco do mercado

Lara Rizério

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A “super quarta”, com a decisão do Fomc e do Copom, chegou ao fim, mas os efeitos no mercado devem perdurar. Se, durante a tarde, as indicações do Federal Reserve, banco central americano, animaram, o comunicado considerado mais “hawkish” (duro) do Copom do BC brasileiro após o fechamento de mercado deve impactar principalmente o mercado de dólar e juros na sessão da próxima quinta-feira (21).

Nesta quarta pré-Copom, cabe lembrar, o Ibovespa fechou em alta de mais de 1%, acima dos 129 mil pontos, o dólar caiu mais de 1% e os juros futuros tiveram uma sessão de alívio com o mercado repercutindo a decisão.

Os juros básicos nos EUA foram mantidos, como esperado, mas o mercado se animou após projeções de autoridades do banco central dos Estados Unidos continuarem apontando para três cortes de 0,25 ponto percentual em 2024 na taxa de juros da maior economia do mundo este ano. Isso apesar do progresso mais difícil do que o esperado em direção à meta de inflação.

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Além disso, a tradicional coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, também foi considerada “dovish”. Ele apontou que mesmo com a força inesperada dos dados inflacionários recentes nos EUA, sua perspectiva para as pressões sobre os preços é relativamente estável.

No Brasil, a decisão de juros também foi em linha com o esperado, com queda de 0,5 ponto percentual na Selic, para 10,75%. Porém, houve novidades, notoriamente no comunicado.

O BC encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê cortes na mesma intensidade (ou seja, queda de 0,5 ponto) apenas na próxima reunião, ante comunicação anterior de “próximas reuniões”, encurtando assim as projeções dos próximos encontros e deixando o cenário mais aberto sobre o ritmo de cortes.

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O comunicado do Comitê ainda apresentou uma visão mais dura, segundo analistas, no ponto em que afirma que as medidas de inflação subjacente, que descartam itens com preços mais voláteis, passaram a se situar recentemente acima da meta de inflação. “Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”, informou o Copom no comunicado.

Alguns economistas já vinham defendendo uma flexibilização do “plural para o singular” dessa orientação para dar mais liberdade à condução da política monetária.

“O BC nota que há mais incerteza no cenário externo, com a possibilidade de juros mais altos nos países desenvolvidos, e, no cenário local, há uma dinâmica ainda pressionada da inflação subjacente. O tom cauteloso se traduz em uma postura também mais cautelosa na comunicação das decisões futuras do Copom. Agora, o BC opta por mais graus de liberdade, e sinaliza ações apenas para a próxima reunião. (…) As mudanças do comunicado devem ser lidas pelos investidores como uma postura hawkish [dura, mostrando preocupação com inflação] da autoridade monetária, já que boa parte deles esperava que a sinalização para múltiplas reuniões permanecesse no texto”, avalia Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.

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Para Natalie Victal, economista chefe da SulAmerica Investimentos, o aumento da incerteza, em particular, inflação subjacente acima da meta aparecem como motivador da revisão. “Nos parece um BC cauteloso dado o comportamento recente da inflação, e que não quis continuar a se comprometer pra horizontes mais longos. Ou seja, hawk“, reforça, ressaltando que aumentaram o viés altista para a Selic terminal (ao fim do ciclo) de 9%, que já tinha, apontando que a ata deve trazer informações adicionais.

Mayara Rodrigues. analista de renda fixa da XP, ressalta que, com essas indicações, o mercado de juros, que teve alívio com queda nas taxas na sessão desta quarta junto com o Fomc, deve ter uma reversão na próxima sessão. “Os juros mais curtos podem precificar com uma maior intensidade uma política monetária mais restritiva, já que foi dado esse tom. Nos vértices intermediários o movimento deve ser menor, com os juros devendo ganhar inclinação”, avalia a analista.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, aponta que, diante da decisão de política monetária e da sinalização futura, a casa segue com a expectativa de cortes sucessivos de 50 pontos ao longo do ciclo e de taxa de Selic terminal em 8,50% a.a. “O mercado, no entanto, tende a reverberar de forma intensa a retirada da sinalização para prazos mais longos e os juros devem abrir em alta no pregão desta quinta-feira”, avalia.

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Além da pressão dos DIs para cima nos vencimentos mais curtos, que podem afetar as ações das empresas do setor de varejo e consumo na Bolsa (que tiveram forte ânimo na sessão de quarta após o Fomc), a sinalização do BC pode levar a um movimento de apreciação do real em relação ao dólar. Isso porque um juro mais alto no Brasil em relação aos EUA leva a uma atração maior de capital no curto prazo para o país por conta do carry trade (em que investidores profissionais buscam obter lucros com base na diferença entre a taxa de juros de dois países), o que pode fazer o real subir.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.