Casa Branca e republicanos chegam a acordo provisório para evitar calote nos EUA

A Casa Branca e os negociadores republicanos chegaram a um acordo provisório no final deste sábado (27) para elevar o teto da dívida dos EUA e evitar um calote que ameaçava abalar a economia global.

O presidente Joe Biden e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, que selaram o acordo durante um telefonema de 90 minutos, agora devem conduzir a estrutura do acordo até a aprovação legislativa final, apesar das objeções de radicais de ambos os partidos.

McCarthy disse que conversará com Biden novamente neste domingo e alinhará o projeto de lei para votação na quarta-feira.

“Ainda temos muito trabalho a fazer, mas acredito que este é um acordo de princípio, que é digno do povo americano”, disse McCarthy, a repórteres no Capitólio.

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Há pouca margem para erro, com a secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertando que uma extensão deve ser finalizada até 5 de junho, para evitar um calote histórico que faria disparar os custos dos empréstimos.

O acordo – alcançado após semanas de discussões amargas – inclui apropriações de dois anos para manter os gastos não relacionados à defesa praticamente estáveis ​​com os níveis atuais, disse uma pessoa familiarizada com o acordo, falando sob condição de anonimato.

Também suspende o limite da dívida até janeiro de 2025 – após a próxima eleição presidencial. Algumas pessoas familiarizadas com a estrutura disseram que ela voltaria em 1º de janeiro, enquanto outras disseram que a data precisa pode depender do texto do projeto de lei, que ainda está sendo discutido.

De qualquer forma, configura um cenário em 2025 semelhante a este ano, quando o Departamento do Tesouro começou a empregar medidas extraordinárias em janeiro para evitar um calote.

Economistas disseram que mesmo um curto default pode levar à perda de centenas de milhares de empregos. Em 24 de maio, a Fitch Ratings colocou a classificação de crédito AAA dos EUA sob vigilância, em um movimento que refletia as crescentes preocupações de que os EUA iriam ultrapassar o limite.

Mercados financeiros

O pacto provavelmente ajudará a reduzir as tensões recentes nos mercados financeiros, onde os investidores exigiam rendimentos mais altos em títulos que serão pagos em breve.

As taxas dos instrumentos com vencimento no início de junho chegaram a 7% em alguns momentos. Os swaps de inadimplência de crédito, derivativos que permitem aos investidores fazer seguro contra o não pagamento, também mostraram preocupação elevada, com preços bem acima dos níveis observados em um debate anterior sobre limites de dívida em 2011.

Ainda assim, a atenção dos investidores pode se voltar para outros riscos. O Tesouro agora provavelmente tentará reabastecer seu saldo de caixa  – quinta-feira passada, ele caiu para menos de US$ 39 bilhões, nível mais baixo desde 2017.

O dilúvio resultante de vendas de notas provavelmente sugará uma quantidade significativa de liquidez dos mercados, aumentando a pressão em um momento em que o Federal Reserve vem elevando as taxas de juros e encolhendo seu balanço patrimonial.

Mais detalhes

Embora o acordo não crie requisitos de trabalho para os beneficiários do Medicaid, ele estabelece limites de tempo para o programa de assistência alimentar conhecido como SNAP até 54 anos, uma medida que os republicanos da Câmara pressionaram. Esses seriam eliminados gradualmente até 2030, no entanto.

Além disso, o acordo cria um mecanismo para forçar o Congresso a concluir os projetos de lei de dotações anuais para 2024. Ele imporia um corte geral de 1% se os projetos não fossem aprovados. Isso encoraja os republicanos que abririam mão dos aumentos de defesa no acordo de caps a chegarem a um acordo, diminuindo as chances de uma paralisação do governo em 1º de outubro.

A reação inicial dos economistas, sem conhecer todos os detalhes do acordo divulgado, indicava pouca expectativa de que a retração nos gastos do governo teria um impacto desproporcional na economia como um todo.

Michael Feroli, economista-chefe do JPMorgan Chase, disse em um e-mail que o acordo não mudaria substancialmente a perspectiva que ele divulgou na semana passada, quando a Casa Branca e os legisladores republicanos se aproximaram de um acordo.

Em nota aos clientes em 24 de maio, Feroli sugeriu que um limite para os gastos federais fora da defesa até o ano fiscal de 2024 teria um impacto modesto no crescimento e poderia ser compensado se o Fed respondesse com uma abordagem um pouco menos agressiva em sua busca para desacelerar a economia e domar a inflação com taxas de juros mais altas.

Impacto político

Embora as negociações tensas coloquem o país no limite, o acordo pode fortalecer politicamente Biden e McCarthy, desde que obtenha apoio suficiente no Capitólio.

Para McCarthy, o ceticismo de que ele seria capaz de negociar um acordo devido à sua escassa vantagem na Câmara paira sobre a presidência que ele conquistou em um segundo turno de 15 votos no início deste ano. McCarthy seguiu contatos com outros republicanos da Câmara no final de semana, em Washington.

O acordo, no entanto, também pode provocar uma tentativa de um punhado de legisladores conservadores de convocar uma votação para derrubá-lo.

De olho na reeleição

O presidente Biden, com o acordo, evita a maior ameaça à recuperação econômica pós-pandemia, enquanto busca um segundo mandato. No entanto, ao atender algumas demandas do Partido Republicano também corre o risco de alienar os progressistas, em meio à tentativa de impulsionar sua campanha de reeleição.

O acordo recuperaria o financiamento para agentes do Internal Revenue Service e aceleraria algumas análises ambientais de projetos de energia, de acordo com um resumo do GOP.

O resumo dizia que os gastos domésticos em 2024 seriam reduzidos para os níveis fiscais de 2022. A versão diferente da visão da Casa Branca provavelmente se deve a truques contábeis.

Em termos de financiamento do Covid-19, a Casa Branca protegeu dinheiro para vacinas de última geração, financiamento de assistência médica a veteranos, financiamento de vale-moradia e serviço de “saúde indiano”, de acordo com uma pessoa familiar.

“O acordo representa um compromisso, o que significa que nem todos conseguem o que querem”, disse Biden em comunicado.

A diretora de orçamento da Casa Branca Shalanda Young, o conselheiro sênior Steve Ricchetti e a diretora de assuntos legislativos Louisa Terrell elaboraram o acordo com Garret Graves, um republicano da Louisiana, Patrick McHenry, um republicano da Carolina do Norte, e o chefe de gabinete de McCarthy, Dan Meyer.

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