BB (BBAS3) provisionou total da dívida de Americanas (AMER3) após varejista adiar balanço

Os números da varejista em recuperação judicial serão divulgados na segunda-feira (13)

Mitchel Diniz Ana Paula Ribeiro

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A decisão do Banco do Brasil (BBAS3) de adicionar R$ 507 milhões às provisões referente à dívida da Americanas (AMER3) foi tomada depois que a varejista adiou a divulgação de seus resultados referentes ao ano de 2022.

“A gente sempre fez uma avaliação por perda esperada, com os dados que tínhamos a disposição. […] Ocorre que, no caso do Banco do Brasil, o saldo dessas operações começou a ficar atrasado em junho e passou a ficar atrasado acima de 90 dias em setembro”, afirmou Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de risco.

Prince admite que o processo acabou sendo mais moroso do que o banco estimava. Entretanto, “a morosidade foi benéfica” aos bancos. “A proposta de capitalização inicial era de R$ 7 bilhões e depois de exaustivas negociações que nós participamos ativamente, esse aporte de capital subiu para 12 bilhões.”

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Com a divulgação do balanço de Americanas adiada, o banco decidiu por provisionar integralmente o valor da dívida da varejista, que é de mais de R$ 1 bilhão. Por enquanto, a instituição financeira prefere não contar com uma reversão dessa provisão.

“Parte dessas R$ 12 bilhões que serão aportados vão para pagamento à vista dos credores, mas alguns passos tem que ser percorridos, sendo o primeiro deles a publicação do balanço”, explicou Prince.

“Uma vez que o plano seja aprovado na assembleia de credores, aí sim dá-se seguimento à implementação de condições. E se nisso recebermos a uma parcela dos recursos para recebimento à vista, a reversão acaba sendo automática. [..] Ainda há uma desafio temporal a ser percorrido.”

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A expectativa é que essa solução ocorra entre o primeiro e o segundo trimestres do ano que vem.

Banco do Brasil: resultados históricos

O impacto de Americanas, contudo, não deve impedir que o BB feche o ano com resultado histórico. O guidance do banco aponta para lucro líquido entre R$ 33 bilhões e R$ 37 bilhões no acumulado de 2023. Nos nove primeiros meses do ano, o BB acumula lucro de R$ 26,1 bilhões, cifra recorde para o período.

“Nós acreditamos que estamos caminhando para entregar para os nossos acionistas o maior lucro da história do Banco do Brasil, totalmente em linha com esse guidance, da ponta média e até um pouco mais, se aproximando da ponta alta”, afirmou Geovanne Tobias, vice-presidente financeiro e de relações com investidores do BB.

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O recorde atual é referente ao ano de 2022, quando o lucro ajustado do BB chegou a R$ 31,8 bilhões.

O banco ainda trabalha no orçamento de 2024 e só deve divulgar o guidance para o próximo ano em fevereiro, na próxima leva de balanços.

“Nós vislumbramos sim a continuidade da nossa carteira, é possível crescer entre um dígito alto e um dois dígitos baixos. Não estabelecemos o que a gente pretende de guidance, mas percebemos, com o que recebemos das áreas […] um ambiente mais benigno com redução de taxa de juros”, afirmou o CFO.

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“Uma vez que você melhora a condição de pagamento das famílias e das empresas, você tem capacidade de retomar crédito com esses agentes.”

Juros

O Banco do Brasil tem reduzido juros em algumas de suas linhas de crédito quase que de forma simultânea aos cortes que a Selic vem sofrendo. Mas, o CFO do banco garantiu que essas decisões são técnicas e não sofrem interferência política.

“Todos os ajustes [de juros] são técnicos e levam em consideração a redução do custo do dinheiro em função do corte da Selic”, afirmou. “Estamos olhando oportunidades e linhas que podemos melhorar as condições de preço.”

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Em relação aos lucros, a expectativa é de crescimento de um dígito alto para 2024, mantendo a tendência de resultados anuais recordes, e de margens financeiras no mínimo estáveis.

“Esperamos um crescimento ‘high single digit” (um dígito alto) para os earnins (lucros)”, disse Tobias em teleconferência para analistas.

A expectativa é de crescimento mesmo com uma menor contribuição da operação na Argentina (Banco Patagônia). O banco vê como oportunidades o consignado na pessoa física e o agronegócio, principalmente. O executivo afirmou ainda que mesmo com a redução dos juros, tem sido possível manter os spreads, o que beneficia a margem financeira.

“Claro que temos que olhar a questão externa (…), mas a cada um ponto percentual de redução na taxa básica (Selic), a gente tem um ganho de uns R$ 90 milhões na margem. E mesmo com os juros menores, o mix de produtos e o crescimento tem permitido manter o nosso spread, até com um leve crescimento. Não temos perspectivas de redução das margens para 2024¨, disse.

Cartão de crédito e consignado

Questionado sobre as discussões em torno de uma possível extinção do parcelamento sem juros em compras no cartão de crédito, Tobias foi enfático em defender o mecanismo.

“Não podemos matar esse instrumento valioso na vida das pessoas”, afirmou.

“O mercado de cartões é maduro, existe no país há décadas e não dá para, simplesmente, acabar com um mecanismo que os brasileiros utilizam de uma maneira corriqueira e que os ajuda na realização de sonhos de compra”, defendeu o CFO.

Tobias explica que o banco sempre privilegiou o parcelado sem juros em detrimento do rotativo, que equivale a 11% de todo o crédito de cartão do Banco do Brasil. Atualmente, metade do faturamento com cartão é pago a vista e o restante está em parcela de até seis vezes sem juros.

Segundo o CFO, a discussão atual reflete também o crescimento indiscriminado de cartões de crédito que foram distribuídos por novos entrantes sem uma avaliação adequada de capacidade de pagamento dos clientes.

“E agora a discussão está sendo restrita a parcelar a taxa de juros ou reduzir o parcelamento sem juros. Então acaba se jogando o peso da decisão nas costas do cliente e a gente não acha que essa seja a melhor solução.”

Quando perguntado se o BB tem intenção de crescer em cartões de crédito, Tobias disse que há outras prioridades.

“O que queremos crescer é no consignado, principalmente o privado, que é o nosso foco”, afirma. De acordo com Felipe Prince, o Banco do Brasil possui 20% do mercado nacional de consignado, mas sobretudo o público.

“A gente vem, sim, com uma estratégia bastante agressiva de avançar no consignado INSS. […] A gente tem 10% dessa carteira, mas a gente acredita que nossa fatia justa é um pouco além disso. E o consignado privado a gente praticamente não participa. Então é uma estratégia que a gente vai desenvolver para 2024”, afirmou Prince.

“A gente tem 20% do [consignado] público – quem sabe a gente não tenha 20% do INSS e 20% do privado?.”

Inadimplência e payout

Tobias, vice-presidente de gestão financeira, afirmou que apesar da elevação da inadimplência (atrasos acima de 90 dias), o pior já ficou para trás no segmetno de pessoa física.

“Na pessoa física, o ápice da inadimplência foi em dezembro de 2022”, disse durante teleconferência com analistas.

Ao final do terceiro trimestre, a inadimplência nesse segmento foi de 5,02%, ante 5,25% em setembro de 2022 e 5,27% do segundo trimestre anterior. Já em dezembro de 2022, a inadimplência estava em 5,44%.

A taxa de inadimplência total do banco ficou em 2,81% no terceiro trimestre, ante 2,34% 12 meses antes e 2,73% no trimestre anterior.

Segundo o executivo, sem a Americanas, a inadimplência seria de 2,63% no terceiro trimestre de 2023, ante 2,65% no trimestre anterior.

O executivo afirmou ainda que o banco estudará com cautela uma eventual elevação do payout (fatia do lucro que é distribuída aos acionistas), atualmente em 40% – mínimo exigido pela legislação é de 25%.

“Há toda uma discussão sobre a Reforma Tributária e o que vem na esteira, que é o JCP (juro sobre capital próprio). Uma mudança no JCP vai impactar o lucro dos bancos. (…) Eu também estou financiando a expansão do meu crédito com a geração de lucro. Eu não diria que é impossível aumentar o payout, mas vamos estudar de maneira muito cautelosa”, afirmou o executivo em teleconferência com analistas.

O JCP é um mecanismo usado por grandes empresas que permite que a remuneração (distribuição de lucros) aos acionistas seja enquadrada como despesa – e, assim, abatida do Imposto de Renda (IR).

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados