Credit se une a outros bancos ao diminuir exposição ao Brasil – e destaca 2 motivos para não reduzir ainda mais

Política, cenário fiscal e impacto do Covid-19 levaram à redução de exposição, mas estrategistas ainda veem valuation barato no país e real desvalorizado

Equipe InfoMoney

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Em linha com o que grandes instituições internacionais têm feito, o Credit Suisse reduziu a sua exposição às ações do Brasil de overweight (exposição acima da média do mercado) para benchmark (ou em linha, equivalente à recomendação neutra), enquanto o México foi elevado para overweight.

Entre os motivos para a redução da exposição em Brasil, estão as preocupações políticas, o cenário fiscal e o impacto do Covid-19 na atividade econômica.

Em relação ao primeiro ponto, os estrategistas destacam que o principal catalisador para a redução nas perspectivas de preço sobre o lucro foi a percepção de piora de governança corporativa das empresas com a substituição de Roberto Castello Branco pelo ex-general Joaquim Luna e Silva na presidência da Petrobras (PETR3;PETR4), seguido pela fala do presidente Bolsonaro de que o estado controlava as empresas, sendo que estas devem “contemplar as questões sociais”. 

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Os estrategistas também ressaltam que, recentemente, o ex-presidente Lula teve suas condenações anuladas na Justiça, potencialmente abrindo um caminho para concorrer com Jair Bolsonaro em 2022 (ainda que o recurso da Procuradoria Geral da República possa ainda resultar na anulação desta decisão).

“Se Lula concorrer e vencer, provavelmente atrasaria a agenda política mais liberal no Brasil, e mesmo que não ganhe, achamos que sua presença no espaço eleitoral poderia colocar Bolsonaro para mais distante da ortodoxia fiscal”, avaliam.

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Eles ainda ressaltam que, com o manejo incorreto da crise do Covid-19 –  pesquisa Datafolha de 16 de março constatou que 54% dos brasileiros desaprovaram a forma como ele lidou com a crise -, Bolsonaro pode ser bastante pressionado pela esquerda.

Sobre o quadro fiscal, os estrategistas apontam que o Brasil apresenta crescimento real do PIB (alta entre 0,2% entre 2010 e 2019) abaixo do rendimento real dos títulos (3,5%, em referência aos rendimentos de 10 anos protegidos pela inflação no Brasil), bem como uma dívida muito mais alta frente os outros emergentes. Além disso, o Brasil também gastou mais do que qualquer outro grande país emergente em programas emergenciais. Se, por um lado, isso trouxe um alívio para a atividade econômica, também resultou em um déficit fiscal maior.

O terceiro e último ponto é que o Brasil está em um dos piores momentos com aumento nas taxas de infecções da pandemia de coronavírus atualmente (com novos casos e mortes em picos históricos).

Com o caos dos casos ainda crescentes de Covid-19 com uma deterioração da revisão de lucros, os estrategistas destacaram duas razões para não terem levado o Brasil a um patamar ainda mais baixo, underweight (exposição abaixo da média do mercado).

O primeiro, pelo valuation da moeda brasileira, o real, que ainda parece muito barato em relação à participação no mercado de exportação ou ao balanço de pagamentos. Além disso, a relação preço sobre lucro das empresas da Bolsa ainda parece barata em relação ao resto do mundo, tanto excluindo as ações de commodities como do mercado como um todo.

Por outro lado, o México teve a sua exposição elevada no portfólio uma vez que o peso mexicano ainda parece barato; os estrategistas também destacam que as ações mexicanas ficaram mais baratas em relação a outros mercados emergentes. Além disso, oferece exposição alavancada ao crescimento da economia dos EUA e ao petróleo.  Por fim, o México é um dos poucos países a sair da crise com uma boa posição fiscal.

Essa avaliação está em linha com a de outros estrategistas, que vêm mudando suas posições na América Latina. Além da perspectiva de exportações crescentes e remessas impulsionadas pelas medidas de estímulo nos EUA, o México executou um dos orçamentos mais austeros do mundo durante a crise da Covid-19.

“O México está em melhor posição para um desempenho superior” na região, disse Emy Shayo, estrategista de ações para América Latina do JPMorgan, em relatório nesta semana. Ela elevou as ações do México para overweight (recomendação acima da média), citando a forte posição fiscal do país e a expectativa de crescimento mais forte dos EUA. O Brasil foi rebaixado para neutro após cerca de quatro anos de recomendação overweight.

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JPMorgan reduz exposição ao Brasil de overweight para neutro em seu portfólio na América Latina; México é elevado

O Ibovespa acumulava uma queda de 3,5% em 2021 até a última sexta-feira (19), enquanto o índice Mexbol subiu 6,4% em moeda local no mesmo período. A bolsa brasileira vinha registrando desempenho anual mais forte em relação ao seu par regional desde 2016. Enquanto as mortes por coronavírus no Brasil estão em patamar recorde, os casos têm desacelerado no México, que busca superar a pior recessão em cerca de um século.

O apetite pelo  Brasil também foi impactado pela inflação em alta e maior ceticismo em relação às reformas prometidas pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua campanha eleitoral.

“O forte crescimento nos EUA provavelmente beneficiará o México, que também gastou menos do que seus pares emergentes em meio à pandemia”, disse Will Pruett, gestor que administra cerca de US$ 7,4 bilhões na Fidelity Investments, incluindo cerca de US$ 400 milhões no Fidelity Latin America Fund. Pruett está ligeiramente overweight no México e neutro no Brasil.

Risco político

Um risco para a visão otimista sobre o México pode ser um cenário político mais confuso à frente, segundo Emy Shayo. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o partido governante Morena enfrentarão um grande teste nas eleições legislativas no início de junho.

Neste mês, o sentimento em relação ao México e ao Chile continuou a melhorar, enquanto os investidores reduziram suas expectativas em relação aos ativos brasileiros, segundo pesquisa do BofA com gestores de fundos latino-americanos que administram cerca de US$ 86 bilhões. Cerca de 48% deles esperam que as ações superem o desempenho de outras classes de ativos no México nos próximos seis meses, acima da média histórica da pesquisa.

Pablo Riveroll, chefe de renda variável para a América Latina na Schroders em Londres, tem aumentado a exposição ao México, mas sem usar as ações brasileiras como ‘funding’. “No Brasil, esta pode ser a última chance que temos de comprar beneficiários da reabertura da economia como varejistas e shoppings, alguns dos quais estão com preços muito deprimidos”, disse.

(com Bloomberg)

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