Casas Bahia: pressão segue, mas mudanças dá frutos e ação sobe com prejuízo em baixa

Analistas ainda estão cautelosos e mostram cautela com ações da varejista, mas veem progressos com reestruturação

Lara Rizério

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Ainda muitos desafios no radar e mais uma vez apresentando balanços fracos. Contudo, mesmo com os resultados sob pressão, o plano de reestruturação já dá os seus primeiros frutos, mostrando redução do prejuízo e dados melhores do que o esperado. Essa é a visão dos analistas de mercado sobre os números do Grupo Casas Bahia (BHIA3), que divulgou seus números do primeiro trimestre de 2024 (1T24) com redução do prejuízo líquido no primeiro trimestre do ano para R$ 261 milhões, queda anual de 12,2%. Com isso, os ativos fecharam a sessão pós-balanço em alta de 2,30%, a R$ 7,12.

“Apesar de ainda vermos uma forte desalavancagem operacional, o resultado se consolidou melhor do que o esperado, com as vendas 1P [estoque próprio] online caindo menos do que a nossa projeção e a rentabilidade do grupo voltando a aparecer”, apontou a Genial Investimentos. A companhia consolidou um GMV, ou vendas brutas de mercadoria, online de R$ 4,3 bilhões, queda anual de 12,5%, mas baixa em um ritmo menor do que a casa esperava.

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“A dinâmica veio exatamente dentro do esperado, porém com uma intensidade um pouco mais suave”, avalia a equipe de análise. Além do reposicionamento de estratégia entre os canais, com tombamento de 23 subcategorias do canal 1P para o canal 3P (traziam margem negativa para a companhia), o desinvestimento do canal B2B acabou pressionando o volume de vendas do digital nesse trimestre, aponta a Genial.

A Genial apontou que, em prévia do 1T24, adotou um tom mais pessimista do que o consenso do mercado. Diante disso, o resultado operacional acabou se consolidando exatamente no “meio do caminho” entre as suas estimativas e o consenso do mercado. “Vale um destaque especial para o menor prejuízo consolidado pela companhia, em R$ 261 milhões, o qual ficou 37,4% abaixo de nossas estimativas e quase 12% inferior ao consenso da Bloomberg. Entendemos que, além do impacto positivo que as mudanças estratégicas vem trazendo para a rentabilidade do grupo, a última linha do resultado da companhia foi ‘beneficiada’ por um menor montante de antecipação de recebíveis nesse trimestre”, aponta a casa de análise.

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A antecipação de recebíveis costumava impactar negativamente em cerca de R$ 260 milhões/trimestre no resultado financeiro e, nesse trimestre, a companhia antecipou um montante de R$ 159 milhões, quase R$ 100 milhões a menos do que o “normal”. Os analistas ainda vão procurar entender um pouco mais se esse deveria ser “o novo normal” para essa linha daqui em diante − ou se este trimestre fora apenas um outlier.

A XP faz coro aos resultados do 1T pressionados, mas melhores do que suas estimativas, com o desempenho de receita líquida e rentabilidade ainda impactados pelo ambiente macro desafiador e ajustes da reestruturação, embora com tendências de melhora de margens.

Os analistas reforçam que o GMV total caiu 12% ano contra ano, impactado por um fraco desempenho tanto nas lojas físicas (-11%) como no 1P (-22%), refletindo o encerramento de 57 lojas nos últimos doze meses, macro ainda fraco e menores investimentos em mídia, compensando o crescimento do 3P (+10%). Como resultado, as vendas líquidas consolidadas caíram 14% ano a ano.

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“A rentabilidade continua sendo impactada pela reestruturação, mas melhorando na base trimestral. Desde que as mudanças de gestão aconteceram no 2T23 (novo CEO em maio e novo CFO em junho) e, assim, deram início à reestruturação operacional da empresa a partir do segundo semestre de 2023, a comparação anual continua pressionada. No entanto, a rentabilidade tem evoluído sequencialmente com a margem bruta subindo 0,24 p.p [ponto percentual] trimestralmente, já que a empresa tem se concentrado em uma estratégia de preços e categorias mais racional, enquanto a margem Ebitda ajustada atingiu 6,1% devido às eficiências contínuas das despesas com vendas, gerais e administrativas”, avaliam os analistas da XP.

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O Bradesco BBI aponta que, no geral, os resultados foram melhores do que suas estimativas para o trimestre e que, à medida que a empresa avança com seu plano de transformação, os números do 1T24 ainda permanecem sob pressão, especialmente no faturamento, embora com bastante progresso nas margens em relação ao segundo semestre de 2023, à medida que a margem bruta se aproxima de níveis históricos.

A gestão atualizou as diversas iniciativas prometidas buscando recuperação de rentabilidade/fluxo de caixa, tais como: redução de pessoal (redução de 14,6% na base anual), redução de estoques (mantido abaixo de 80 dias), recuperação de margem bruta (atingiu nível histórico de 30%), monetização de ativos fiscais (monetização líquida positiva de R$ 203 milhões no 1T24 versus R$ 23 milhões negativos no 1T23), fechamentos de lojas não rentáveis (57 fechadas até agora) e estrutura de capital (reperfilamento de R$ 4,1 bilhões de uma duração média de 22 meses para 72 meses.). Agora a gestão transmitiu a mensagem de que o plano passou da fase de “estabilização” para uma “aposta seletiva” com investimentos para fortalecer o negócio principal e aumentar as receitas.
Olhando para frente, o BBI vê que a pressão do plano de transformação sobre os resultados diminui e que a empresa entra numa fase de encontrar caminhos para aumentar as receitas de forma sustentável, sem prejudicar as margens e conduzindo a alavancagem operacional para níveis mais normalizados. Por enquanto, mantém recomendação neutra para BHIA3 com preço-alvo de R$ 12 devido a um ambiente ainda desafiador. A Genial também reiteramos a recomendação neutra para o papel, com preço-alvo sob revisão. “Esperaremos até a efetiva aprovação do plano de Recuperação Extrajudicial para incorporar novas estimativas”, aponta.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.