Copom deixa porta aberta para continuar subindo juros e mercado se divide sobre até onde a Selic vai

Autoridade monetária sinaliza com mais uma elevação em junho, mas não indicou desfecho para o ciclo de aperto monetário

Mitchel Diniz

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O desejo de encerrar o ciclo de aperto monetário em maio chegou a ser expressado de forma enfática pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Mas a mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom), no comunicado que acompanhou sua última decisão, frustrou essa expectativa, apontando para uma nova alta da Selic em um próximo encontro. Ou seriam novas altas?

“A comunicação tentou se desamarrar de um compromisso com uma taxa a frente e se amarrar com um compromisso de trazer a inflação de volta à meta e garantir ancoragem de expectativas ao redor da meta”, afirmou Mariana Dreux, gestora da Truxt Investimentos, durante live do InfoMoney.

A decisão da reunião, em si, não surpreendeu, justamente porque cumpriu com o que havia sinalizado no encontro anterior. O Copom elevou os juros básicos da economia em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, a maior taxa em mais de cinco anos. Algumas casas acreditavam que o ajuste desta reunião de maio seria o último e até previam uma redução de juros ainda 2022.

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“Por tudo o que está sendo expressado pelo Copom, por todo o cenário externo e interno, não vejo essa possibilidade muito prática para o BC este ano”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

No texto do comunicado que acompanhou a decisão, o Copom afirmou que o ambiente externo seguiu se deteriorando e as pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram, com uma nova onda de Covid-19 na China. A elevação de juros em economias desenvolvidas aumentam as incertezas e geram volatilidade adicional para os países emergentes.

“A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente”, diz o texto. Com essa justificativa, a autoridade monetária apontou para um novo ajuste, em menor magnitude, na próxima reunião do Comitê, marcada para os dias 14 e 15 de junho.

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“O tom do Copom foi até mais hawkish que o mercado esperava. Ele não sinalizou ajustes apenas na próxima reunião, deixou as portas para ir além, ao dizer que o Comitê vai perseverar em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem de expectativa em torno de suas metas”, afirma Cruz. Ele aposta em uma alta de 0,5 ponto em junho, com chances de encerrar o ciclo de aperto monetário em 13,25%. “Mas é preciso observar a ata da reunião, para ver se há o risco de ir além”.

Mercado dividido após decisão

A XP não esperava que as altas da Selic terminassem agora e apostava numa taxa de 13,75% ao final do ciclo de aperto, projeção que, por enquanto, foi mantida. Caio Megale, economista-chefe da casa, acredita que poderá haver mais dois ajustes de 0,5 ponto ou até mesmo uma outra alta de 1 ponto percentual na próxima reunião.

“A atividade econômica está até mais forte do que se imaginava, então existe demanda final para se repassar preços, já que os custos de produção continuam em alta. A projeção da XP para inflação este ano é de alta de 7,40%, mas vemos riscos de chegar até 9% facilmente”, afirma Megale. As projeções de inflação do Copom, atualmente, situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023.

Os cenários do Copom têm sido bem mais otimistas do que os traçados pelo BNP Paribas. O banco espera 10% de inflação para 2022 e 5% para inflação de 2023. “Olhando para nossa persistência de inflação um pouco maior, acreditamos que o BC vai ter que fazer um pouco mais do que o comunicado mostrou”, afirma Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP.

Já Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, observa que, no comunicado, o BC não avaliou o balanço de riscos como altista. “Desta vez, preferiram ressaltar a volatilidade do balanço, indicando que podemos estar próximos do final do ciclo”, afirma. A Rio Bravo prevê que o Copom faça um último ajuste na Selic, na reunião de junho, elevando à taxa para 13,25%.

Essa também é a aposta da Necton e da Kínitro Capital. “A questão se centra na dinâmica inflacionária; se de fato a inflação no Brasil começar a recuar em 12 meses, já em maio teremos uma boa chance da curva de juros por aqui recuar”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton.

“Ainda existe uma chance desse incremento adicional de juros não acontecer na reunião de junho, caso ocorra uma surpresa para baixo de inflação. Mas acreditamos que esse cenário detém menor probabilidade”, afirma Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital.

Carla Argenta, da CM Capital, acredita que o Brasil terá uma taxa de juros acima de 13% daqui a 45 dias, quando o Copom se reunir novamente. A depender do desenrolar do cenário internacional, os ajustes podem não parar por aí.

“Vale lembrar que essa taxa de juros não tem mais impacto sobre a inflação de 2022, ela está mirando na inflação de 2023. Para o BC esse controle é extremamente necessário, uma vez que a inflação de 2021 já ficou muito acima do limite superior da meta e o mesmo deve acontecer em 2022. É importante para que a instituição mantenha a sua credibilidade”, conclui.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados