Bitcoin City: a utopia de El Salvador em compasso de espera

Moradores têm sentimentos mistos sobre a proposta multimilionária de El Salvador financiada por “títulos de Bitcoin”

CoinDesk

(Elaine Ramirez/CoinDesk)

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Um lugar com zero impostos, alimentado geotermicamente por um vulcão e financiado por títulos de Bitcoin. É isso que La Unión, uma pequena cidade no leste de El Salvador, se tornará caso o ambicioso plano do presidente Nayib Bukele se concretize.

Mas, ninguém está tão convicto. Após um lançamento problemático da carteira de Bitcoin do país da América Central e atrasos em seus “títulos de Bitcoin”, alguns estão céticos em relação aos planos.

De acordo com o esboço apresentado por Bukele em novembro, a Bitcoin City (Cidade Bitcoin) incluirá áreas residenciais e comerciais, restaurantes, um aeroporto, bem como um porto e serviço ferroviário. Com a cidade disposta em um círculo (como uma moeda), a visão é de um paraíso cripto sem impostos sobre renda, propriedade ou ganhos de capital.

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Porém, os moradores de La Unión têm sentimentos mistos sobre os planos. Por um lado, eles esperam que o investimento impulsione a economia. Por outro, estão cautelosos sobre se Bukele cumprirá suas promessas.

Amilcar Alvarado é gerente de um outlet em La Unión da Tienda Par2, uma importante franquia de lojas de calçados. À CoinDesk, disse que a maioria dos moradores recebeu o anúncio da Bitcoin City de forma positiva.

“Aqui em La Unión há pouco comércio. A cidade precisa de mais lugares como a Bitcoin City para ajudar a economia a crescer e La Unión a mudar, como vemos em San Salvador”, disse ele, referindo-se à capital de El Salvador. “Deve haver muitos lugares para visitar. Em La Unión, só temos a baía e algumas lojas.”

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De acordo com Alvarado, La Unión pode se tornar uma importante cidade de El Salvador, mas com o governo fazendo tantos anúncios relacionados ao Bitcoin recentemente, há uma sensação de incerteza.

Anxel Miguel Flores Lainez, um agente da La Unión que ajuda as pessoas a usar a carteira de Bitcoin Chivo, lançada pelo governo em setembro do ano passado, vê a Bitcoin City como uma oportunidade para a cidade receber investimentos estrangeiros.

“Fomos ignorados por muito, muito tempo. [O anúncio da Bitcoin City] tem sido uma alegria para o povo de La Unión. O porto daqui não é usado e há coisas que ainda não foram ativadas. Muitos pensam que La Unión poderá crescer com esse projeto”, disse.

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Michael Peterson, que fundou a Bitcoin Beach (Praia Bitcoin), o primeiro oásis da criptomoeda de El Salvador na cidade litorânea de El Zonte, acha que o plano da Bitcoin City provavelmente foi feito às pressas.

“A Bitcoin City foi algo que surgiu no último minuto. É bem provável que o governo viu quanto interesse havia em El Salvador e todas essas empresas diferentes que estavam aqui procurando investir”, disse ele à CoinDesk.

Ainda assim, ele acrescentou: “Acho que é realmente algo que pode se concretizar e pode ter um grande impacto no mundo”.

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O que acontece em La Unión está ligado ao maior progresso de El Salvador, que chamou atenção internacional com seus planos de se tornar um centro de desenvolvimento de Bitcoin.

Título de Bitcoin atrasado

O governo de El Salvador tem entre seus planos a emissão de um título lastreado em Bitcoin no valor de US$ 1 bilhão. Desse montante, US$ 500 milhões serão usados para ajudar a construir a infraestrutura necessária de energia e mineração da cripto e os outros US$ 500 milhões para comprar ainda mais Bitcoin, como Bukele anunciou, em novembro, durante sua apresentação da Bitcoin City.

Instrumento financeiro tokenizado desenvolvido pela Blockstream, o título projeta um cupom de 6,5%, ou uma taxa de pagamentos de juros anuais, com vencimento de dez anos na Liquid Network, uma Lightning Network (rede que acelera e barateia transações de Bitcoin) sob controle do governo.

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Os investidores também receberão dividendos gerados pela liquidação escalonada das participações em Bitcoin, que começará no sexto ano.

O ministro da Fazenda de El Salvador, Alejandro Zelaya, havia projetado que o título seria lançado entre 15 e 20 de março mas, até o momento desta publicação, a emissão ainda não tinha sido feita.

Em 11 de março, Zelaya observou que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia poderia retardar o processo. “Temos as ferramentas quase prontas, mas o contexto internacional nos dirá”, disse ele, na época, à uma emissora de TV local.

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“Dólar ainda é rei” em El Salvador

La Unión está localizada no Departamento de La Unión, que fica no extremo sudeste de El Salvador (o país está dividido em 14 departamentos).

O departamento de La Unión tem uma população de 277.700 habitantes e uma taxa de alfabetização de 72,2%. Mas, com os planos para a Bitcoin City ainda “no ar”, não está claro se haverá desenvolvimento por lá.

Javier, um guia turístico local, disse que a Bitcoin City pode acabar perto de Conchagua, outra cidade próxima que tem um porto.

La Unión já conhece o Bitcoin: 50% das lojas de lá o aceitam, segundo Alvarado. “Sapatarias, lojas de roupas e outras lojas aceitam. Eles têm seu sinal de aceitação, assim como nós. Praticamente todo mundo está de acordo com o Bitcoin. E isso sugere que o projeto vai funcionar”, disse ele.

Os dados, contudo, apontam para outra realidade. De acordo com a Câmara de Comércio e Indústria de El Salvador, 86% das empresas locais não fizeram nenhuma venda usando Bitcoin e apenas 13,9% disseram que o fizeram.

Enquanto isso, 3,6% das lojas locais disseram que o Bitcoin contribuiu para um aumento em suas vendas, enquanto 91,7% relataram que a implementação da cripto não teve efeito em seus negócios.

Cecilia Salazar, gerente da loja Italia em La Unión, disse que cerca de 10 a 15 clientes usam Bitcoin para pagar diariamente – a maioria deles, locais. A loja aceita o criptoativo desde que se tornou moeda legal em El Salvador.

Na época, o governo divulgou vídeos explicando como usar a criptomoeda e estimulou o uso de sua carteira Chivo ao distribuir US$ 30 em Bitcoin para adultos.

A volatilidade do preço da moeda digital, entretanto, é uma desvantagem. “Você tem uma quantidade de Bitcoin, depois outra. Mas isso é por conta da conversão da criptomoeda”, disse Alvarado.

Flores Lainez, consultora do Chivo em La Unión, diz que grande parte da população ainda está aceitando de tudo.

“Primeiro de tudo, eles não entendem o que são satoshis [a menor fração ou parte de um Bitcoin] e o que é a moeda em si. A maioria da população de La Unión não tinha nenhum tipo de informação sobre Bitcoin até setembro”, disse Flores. El Salvador não é conhecido como um país de alta penetração tecnológica, observou.

Segundo o Banco Mundial, cerca de 50% da população de 6,5 milhões do país tinha acesso à internet em 2019.

“Os idosos não sabem usar Bitcoin. Eles tiveram vários problemas nesse sentido”, disse Flores, que acrescentou que a maioria da população que usa a carteira Chivo está concentrada em adultos de 20 a 45 anos.

Apesar da reputação favorável à cripto de El Salvador, uma pesquisa recente descobriu que mais de 91% dos salvadorenhos ainda preferem o dólar.

“Quase ninguém prefere ser pago em Bitcoin”, diz Zayra Cotefani Miranda, gerente da Bliss Boutique, loja de roupas localizada em La Unión, que acrescentou que o dólar sempre será predominante.

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