Azul e Latam Brasil: após fim de acordo, possível fusão entre as aéreas está mais longe de acontecer?

Na avaliação de analistas, resposta é sim, o que teria inclusive impacto negativo para a Azul; porém, ela deixou porta aberta para chances de consolidação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio a um cenário bastante complicado por conta da pandemia do coronavírus, uma possível fusão entre a Azul (AZUL4) e a Latam Brasil chegou a ser cogitada por investidores e analistas em meados do ano passado. Isso após as companhias aéreas surpreenderem e anunciarem um acordo de “codeshare” (compartilhamento de voo).

Um ano depois foi anunciado o fim da parceria, também tornando mais difícil essa união acontecer – mas mostrando o interesse da Azul em buscar a “consolidação do mercado”.

“Vimos o codeshare como um passo potencial em direção a um acordo maior envolvendo a combinação das operações das duas companhias aéreas no Brasil, mas agora isso parece menos provável”, avaliam Josh Milberg e Jorge Lourenção, analistas do Morgan Stanley.

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Num primeiro momento, Azul e Latam anunciaram na noite da última segunda-feira (24) a rescisão do acordo de codeshare entre as duas companhias aéreas, que foi firmado em junho de 2020. O CEO da Latam no Brasil, Jerome Cadier, afirmou que os benefícios do acordo tinham ficado abaixo das expectativas da companhia aérea.

A ideia era ajudar as empresas a encherem seus voos, dado que havia a possibilidade de o passageiro realizar um trecho da viagem com uma das companhia e o outro com a concorrente. Hoje, porém, 2% dos passageiros transportados pela Latam compraram passagens com a Azul, diz Cadier. “Esperávamos um crescimento, mas, o tempo foi passando e vimos que essa alta não veio na proporção esperada.” A Latam também deve elevar sua oferta nos próximos meses, respondendo ao aumento da demanda. Segundo Cadier, a empresa pretende contratar 750 tripulantes até dezembro – no ano passado, 2.700 foram demitidos -, ampliar a frota de cargueiros de 11 para 21 aeronaves e receber mais sete aviões para o transporte de passageiros.

A administração da Azul teve uma mensagem diferente sobre a rescisão. Ela divulgou um comunicado de imprensa afirmando que acredita que a consolidação é uma parte importante da resposta da indústria pós-pandemia e que a companhia aérea brasileira está em uma posição forte para impulsionar essa consolidação. Expressou a opinião de que o cancelamento do codeshare pela Latam foi uma reação ao processo da Azul de explorar oportunidades de consolidação.

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A Azul ainda acrescentou que, no final do primeiro trimestre desse ano, contratou consultores financeiros e está estudando “ativamente oportunidades de consolidação”.

Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, a Azul não queria o fim da parceria e vinha tentando ampliá-la. A companhia havia iniciado conversas para tentar comprar a operação da concorrente no Brasil, de acordo com fontes do mercado.

“Quando o acordo de codeshare foi anunciado, levantamos a questão de que poderia ser um passo em direção a um acordo maior que implicaria na combinação das operações das duas empresas no Brasil . Também foi destacada a natureza altamente complementar das redes das duas companhias aéreas (dada a baixa sobreposição), as vantagens em termos de rotas / conectividade e o potencial de integração de seus principais hubs”, aponta o Morgan.

Agora, os analistas afirmam que, embora a rescisão do codeshare não elimine a possibilidade de um acordo maior entre as duas companhias aéreas, ela sugere um caminho muito mais difícil à frente. Isso, por sua vez, sugere um potencial reduzido para uma estrutura de mercado mais consolidada pós-pandemia.

Milberg e Lourenção apontam que o processo de recuperação judicial da Latam, que está em andamento nos EUA, limita a visibilidade para o cenário. “Ao mesmo tempo, não descartamos a possibilidade de eventuais tensões entre os principais acionistas da Latam e os credores da companhia aérea sobre a questão de fechar um negócio com a Azul”, afirmam.

Em uma análise feita em julho de 2020, o Bradesco BBI tinha destacado que uma fusão completa entre Latam e Azul parecia improvável mas, como parte de seus planos de recuperação, a Latam Airlines Brasil poderia ser vendida para a aérea. Isso ajudaria a Latam Airlines a se desalavancar mais rapidamente, enquanto a Azul poderia aumentar sua participação no mercado interno para 62% (veja mais clicando aqui).

Os analistas também apontaram que a ambas as empresas também se beneficiariam de uma redução de alavancagem estimando que, a Latam (excluindo o Brasil) poderia reduzir sua relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) para 2021 para 5 vezes com a venda, contra 6,9 vezes do cenário de referência do banco. Já a Azul também poderia se beneficiar do crescimento do Ebitda mais rápido do que o esperado com a
consolidação da Latam Brasil e uma maior utilização da frota de aeronaves.

Num primeiro momento, analistas destacaram que o fim da parceria poderia ser negativo para as ações AZUL4 em meio ao cenário mais complicado sobre uma possível fusão com a Latam que estava sendo aventada. Porém, a declaração da Azul de buscar consolidação e o dia positivo das aéreas no exterior acabou impulsionando AZUL4 durante o pregão. Às 12h (horário de Brasília), as ações subiam 4,14%, a R$ 42,02; os ativos GOLL4 avançavam 3,20% no mesmo horário, a R$ 25,83.

Além disso, conforme destaca Luis Sales, analista da Guide, apesar de ter sido uma decisão unilateral tomada pela Latam, a Azul teve performance melhor que seus pares no setor, que enfrenta uma grave crise por conta da intensa diminuição do número de voos, e, portanto, o fim da parceria não deve ser muito significativo para a aérea.

Em março deste ano, a Azul foi a empresa com a maior participação no mercado doméstico, com 40,7%, e, entre as companhias com maior porcentagem em participação, a única a apresentar crescimento com alta de 11,2%, de acordo com os recentes dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Na sequência está Gol (32,3%) e Latam (26,4%), que apresentaram retração na demanda na comparação com o mesmo mês de 2020, de 40,8% e 53%, respectivamente.

Os analistas do Morgan Stanley possuem recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado) para os ADRs (papéis da companhia negociados na Bolsa de Nova York) da Azul, com preço-alvo de US$ 15,20, 33,3% abaixo do fechamento de segunda-feira, destacando que a pandemia segue afetando o setor no curto prazo. A recomendação underweight é a mesma para o ativo da Latam Airlines negociado nos EUA, mas com preço-alvo de US$ 3,50, 26,3% acima do fechamento de segunda.

Já o BBI mantém recomendação neutra para as ações da Azul negociadas na B3, com preço-alvo de R$ 38, e tem recomendação underperform para Latam, com preço-alvo de US$ 1.

De acordo com compilação da Refinitiv, três casas possuem recomendação de compra para AZUL4, seis têm recomendação neutra e duas de venda, com um preço-alvo médio de R$ 38,42, valor 4,8% menor do registrado na véspera. Já para o ativo da Latam negociado nos EUA, as projeções são mais pessimistas: uma casa tem recomendação de manutenção, enquanto três recomendam venda, com preço-alvo médio de US$ 1,98, queda de 28,5% em relação ao fechamento da véspera.

Em matéria publicada durante a tarde de terça, o Valor destacou que Azul seguia mantendo conversas com arrendadores de aeronaves para tentar avançar com seu plano de comprar as operações da Latam Brasil, segundo fontes disseram ao jornal. Nos bastidores, ronda a informação de que a equipe do CEO John Rodgerson está focando mais em convencer credores da importância do acordo, já que qualquer tipo de tratativa com o grupo no Chile não tem surtido efeito.

Já o presidente da Latam tem sido enfático ao afirmar que o grupo não pretende vender suas operações no Brasil. “Não tem, não teve e não existe nenhum interesse na separação, venda ou negociação da Latam Brasil. A Latam Brasil não está à venda”, disse. Assim, o noticiário do setor deve seguir agitado: além do ritmo da retomada das operações das companhias, o noticiário sobre fusões e aquisições movimentará as aéreas.

(com informações do Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.