Fusão? Venda da Latam Brasil para a Azul seria o cenário mais provável, aponta Bradesco BBI

Desde que companhias anunciaram acordo de codeshare, rumores de fusão ganharam força no mercado; mas, para analistas do banco, isso não é o mais provável

Lara Rizério

Avião da Latam

Publicidade

SÃO PAULO – Desde 16 de junho, quando Azul (AZUL4) e Latam surpreenderam os investidores ao anunciarem um acordo de “codeshare” (compartilhamento de voo) – em meio ao cenário de dificuldades para as aéreas em meio à pandemia de coronavírus – os rumores de uma possível fusão entre as duas companhias passaram a ganhar força, apesar das negativas das companhias nesse sentido.

Em relatório, o Bradesco BBI apontou que uma fusão completa entre as empresas parece improvável. Contudo, como parte de seus planos de recuperação, o cenário mais provável é de que a Latam Airlines Brasil fosse vendida para a Azul.

“Uma fusão completa parece muito complexa e também exigiria um acordo abrangente dos acionistas controladores para acomodar vários interesses”, avaliam os analistas Victor Mizusaki e Gabriel Rezende.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Isso porque, em primeiro lugar, no melhor cenário, David Neeleman, da Azul, dividiria o controle desta empresa com a família Cueto, da Latam. Segundo, a Azul poderia ser arrastada para os procedimentos da recuperação judicial do Grupo Latam Airlines. Por fim, a Delta (que tem parceria com a Latam) e a United Airlines (que tem parceria com a Azul) teriam assento no conselho de administração da Latam – mas as companhias americanas têm interesses conflitantes.

Esse último ponto também seria um problema para autoridades antitrustes. A operação teria que passar pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que já manifestou anteriormente preocupação com a concentração do mercado aéreo brasileiro, além da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Assim, uma solução mais simples seria a venda da unidade brasileira da Latam, apontam os analistas. A Azul poderia emitir 430 milhões de ações a R$ 23 cada para adquirir a Latam Airlines Brasil por cerca de US$ 1,9 bilhão; o fundador David Neeleman continuaria a controlar a empresa.

Continua depois da publicidade

A Latam garantiria sua exposição ao Brasil em parceria com a Azul, e a empresa também poderia vender essa participação para levantar caixa, se necessário. Os analistas do banco ressaltam que, desde a conclusão da fusão da TAM com a chilena LAN em 2012, a Latam Airlines Brasil apresentou desempenho inferior ao das operações do Grupo Latam (excluindo o Brasil).

No cenário de uma eventual aquisição da Latam Brasil, Mizusaki e Rezende apontam ainda que a companhia poderia ser facilmente reestruturada para aumentar o valor patrimonial.

Entre os pontos para isso, os analistas destacam que os contratos de arrendamento de aeronaves são contratados no Chile, proporcionando flexibilidade para ajustar o tamanho da frota e reduzir a alavancagem no Brasil. Para a Azul, a empresa alcançaria uma participação no mercado doméstico de 62% (acima de 25%) e elevaria a sua presença em aeroportos restritos no Brasil (por exemplo, Congonhas e Santos Dumont).

Ambas as empresas também se beneficiariam de uma redução de alavancagem. Os analistas estimam que, a Latam (excluindo o Brasil) possa reduzir sua relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) para 2021 para 5 vezes com a venda, contra 6,9 vezes do  cenário de referência do banco.

Já a Azul também poderia se beneficiar do crescimento do Ebitda mais rápido do que o esperado com a
consolidação da Latam Brasil e uma maior utilização da frota de aeronaves.

No relatório, os analistas informaram que mantiveram a recomendação de compra para os ativos da Azul, elevando o preço-alvo de R$ 19 para R$ 23 ao final de 2020. Houve diminuição das estimativas de
receita líquida e Ebitda para 2020 e 2021, o que reflete as expectativas para uma evolução mais gradual da recuperação, especialmente em rotas internacionais.

Já pelo lado positivo, dadas as notícias recentes de que a Azul poderá concluir em breve sua reestruturação da dívida, a estimativa de endividamento medido pela relação dívida líquida/Ebitda passou de 5,6 vezes para 4,5 vezes, sendo este o principal fator que justifica o aumento do preço-alvo. A recomendação também é de compra para as ações da Gol (GOLL4).

Aprenda a identificar as ações com maior potencial de valorização: assista à série gratuita Stock Picking – A Habilidade mais Valiosa do Mercado

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.