Bradesco lucra 63% mais no 2º tri, a R$ 6,3 bi, mas ação fecha em queda de mais de 4%: o que não agradou?

Segmento de seguros impactou fortemente o resultado do banco, mas outras linhas também não foram bem recebidas pelos analistas e investidores

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Último dos chamados “bancões” privados a divulgar seu resultado do segundo trimestre de 2021, o Bradesco  (BBDC3BBDC4) teve  lucro líquido recorrente de R$ 6,319 bilhões no segundo trimestre de 2021, aumento de 63,2% ante o mesmo período do ano passado e queda de 3% na comparação com o primeiro trimestre deste ano.

O aumento do lucro ocorreu por diversos fatores, como maiores receitas com prestação de serviços, crescimento da margem financeira com clientes, menores despesas operacionais e menores despesas com provisões para devedores duvidosos.

Contudo, a sessão foi de forte baixa para as ações do banco, com a queda se intensificando na reta final. O papel BBDC4, mais líquido, fechou com queda de 4,36%, a R$ 23,45 na sessão desta quarta-feira (4),  na mínima do dia.

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Apesar da alta expressiva na comparação com o segundo trimestre de 2020, os dados ficaram abaixo do esperado. Segundo dados compilados pela Refinitiv, a expectativa média dos analistas para o lucro do Bradesco era de R$ 6,454 bilhões.

O maior impacto no balanço, contudo, ficou com o resultado de seguros. As operações de seguros, previdência e capitalização tiveram queda de 49,8% em relação ao primeiro trimestre de 2021 e de 58,3% ante o mesmo período no ano passado, representando R$ 1,57 bilhão. O segmento tinha perspectiva de 2% a 6%, mas após o resultado trimestral, a instituição financeira prevê uma variação entre queda de 15% a 20% para 2021.

O desempenho do segmento foi impactado pela elevação do índice de sinistralidade, que foi afetado pela frequência dos eventos relacionados à Covid-19, por conta do aumento da necessidade de assistência médico-hospitalar, diagnósticos, consultas, internações, eventuais consequências pós Covid-19, retomada dos procedimentos eletivos e indenizações nos produtos de “Vida”.

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O Itaú BBA destacou ainda que, além do resultado bem inferior em seguros, também houve um desempenho mais tímido em crédito. “De maneira geral, vemos o resultado do Bradesco como ligeiramente negativo para a ação no curto prazo. Talvez uma parte da reação positiva aos números tenha sido antecipada – vemos o papel sendo negociado perto da média histórica de 1,5 vez o preço sobre o patrimônio líquido”, avaliam.

A Levante Ideias de Investimentos também aponta que, apesar de seguir tendências semelhantes aos números vistos pelo Santander (SANB11) e Itaú (ITUB4), o crescimento inferior da carteira de crédito e a maior exposição a seguros que os competidores levaram ao resultado abaixo das expectativas.

A casa de análise ainda apontou que o Bradesco se mostrou focado em melhorar sua eficiência com uma queda de 4,1% nas despesas operacionais no trimestre quando comparado com o segundo trimestre de 2020, um bom número, mas uma desaceleração em relação a redução anual de 4,7% vista no trimestre anterior.

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Além disso, essa baixa foi influenciada pela linha “outras despesas operacionais”, que atingiram R$ 858 milhões, queda trimestral de 35,1% e anual de 48,2%. Essa queda foi reflexo de menores despesas com comercialização de cartões (resultado do desenvolvimento das vendas através dos canais digitais); menores despesas devido à constituição de provisão adicional no grupo segurador no primeiro semestre de 2020, além das menores despesas com provisões operacionais, contingências cíveis e fiscais.

Para a XP, apesar dessa forte queda nessa linha do balanço, o impacto positivo deve ser temporário, pois o número ficou muito abaixo da média histórica e as despesas de provisionamento operacional e marketing de cartão devem aumentar nos próximos trimestres, apesar da melhora das vendas do banco por meio canais digitais.

Enquanto isso, as despesas com pessoal subiram 1,0% na base trimestral e 5,9% no ano, a R$ 5,120 bilhões. O gasto administrativo, por sua vez, teve alta de 4,2% contra o primeiro trimestre e 0,8% ante igual período do ano passado, para R$ 5,012 bilhões.

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O aumento ocorreu devido à elevação no volume de negócios e despesas com campanhas publicitárias. Para a XP, apesar da decisão do banco de manter as projeções (guidance) e o impacto de curto prazo do acampamento publicitário,  os investidores devem prestar atenção ao desenvolvimento desta linha, pois novos números negativos podem afetar negativamente o guidance da empresa para o ano.

Já a carteira de crédito mostrou expansão de 3% na comparação trimestral, puxada por crédito a pessoas físicas, com alta de 5,7%, e a pequenas e médias empresas, com alta de 4,6%. O Itaú BBA ressalta ainda que a margem financeira com clientes cresceu em menor velocidade; um avanço de 1,9% na passagem trimestral, resultando em uma leve perda de spread bancário (diferença entre a taxa de juros cobrada aos tomadores de crédito e a taxa de juros paga aos depositantes pelos bancos).

O índice de inadimplência, por sua vez, se manteve em 2,5%. A despesa com previsões caiu 11% entre o primeiro e segundo trimestre, para R$ 3,5 bilhões, ficando 6% abaixo das expectativas da XP, o que compensou parcialmente os resultados fracos, mas prejudicou o índice de cobertura do banco (relação entre empréstimos inadimplentes e provisões), com queda de 500 pontos-base. “Vemos isso como negativo, pois os índices de inadimplência podem aumentar em relação aos atuais 2,5% observados no trimestre, aumentando a exposição do banco”, avaliam.

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Por outro lado, as receitas de serviço do banco foram um destaque positivo do resultado, com uma melhora de 10,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, atingindo R$ 8,4 bilhões.

Resiliência do banco?

Em teleconferência com analistas de mercado,  Octávio de Lazari Jr, presidente do Bradesco, afirmou que, apesar da instituição financeira ter sido bastante impactada pelo resultado de seguros, teve um resultado satisfatório no trimestre, “mostrando assim capacidade para diversificar receitas”. A expectativa é de que o segmento de seguros ainda tenha impacto no resultado no próximo trimestre mas, com o avanço da vacinação, espera-se melhora nos balanços posteriores com o avanço da vacinação no país.

Lazari Jr. ainda apontou que as estratégias para reduzir custos serão mantidas “com muita disciplina, apontando que 400 agências serão transformadas em unidades de negócios e acrescentou que mais 184 agências serão incorporadas. “A estratégia de custo é seguir a mesma trajetória que fizemos no último trimestre do ano passado e se repete no balanço de 2021”, destacou.

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Ele ainda falou sobre o Next, o seu banco digital, destacando principalmente as perspectivas para a abertura de capital e que é visto como um dos catalisadores para a ação do banco.  O Next apresentou resultados positivos no período, com crescimento anual de 99% na base clientes, atingindo 5,4 milhões usuários, além de uma redução de 31% nas despesas por cliente. Segundo o CEO, não haverá abertura de capital do Next no ano que vem, mas isso pode ocorrer em 2023.

Para a Levante, além do possível IPO do Next, estão entre os catalisadores da ação do banco a melhora estrutural da economia brasileira com o andamento da vacinação com aceleração do consumo.

Os analistas do Credit Suisse, que viram os resultados como mistos, ainda que com bons números das operações bancárias, reiteraram a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 30,91 (potencial de alta de 26% em relação ao último fechamento) para o papel. Por outro lado, reforçaram a sua preferência pelo Itaú, que registrou dados acima do Bradesco no segmento de banking, destacaram.

O Bank of America também reiterou recomendação de compra, esperando que os resultados de seguros se recuperem à medida que os efeitos da pandemia diminuam no Brasil, enquanto os resultados bancários devem se beneficiar de uma margem líquida de juros (NIM) mais alto e da melhoria da atividade econômica. O preço-alvo é de R$ 31, ou upside de 26,4%

A XP, por sua vez, mantém recomendação neutra e preço-alvo de R$ 26 por ação, ou potencial de alta de 6% em relação ao fechamento de terça-feira. Na avaliação dos analistas, justamente por conta do ramo de seguros, que foi o “algoz” no resultado do segundo trimestre, o Bradesco está menos exposto à disrupção do setor bancário quando comparado ao Itaú, por exemplo. Porém, vê um potencial limitado de alta para o papel.

Segundo projeções compiladas pela Refinitiv, de 17 casas que cobrem o papel BBDC4, 15 possuem recomendação de compra e 2 apenas têm recomendação neutra. As expectativas no geral são positivas para o Bradesco. O preço-alvo médio é de R$ 30,31 para o ativo, ou upside de 23,6%. Porém, com relação ao segundo trimestre de 2021, ele apresentou números menos atrativos em relação aos seus principais concorrentes.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.