Bradesco (BBDC4) “vira o jogo” e ação fecha com salto de 5% após resultado; confira os pontos que animaram o mercado

Recuperação em seguros, índice de cobertura acima dos pares e sinalizações positivas na tele foram fatores positivos após um trimestre anterior difícil

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após um segundo trimestre bastante decepcionante para o Bradesco (BBDC3BBDC4), que viu suas ações caírem forte depois do resultado do período, o balanço do segundo maior banco privado do país mostrou uma forte recuperação da instituição, também refletida em seu balanço.

Após a divulgação dos números do terceiro trimestre de 2021, em que registrou um lucro líquido recorrente de R$ 6,767 bilhões, alta de 34,5% na comparação anual, as ações chegaram a subir 7%, também em um dia de maior ânimo para o mercado como um todo. Os ativos BBDC4 fecharam com salto de 4,93%, a R$ 19,99.

Além disso, o que tinha sido o ponto fraco no balanço no trimestre passado, o resultado da seguradora, acabou impulsionando os números da companhia neste trimestre. A XP ressaltou em relatório que o lucro ficou 8% acima das suas estimativas, principalmente suportado pelo resultado de seguros acima do esperado e menores despesas com provisões adicionais do Grupo Segurador e com provisões operacionais (cíveis e fiscais).

Análise de Ações com Warren Buffett

Já a margem financeira ficou em linha com as expectativas e também com o apresentado no segundo trimestre, em R$ 15,7 bilhões, beneficiado pela mudança de mix de crédito mais rentável com linhas de pessoa física. Na comparação anual, houve um crescimento de 2,7% devido a uma boa performance de margem com clientes.

Em seguros especificamente, o resultado do segmento cresceu 104% na base trimestral e 3% na base anual, para R$ 3,2 bilhões (25% acima das estimativas da XP), beneficiado pelo resultado financeiro devido ao comportamento dos índices econômico-financeiros, expandindo 107% na comparação trimestral e 204% na base anual.

Com o impacto da pandemia sobre a sinistralidade, o resultado de seguros havia despencado. E, apesar da recuperação neste trimestre, ele ainda segue pressionado pelo elevado índice de sinistralidade de 84%, que veio 9,5 pontos percentuais acima em relação ao ano anterior.

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Um outro ponto positivo que ganhou destaque no balanço foi em relação aos números de provisões para devedores duvidosos (PDD), que é sempre monitorado de perto pelos analistas de mercado.

As provisões para devedores duvidosos expandida (PDD), maior motivo para forte queda no lucro dos bancos em 2020, atingiu R$ 3,4 bilhões, representando uma queda de 3,7% em relação ao último trimestre e uma queda de 40% em relação ao terceiro trimestre. Já a inadimplência acima de 90 dias se manteve quando comparado com o trimestre passado, chegando a 2,6%.

Porém, conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, vale ressaltar que, mesmo com a redução do PDD, o índice de cobertura – que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes –   acima de 90 dias ainda ficou em quase 300%, patamar saudável para o banco, além de uma redução da despesa de PDD Expandida, refletindo a melhora nos processos de concessão de crédito e do mix de produção praticado.

A XP também ressalta esse ponto, avaliando que, embora o banco tenha consumido 28 pontos percentuais de índice de cobertura, o atual nível de 297% ainda é superior aos pares privados (250% do Santander e 234% do Itaú), enquanto o índice de inadimplência também cresceu em um ritmo inferior ao dos pares. Cabe ressaltar que, tanto para o Santander Brasil (SANB11) quanto para o Itaú (ITUB4), a forte queda no índice de cobertura foi destacado como um fator negativo para os balanços do terceiro trimestre.

Assim, a XP vê o Bradesco como o mais defendido contra um cenário macroeconômico mais desafiador que implicaria em maiores níveis de inadimplência.

Já com relação aos índices de rentabilidade, o spread ficou em linha com as expectativas e reduziu 11 pontos-base no trimestre e 16 pontos-base na comparação anual. No entanto, o forte resultado suportado pelo resultado operacional e pelo menor custo de crédito, refletiu um Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) de 18,4%, 153 pontos-base acima da estimativa da casa.

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Dado o reajuste salarial de 11% a partir de setembro, as despesas não decorrentes de juros aumentaram 7% na base anual e 5% na comparação trimestral, para R$ 10,7 bilhões. Porém, mesmo com essa alta, os analistas do Morgan Stanley destacaram o forte controle nesta linha do resultado da companhia.

Sinalizações positivas na tele

Em teleconferência, Octavio de Lazari, presidente executivo do banco, ainda destacou que o banco deve apresentar crescimento de dois dígitos em sua carteira de crédito em 2022, ainda que tenha um otimismo cauteloso em meio ao cenário mais desafiador para a economia no próximo ano. “Talvez não cresça os 16% deste ano, mas certamente será acima de dois dígitos”, apontou.

Ele afirmou que o banco está trabalhando com uma perspectiva de crescimento do PIB em 2022, embora muitos economistas privados tenham reduzido suas previsões para a atividade econômica no próximo ano, com alguns prevendo uma contração. Além disso, o maior otimismo com a carteira de crédito também vem de outros fatores como a alta da base de clientes.

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O CEO ainda apontou que os atuais níveis de provisão são mais do que suficientes para lidar com inadimplência e que ela está abaixo do nível pré-pandemia. “Estamos bem provisionados, e como a inadimplência está controlada é normal um consumo dessas provisões”, avalia, ressaltando que a inadimplência pode crescer em 2022, mas sem atingir os níveis históricos. Além disso, ressaltou que a inadimplência deve crescer mais para a pessoa física, sem ver “problema em empresas”.

Para o Credit Suisse, no geral, as sinalizações transmitidas foram positivas, como o crescimento de crédito de dois dígitos; crescimento de opex abaixo da inflação; qualidade saudável dos ativos (crescimento das provisões em linha com a carteira de crédito) e margem de clientes crescendo pelo menos em linha com a carteira de empréstimos.

Sobre a margem financeira, Lazari destacou que o crescimento em linhas de maior spread resultará em melhora nos próximos anos. O Bradesco, apontou o CEO, deve fechar o ano com a margem com cliente entre o meio e o topo das projeções, de 2% a 6%.

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Ele destacou ainda que as despesas operacionais devem fechar 2021 com queda de 1%, enquanto o guidance é de queda de 5% a queda de 1%.  Com relação a PDD, que para 2021 foi revisado na véspera de R$ 13 bilhões a R$ 16 bilhões, a projeção é de que feche entre o meio e a parte de menor volume das projeções.

A maior parte das casas de análise, segundo compilação Refinitiv, está otimista com a ação: de 17 casas que cobrem o papel BBDC4, 13 possuem recomendação de compra e 4 recomendam manutenção, com preço-alvo médio de R$ 29,03, ou alta de 52% em relação ao fechamento da véspera.

O Itaú BBA, contudo, que avaliou como positivos os resultados, destacando que o crescimento da carteira de crédito foi forte, com spreads ligeiramente melhores, mantém recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 25.

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A XP, por sua vez, mesmo destacando o Bradesco como o mais defendido no cenário macro mais desafiador, acredita que o pico da inadimplência ainda está por vir, reiterando assim  recomendação neutra e preço-alvo de R$ 26 por ação.

O Credit Suisse, por sua vez, manteve recomendação outperform (desempenho acima da média) para ações BBDC4 e preço-alvo de R$ 30,91, enquanto o Morgan Stanley seguiu com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para os ADRs (na prática, ações das empresas negociadas nos EUA), com preço-alvo de US$ 6,36.

Saiba mais sobre o resultado do Bradesco assistindo ao vídeo abaixo: 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.