Braskem já pagou cerca de R$ 9,5 bi em indenizações em Maceió e contribui com CPI

Plano de recuperação em Maceió devido a problema no solo soma R$ 15,5 bi em provisionamentos; ou seja, valores reservados para as indenizações

Augusto Diniz

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A Braskem (BRKM5) realizou teleconferência de resultados do 4T23 para a imprensa, mas a apresentação serviu mais como um balanço de dois problemas que tem abalado a companhia: o persistente ciclo de baixa do setor petroquímico e o afundamento do solo em Maceió (AL) provocado por uma mina desativada da empresa, que teve agravamento no final do ano passado, levando a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado.

A Braskem afirma que a área de risco já está 100% desocupado. De acordo com a companhia, 96% das propostas de realocação já foram aceitas e 95% pagas. “O índice de aceitação geral é de 99,4% – então, entre todas as propostas, a gente já tem resposta definitiva de 99,4%. Um altíssimo índice de aceitação”, disse o diretor financeiro da companhia, Pedro Freitas.

Dos R$ 15,5 bilhões provisionados, R$ 9,5 bilhões já foram desembolsados, informou a empresa. Esse total subiu cerca de R$ 1 bilhão depois que parte da mina colapsou em dezembro do ano passado e foi o gatilho para criação de da CPI da Braskem no Senado.

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Freitas disse que o provisionamento remanescente de mais de R$ 5 bilhões, metade será desembolsado em 2024 e outra metade ao longo do plano de ações pelos próximos anos.

O fechamento total da mina no subsolo de Maceió vai até 2026 e o plano ambiental, a conclusão é em 2028. “Sobre a CPI, a Braskem vem se posicionando para contribuir com a comissão”, sintetizou ao dizer da questão o CFO.

Balanço da Braskem e alta das ações

No balanço do quarto trimestre, a Braskem (BRKM5) reportou prejuízo de R$ 1,575 bi no 4º trimestre, baixa anual de 8%. Segundo a empresa, o resultado foi impulsionado pela priorização de vendas com maior valor agregado e otimização do mix de vendas.

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Por volta das 13h35, as ações da Braskem subiam 3,24%, cotadas a R$ 22,61. Em março, o papel avança 7,4% e no ano sobe 3,4%. Em doze meses, porém, valoriza-se quase 20%.

Segundo Freitas, a desaceleração econômica global, principalmente na China, acertou em cheio os negócios da petroquímica. A entrada em operação de novas capacidades, principalmente na China e nos Estados Unidos, foi outro fator que influiu negativamente na empresa e no setor.

“Um aumento de oferta, uma demanda que não acompanha, leva uma redução de spreads”, explicou sobre o que ocorre no mercado. Em 2023, o desbalanceamento global do mercado resultou em spreads internacionais que atingiram suas mínimas históricas.

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“Do ponto de vista da Braskem, o que a gente vem fazendo é uma revisão operacional de diversas áreas: estratégia comercial, matéria-prima, priorização de vendas de maior valor agregado”, complementa.

O CFO acrescentou que a empresa tem priorizado a operação de ativos mais competitivos, como é o caso da planta no México.

Recuperação lenta

“Com relação à recuperação de ciclo, o que a gente tem para 2024 é uma perspectiva de melhora, mas ainda num patamar abaixo da média de um ciclo”, comentou.

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“A gente está vendo um primeiro trimestre de 2024 uma melhora dos spreads, mas é uma recuperação lenta em função da dinâmica de oferta e demanda”, acrescentou.
De acordo ainda com Freitas, vê-se uma recomposição de estoque na cadeia no mundo inteiro com relação aos produtos petroquímicos.

“Também houve uma série de disrupções logísticas, como no canal do Panamá e a situação no mar vermelho, que acabou aumentando alguns custos logísticos e isso reflete em melhora de spreads. Então, a gente está vendo uma certa recuperação, mas não é uma volta para o ciclo de alta”, afirmou.

Brasil deve crescer 7% em resinas

Para ele, 2024 é um ano de recuperação gradual: “A gente não espera um salto de um trimestre para outro”. O executivo espera no Brasil crescimento de 7% no mercado somando as três resinas que produz: polietileno, polipropileno e PVC.

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No mundo, o executivo vê o polietileno com um novo ciclo de alta somente em 2027. Para o polipropileno, com aumento da capacidade global, com oferta maior que a demanda, espera-se uma retração esse ano e uma recuperação a partir de 2025. Para o PVC, a expectativa é de estabilidade esse ano.

Análise do balanço

Para os analistas da XP, como o 4T23 continuou sendo um período difícil para o setor petroquímico, “consideramos positivo confirmar a ligeira melhora em alguns níveis de preços e spreads, ao mesmo tempo em que vemos a Braskem explorando algumas das vantagens competitivas de seus ativos.”

No entanto, acrescentam os especialistas, ainda “é muito cedo para interpretar isto como uma reviravolta estrutural para o setor em 2024.”

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Além do ciclo de preços do setor petroquímico, os analistas pontuam que o preço das ações vai acompanhar a evolução das negociações entre os controladores da empresa, sobre uma eventual venda.

Há rumores ainda sobre uma possível indicação do ex-ministro Guido Mantega a um cargo no conselho de administração da companhia.