Como as fortes chuvas em Minas Gerais impactam ações de mineradoras e siderúrgicas?

Vale, Usiminas e CSN são algumas das companhias que anunciaram suspensão de operações por conta dos temporais

Mitchel Diniz

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Com as fortes chuvas que arrasaram Minas Gerais nos últimos dias, investidores acordaram nesta segunda-feira (10) com a notícia de que diversas empresas suspenderam suas operações no Estado em função dos temporais. As atenções se voltaram, principalmente, à Vale (VALE3), às vésperas do aniversário da tragédia de Brumadinho, que completará três anos no próximo dia 25.

A empresa comunicou que paralisou parcialmente a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e produção dos Sistemas Sudeste e Sul em razão do nível elevado de chuvas que atingem Minas Gerais. A Vale diz que está tomando todas as medidas necessárias para a retomada das atividades. O Sistema Norte segue operando conforme o plano de produção.

Apesar das adversidades climáticas, a Vale informou que o Sistema Norte continua operando em linha com seu plano de produção e reiterou o guidance de 2022 entre 320 milhões e 335 milhões de toneladas.

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Por enquanto, os analistas também não mudaram as estimativas de produção para mineradora e ainda veem pouco impacto do episódio sobre as ações da companhia. No entanto, avisam que tudo vai depender da continuidade das chuvas e do risco de novos incidentes.

“Acho que os papéis vão sofrer somente se o efeito for duradouro ou se houver outra complicação, como o rompimento de alguma barragem. Esse é o principal risco”, afirma João Lorenzi, analista de commodities da Encore Asset. Para ele, a situação é aparentemente controlável, com paradas previstas para duas ou no máximo três semanas. “Ainda não sabemos o impacto em volume de cada uma”, observa Lorenzi.

O Morgan Stanley afirma que os sistemas paralisados em decorrência das chuvas correspondem a 41% da produção da Vale, que o banco estima em 330 milhões de toneladas para 2022. Desse total, 71 milhões de toneladas estão previstas para o primeiro trimestre deste ano, pelos cálculos da equipe de análise – um aumento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.

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Por enquanto, o Morgan Stanley mantém a previsão de produção em 2,45 milhões de toneladas para sistemas Sul e Sudeste da Vale, 10% a mais que o primeiro trimestre de 2021. “Embora nossas estimativas de produção levem em consideração a sazonalidade histórica do primeiro trimestre, ainda é o início da estação chuvosa do país e continuaremos monitorando a situação de perto”, escreveram os analistas.

O Itaú BBA afirmou que, segundo cálculos preliminares, uma para de duas semanas nas operações na Vale poderia ter impacto de 3 milhões de toneladas de minério-de-ferro, o que representa menos de 1% do guidance da empresa. Os analistas explicam que o primeiro trimestre é sazonalmente mais fraco em produção por conta das chuvas fortes habituais.

“Embora a Vale não tenha alterado seu guidance de produção de 320-335 toneladas métricas para 2022, acreditamos que o mercado poderia começar a projetar volumes mais próximos do limite inferior da faixa”, diz o relatório do BBA.

Ainda de acordo com o texto, incertezas sobre a retomada das atividades poderiam dar suporte ao preço do minério-de-ferro em patamares elevados, diante da expectativa de retomada da construção civil na China (responsável por 35% do consumo de aço no país) com medidas de estímulo anunciadas recentemente pelo governo.

Os analistas do Morgan Stanley também avaliam que a incerteza no fornecimento de minério é um gatilho de alta para os preços da matéria-prima na próxima semana. O potencial de interrupção pode, eventualmente, desinchar os estoques nos portos chineses, que têm um volume significativo de minério de origem brasileira no momento.

A equipe de análise do Morgan calcula que uma redução de 30 milhões de toneladas no volume de vendas de minério de ferro implicaria em uma alta de US$ 5 na cotação da matéria-prima. A média de preço, portanto, ficaria em US$ 100 para o ano, com o minério a US$ 95 por tonelada no primeiro trimestre e US$ 115 no segundo trimestre.

O Bradesco BBI também prevê preço-médio de US$ 100 para a tonelada do minério de 2022, mas acredita que a cotação fique em US$ 110 no primeiro trimestre do ano, com viés de alta, dependendo de dirsrupções relacionadas ao clima.

Lorenzi, da Encore, não acredita que as chuvas em Minas Gerais tenham efeito muito grande sob os preços do minério por agora. “O que estamos vendo é uma performance muito melhor dos papéis de commodities em relação aos de outros empresas em um movimento de rotation [mudança de ativos de uma carteira] para empresas com esse perfil”, explica o analista.

De acordo com Lorenzi, isso acontece porque os investidores estão saindo de empresas cujos retornos de investimento demoram mais para serem capturados, já que os juros nos Estados Unidos devem subir este ano. “Isso está guiando muito mais a performance recente do setor que qualquer outra coisa”, conclui o analista.

Incidente na Vallourec pode impactar setor

Relatório da XP assinado por Andre Vidal, Victor Burke e Thales Carmo destacam o transbordamento do Dique Lisa, da francesa Vallourec, utilizado para contenção de água na região da Mina de Pau Branco, em Nova Lima. A empresa informou que não houve rompimento da barragem nem vítimas fatais em função da ocorrência.

A pedido do Ministério Público, a Justiça de Minas Gerais suspendeu as atividades na Mina da Pau Branco. O governador do Estado, Romeu Zema (Novo), afirmou em entrevista que a Vallourec será  multada em R$ 1 milhão por dia até que a situação seja normalizada.

Para os analistas da XP, o episódio com a Vallourec pode ter reflexos em outras empresas do segmento. “Vemos a notícia como potencialmente negativa para todo o setor, já que pode resultar em novas regulamentações que derivem em suspensões de operações existentes ou atrasos em novos projetos”, afirmam os analistas da XP.

Siderúrgicas também suspenderam operações

Por enquanto, o Morgan Stanley mantém suas estimativas de produção de minério-de-ferro pelas siderúrgicas, apesar de algumas terem anunciado interrupções em função das chuvas.

A CSN Mineração (CMIN3) e a CSN (CSNA3) decidiram suspender temporariamente as operações de extração e movimentação na mina Casa de Pedra. A expectativa é de retorno das atividades nos próximos dias, segundo comunicado. A operação portuária de carregamento de minério no Terminal de Carvão – Tecar no porto de Itaguaí (RJ) também está suspensa em virtude do alto grau de umidade no local.

“Estimamos a produção de minério de ferro da CMIN [CSN Mineração] em 39 milhões de toneladas – incluindo 8 milhões de toneladas em compras de terceiros – em 2022, com 9,75 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2022, alta de 18% em relação ao primeiro trimestre de 2021”, diz o relatório do Morgan.

A Usiminas (USIM5) também anunciou a suspensão de operações em sua controlada, a Mineração Usiminas (Musa). A empresa, contudo, afirmou que a paralisação não afetará o fornecimento de minério para as operações de aço da Usiminas, já que a Musa fornecerá a partir dos estoques.

“Estimamos a produção de minério de ferro da Musa em 2022 em 9 milhões de toneladas, com 2 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2022”, escreveram os analistas do Morgan Stanley.

A equipe de análise do banco também ressaltou que as chuvas também podem impactar negativamente as operações de mineração da Gerdau. “De qualquer forma, o minério de ferro contribui muito menos para os negócios da Gerdau (GGBR4) do que as demais empresas”, diz o relatório.

O Bradesco BBI mantém recomendação outperform (acima do desempenho do mercado) para ações da Vale, Usiminas, CSN e CSN Mineração.

VALE3 recuou 1,19%, a R$ 83; CSNA3 caiu 3,32% (R$ 24,92) e USIM5 avançou 4,77% (R$ 15,38), entre as maiores altas do dia; CMIN3 subiu 0,14% (R$ 6,99) e GGBR4 subiu 0,55% (R$ 27,58).

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados