As empresas que se destacaram (para o bem e para o mal) na temporada do 2º tri, a mais impactada pelo coronavírus

Empresas de commodities, com receita proveniente de exportações, se destacaram positivamente; Cielo e aéreas, mais uma vez, apresentaram números ruins

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O pior trimestre em muito tempo. Essa era a expectativa para a temporada de resultados do segundo trimestre de 2020, o período mais impactado pelas medidas de isolamento social para o combate do coronavírus.

Até por conta das baixas expectativas, os analistas de mercado destacaram nas prévias de resultados: mais do que considerar os números fortes ou fracos na comparação com os trimestres passados, cinco outros pontos seriam considerados mais importantes para observar.

São eles: i) comparação dos resultados em relação à expectativa do consenso; ii) expectativas ou guidance até o final do ano (trazendo perspectivas em relação à retomada das atividades no segundo semestre e quais os maiores desafios); iii) como as companhias estão endereçando questões como endividamento, caixa e custo médio da dívida, que seguem sendo relevantes uma vez que o mercado continua punindo ações de empresas altamente alavancadas durante essa crise; iv) planos de digitalização, uma vez que empresas que não eram necessariamente digitais tiveram que acelerar os seus programas de investimento em tecnologia e v) como as empresas estão lidando com as questões de ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) uma vez que, da mesma forma que a tecnologia será um grande diferencial no futuro, o mercado vai checar cada vez mais de perto as empresas que estão melhores preparadas nas questões de sustentabilidade, conforme destaca a XP Investimentos.

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Conforme destaca a XP (veja o relatório clicando aqui), um ponto positivo é que a abertura dos mercados de capitais e de dívidas, acompanhada por grandes ofertas na Bolsa (IPOs e follow on), faz com que as empresas consigam ter um maior caixa, melhorando seu balanço e ficando mais confortáveis para passar pela crise, além de conseguirem aumentar o nível de investimentos nos próximos meses.

“Os resultados vêm surpreendendo positivamente o mercado, assim como indicadores de atividade referentes ao segundo trimestre, que foram levemente menos negativos do que o esperado. As medidas de estímulos fiscais e monetários para famílias e empresas adotadas pelo governo começaram a mostrar resultados e conseguiram amenizar o efeito da crise em diversos setores, de forma que o mercado vem melhorando gradativamente as expectativas para o PIB”, avaliam os analistas da XP.

Com a temporada quase no final – 98,5% das companhias que pertencem ao Ibovespa divulgaram seus números -, 44% dos balanços foram em linha com o que o consenso esperava (segundo estimativas compiladas pela Bloomberg) e 30% acima do esperado pelo mercado. Já em relação aos parâmetros XP, 54% dos resultados foram acima do esperado e 24% em linha com as expectativas, segundo compilação feita até 19 de agosto.

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Assim, apenas cerca de um quarto das empresas que reportaram resultados decepcionou, conforme gráfico abaixo elaborado pela XP, que segue abaixo:

Entre os destaques positivos, estiveram as empresas de commodities, como Vale (VALE3), siderúrgicas como CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) e empresas de papel e celulose como Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3), beneficiando-se com a retomada da China e também com o cenário mais positivo do que o esperado para a demanda no Brasil. Favorecidos pelas exportações, os grandes frigoríficos brasileiros tiveram resultados bastante sólidos, com destaque para JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3).

No caso da Petrobras (PETR3;PETR4), analistas destacaram que o resultado foi fraco, mas acima do esperado, mostrando que a estatal passou por relativa tranquilidade em meio ao segundo trimestre bastante turbulento para o mercado de petróleo. Já a Vale, cuja expectativa era de números fortes em meio a maior resiliência do minério de ferro (também impactado pela volta das atividades da China, primeira a ser atingida pela pandemia do novo coronavírus), também anunciou a volta do pagamento de dividendos.

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Enquanto isso, apesar de registrarem prejuízo ajustado em sua maioria, as companhias B2W (BTOW3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VVAR3) mostraram um forte crescimento do e-commerce. E, mesmo durante a pandemia, a Localiza (RENT3) conseguiu mostrar resiliência em seu negócio considerando o desafiador cenário de pandemia para o setor de locação de veículos no Brasil.

“Outro ponto de destaque é o setor de energia e saneamento, mais resiliente a crises, como mostrado por seus resultados, por oferecer serviços essenciais e por ser um setor regulado. A suspensão de corte por falta de pagamento levou a uma maior inadimplência, porém esse cenário já era esperado e estava incorporado”, avalia a XP.

Já entre as decepções, Cielo (CIEL3) apresentou mais uma vez números fracos, enquanto a farmacêutica RD (RADL3) sofreu com a desaceleração das vendas. Contudo, com relação a última companhia, houve um crescimento total consolidado em julho, tornando mais favoráveis as perspectivas para o terceiro trimestre.

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Os bancos tiveram forte queda do lucro, mas muito impactados por maiores provisões contra perdas por inadimplência – no geral, os analistas destacaram a resiliência das companhias em meio ao cenário bastante negativo. Neste sentido, comparativamente, o resultado do Itaú (ITUB4) foi o que menos se destacou entre os grandes bancos, em um cenário que se desenha como desafiador para as instituições com a expectativa de maior concorrência e com as medidas no Congresso que podem elevar a taxação para o setor.

Também um resultado bastante esperado, a Ambev (ABEV3) teve uma boa surpresa com a venda de cervejas no Brasil. Contudo, ainda há muitas ressalvas sobre o ritmo de recuperação da companhia no pós-pandemia. 

As aéreas tiveram números fracos, como já era de se esperar. Com uma queda de mais de 90% no número de passageiros transportados por conta da pandemia, a Gol (GOLL4) registrou um prejuízo líquido de R$ 1,994 bilhão no segundo trimestre, ante prejuízo de R$ 99,2 milhões em igual período do ano passado. Já a Azul (AZUL4) reportou um prejuízo líquido de R$ 2,9 bilhões no segundo trimestre de 2020, contra um lucro líquido de R$ 351,6 milhões em igual trimestre de 2019. Contudo, conforme ressalta a analista Bruna Pezzin, da XP, o foco está no gerenciamento da liquidez por parte das companhias, em conjunto com notícias relacionadas à linha de crédito do BNDES para o setor, bem como o monitoramento das tendências da retomada da demanda no Brasil.

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A empresa de educação Cogna (COGN3) também foi bastante impactada negativamente pelo coronavírus o que, inclusive, a motivou a acelerar uma reestruturação de seus cursos superiores para o modelo “híbrido” entre o presencial e o online, além de dar um maior foco ao segmento premium.

Para o próximo trimestre, o Morgan Stanley ressalta que os resultados da empresa devem mostrar uma lenta melhora no terceiro trimestre, à medida que a economia continua a reabrir. “No entanto, nos preocupamos com o potencial impacto fiscal adicional que a pandemia do coronavírus pode ter no curto prazo”, apontam.

Confira os principais destaques (positivos e negativos) da temporada de balanços. Abaixo, a XP destaca quais resultados superaram, decepcionaram ou ficaram em linha com as estimativas por setor:

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Principais destaques positivos

Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3;PETR4): resiliência em um ambiente conturbado

A expectativa para a Vale era por números fortes – e eles vieram, uma vez que os analistas já esperavam um bom desempenho por conta dos preços mais altos do minério de ferro e da recuperação do volume de vendas (ainda que impactado pelo coronavírus). A companhia reverteu prejuízo de US$ 133,0 milhões entre abril e junho de 2019 e e reportou lucro líquido de US$ 995 milhões no segundo trimestre deste ano.

De qualquer forma, a grande repercussão ficou para a retomada de dividendos. Em comunicado divulgado praticamente ao mesmo tempo que o release de resultados, a companhia informou que seu Conselho decidiu restabelecer, sem alterações, a política de remuneração aos acionistas suspensa em janeiro de 2019, após rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que ceifou a vida de 270 pessoas. Com isso, serão pagos, em setembro, dividendos mínimos calculados com base nos resultados do primeiro semestre de 2020 – ainda sem valor e data definidos. A empresa também vai pagar, em 7 de agosto, juros sobre capital próprio de aproximadamente R$ 1,41 por ação.

“No topo de um mercado resiliente de minério de ferro e na melhoria das tendências operacionais no segundo semestre, esperamos que as ações da Vale sejam reavaliadas, impulsionadas pelo pós-risco após o acidente de Brumadinho e possibilidade de dividendos consideráveis em 2020 e 2021”, avaliou o Bradesco BBI em relatório a clientes, ao manter a recomendação equivalente à compra para os ativos.

Já para a Petrobras, a relativa tranquilidade com que a companhia passou pela turbulência com a forte queda da cotação do petróleo no período foi destaque.  “O segundo trimestre de 2020 não foi um trimestre comum para as empresas do setor de petróleo no mundo todo. A indústria de petróleo e gás navegou em águas muitas agitadas em meio a uma crise sem precedentes. No entanto, a Petrobras fez isso com relativa tranquilidade”, apontou o Credit Suisse.

A companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 2,713 bilhões no segundo trimestre de 2020. No período, as petroleiras passaram por uma dupla crise – do coronavírus e também com a guerra de preços da commodity, desencadeada por Arábia Saudita e Rússia, que teve início em março, mas que também teve efeitos nas cotações nos meses seguintes. Com isso, o preço médio do contrato brent (referência para a estatal) teve uma queda de 42% no trimestre, a US$ 29 o barril (sendo que alguns contratos chegaram a operar no negativo na segunda quinzena em abril).

Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3) se beneficiam de recuperação mais rápida

Uma das primeiras companhias a divulgar resultados, a CSN apresentou lucro líquido de R$ 446 milhões, ante prejuízo de R$ 1,3 bilhão em igual período de 2019. Os preços mais elevados do aço contribuíram para esse resultado.

Os resultados foram avaliados positivamente por boa parte dos analistas. Em destaque, o Bradesco BBI elevou a recomendação da CSN para “outperform” (desempenho acima da média do mercado) logo após o balanço, com o preço-alvo passando de R$ 11 para R$ 17. A mudança leva em conta uma recuperação mais rápida do mercado de aço brasileiro e o segmento de minério se beneficiando da maior produção. Durante teleconferência, os executivos apontaram demanda melhor que a esperada, o que levou a companhia a elevar os preços.

Na mesma linha, a Gerdau também surpreendeu positivamente o mercado. O Ebitda somou R$ 1,32 bilhão mas, apesar da queda de 16,2% na comparação anual, foi acima do esperado, tendo como principais destaques os volumes mais fortes nas unidades do Brasil, seguindo o aumento das exportações, e margens saudáveis em todas as linhas.

O Credit Suisse reforça: “acreditamos que a demanda por aços longos no Brasil permanece forte (e com uma carteira de pedidos decente), enquanto os volumes da Gerdau nas divisões de América do Norte, América do Sul e Aços Especiais provavelmente aumentarão sequencialmente à medida que às restrições relacionadas ao coronavírus estão sendo gradualmente levantadas em todo o mundo”. O banco suíço possui recomendação equivalente à compra para os ativos.

Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) ganham destaque: volumes mais altos

A Suzano divulgou seu resultado no dia 13 de agosto, reportando resultados operacionais acima do esperado. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) foi o principal destaque: apesar do prejuízo de R$ 2 bilhões, o Ebitda ajustado foi de R$ 4,2 bilhões, 35% acima na comparação anual e 23% ante o consenso de mercado.

Os principais destaques foram: (1) volumes mais altos de celulose seguindo o movimento de desestocagem da Suzano e demanda saudável de tissue (papeis sanitários em geral) e (2) preços realizados mais fortes (+22% na base trimestral) devido a um dólar mais alto.

“Mantemos nossa visão positiva para os preços da celulose no futuro (US$ 490 a tonelada em média para 2020), com continuidade na recuperação da demanda na China e a falta de novos projetos para frente. Além disso, os preços seguem abaixo do custo marginal (US$ 500 a tonelada, na nossa visão) por mais de 10 meses. Adicionalmente, a Suzano gerou um fluxo de caixa livre de R$ 1,72 bilhão (alta de 147% no trimestre) com maior Ebitda e capital de giro”, aponta Yuri Pereira, analista da XP Investimentos, reiterando a recomendação de compra.

O desempenho de custos continuou em ritmo sólido, apesar do impacto da depreciação do real frente
ao dólar americano nos custos, destacou ainda o BBI, que segue com recomendação de compra para os papéis.

Na mesma linha, os números da Klabin também surpreenderam positivamente, apesar da companhia também registrar prejuízo (de R$ 383 milhões). O que chamou a atenção foi o maior Ebitda trimestral ajustado da história, que cresceu 39%, somando R$ 1,333 bilhão.

O principal destaque foi o volume de papel comercializado, sinalizando poucos impactos do Covid-19. Além disso, volumes de celulose vieram em linha com a previsão e os preços foram beneficiados pelo aumento no câmbio. “No segmento de celulose, os principais destaques foram o melhor mix entre clientes/regiões e a melhor precificação em reais, compensando parcialmente os preços da celulose de fibra curta mais baixos no trimestre.”, aponta Pereira, da XP.

Varejistas expostas a e-commerce:  números fortes, apesar do prejuízo 

B2W (BTOW3) – controlada pela Lojas Americanas (LAME4) –  a Via Varejo (VVAR3) e a última a reportar resultados dentre essas companhias, o Magazine Luiza (MGLU3), tiveram prejuízos recorrentes ou ajustados no segundo trimestre de 2020. No caso do Magalu, o prejuízo ajustado foi de R$ 62 milhões entre abril e junho (revertendo lucro líquido ajustado de R$ 85,2 milhões de igual período do ano passado), a B2W, ainda que tenha visto seu prejuízo cair 42%, teve prejuízo de R$ 75 milhões, enquanto a Via Varejo teve prejuízo recorrente de R$ 176 milhões (contando os R$ 241 milhões referentes a crédito fiscal extraordinário, o lucro seria de R$ 65 milhões).

Contudo, um ponto de destaque positivo ficou para a forte aceleração para o volume bruto de mercadorias (ou GMV, sigla para Gross Merchandise Volume), métrica para cálculo das vendas dentro das plataformas de e-commerce.

No caso do Magalu, no segundo trimestre, as vendas totais, incluindo lojas físicas, e-commerce tradicional (1P) e marketplace (3P) cresceram 49,1% para R$ 8,6 bilhões, reflexo do aumento de 181,9% no e-commerce total e queda de 45,1% nas lojas físicas (mesmo com apenas 36% das lojas abertas em média no trimestre, ressaltou a companhia em relatório de resultados). Já a Via Varejo viu o e-commerce crescer 280% na base anual. Com isso, as vendas online da companhia alcançaram 70% do total (versus 18,5% no segundo trimestre de 2019), tendo compensado a queda do varejo físico. Com um desempenho mais modesto, mas ainda bastante forte, o GMV da B2W atingiu R$ 6,7 bilhões no trimestre, um crescimento de 72% ao ano. Confira a análise completa clicando aqui. 

Frigoríficos: Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) se destacaram

No segundo trimestre, os grandes frigoríficos brasileiros tiveram resultados bastante sólidos. Um dos mais elogiados deles foi o da JBS, sobre o qual a equipe de análise do Credit Suisse fez a seguinte pergunta: “como alguém pode não estar otimista?”

Os analistas do banco suíço, Victor Saragiotto e Felipe Vieira, destacaram que esperavam que a empresa entregasse seus melhores dados operacionais da história, mas não podiam antecipar quão fortes eles seriam. “A receita cresceu 32,9% na comparação anual a R$ 67,6 bilhões e o Ebitda ajustado teve uma disparada impressionante de 105,9% em relação ao segundo trimestre de 2019, para R$ 10,5 bilhões”, lembram.

A Minerva, por sua vez, também surpreendeu o Credit Suisse, com crescimento de 9,3% da receita líquida na comparação anual. O Ebitda de R$ 590 milhões animou a equipe de análise, mostrando um avanço de 62,2% em relação ao segundo trimestre de 2019. O número foi ainda 4,5% acima das projeções do banco suíço.

Para os analistas do Credit, a Minerva deve continuar a se beneficiar de um cenário favorável para exportações de carne nos próximos trimestres devido ao grande déficit na oferta provocado pela epidemia de peste suína africana no ano passado. Todavia, como o momentum para o gado brasileiro é menos favorável e 80% dos custos da empresa são relacionados à compra de gado, o Credit Suisse não espera qualquer alívio para os custos nos próximos trimestres.

O grande destaque mesmo foi da Marfrig, que teve lucro de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre de 2020, contra R$ 87 milhões no mesmo período do ano passado. O Ebitda da companhia foi de R$ 4,07 bilhões e a receita líquida atingiu R$ 18,9 bilhões. O Credit Suisse classificou o resultado como “um ano em um trimestre”.

CEOs de empresas abertas divulgam e comentam os resultados do ano na série Por Dentro dos Resultados: confira como participar clicando aqui. 

“As razões para este desempenho deslumbrante são um trimestre espantosamente positivo para a National Beef, que teve 23,7% de margem Ebitda [Ebitda dividido pela receita líquida] ajustada impulsionada pelas vendas de carne bovina nos EUA, e um grande resultado na América do Sul com 13,9% de margem Ebitda ajustada puxada pela depreciação do real e pelo aumento no mix de exportações”, argumenta o banco suíço.

Menos animado, o Bradesco BBI aponta questões sobre a sustentabilidade da geração de fluxo de caixa livre, que chegou a R$ 3,3 bilhões no trimestre passado. Já o Credit Suisse, mais otimista, espera que o segundo semestre de 2020 seja melhor do que o segundo semestre de 2019, com novos recordes de rentabilidade e geração de fluxo de caixa.

Weg (WEGE3) e locadoras de veículos: os destaques entre transportes e bens de capitais

No setor de bens de capitais e transportes, quem se destacou, mais uma vez, foi a Weg, com o lucro vindo 33% acima do esperado pelo consenso de mercado, impulsionado pela valorização de cerca de 37% do dólar em relação ao real, pela sólida performance no mercado doméstico e pelas aquisições feitas nos trimestres passados.

“Apesar de vermos a companhia bem posicionada para navegar pelo cenário desafiador, com um balanço sólido e um posicionamento de mercado forte, acreditamos que o valuation atual das ações mais que reflita esses fatores”, avalia a equipe de análise da XP. Enquanto isso, logo após o resultado, o JPMorgan elevou a recomendação dos ativos WEGE3 de neutra para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra).

“A resiliência do mercado e a execução de primeira linha, na nossa visão, continuarão a justificar os múltiplos elevados de 50 vezes P/E [valor de mercado dividido pelo lucro] na estimativa para 2021”, explicaram os analistas na ocasião. 

Já a Localiza (RENT3), apesar do cenário desafiador, reportou resultados acima das expectativas de forma geral. Excluindo os R$ 126,3 milhões referentes à reversão da provisão para créditos de PIS e COFINS, o Ebitda ajustado foi de R$ 309 milhões, acima do consenso Bloomberg. A diferença para nossos números se deu por (i) dados melhores que o esperado tanto no segmento de RAC (aluguel de carros) quanto Fleet (gestão de frotas), em termos de volume e também de margens ajustadas, (ii) vendas de Seminovos superiores ao esperado, mas que foram parcialmente compensadas por (i) uma margem em seminovos ligeiramente abaixo da estimativa e (ii) resultados financeiros mais pressionados que o projetado.

A Unidas (LCAM3) também reportou resultado acima da expectativa, com seminovos sendo um destaque positivo, com volumes e margens ajustadas acima do esperado; já para aluguel de veículos, houve maior pressão nas margens. Com relação à Movida, o que chamou a atenção foi o sólido controle de custos realizado no trimestre.

Resultados que decepcionaram

BRF (BRFS3) sem brilho

Enquanto a equipe do Credit destacou os números positivos de JBS e Marfrig, o ânimo com o resultado da BRF foi bem menor, classificado como “bom”, mas sem brilho.

A XP apontou que a companhia reportou resultados sólidos, mas mais fracos do que o esperado no segundo trimestre, com um Ebitda ajustado de R$ 1 bilhão, 3,5% abaixo do consenso de mercado, enquanto a margem Ebitda consolidada de 11,3% também ficou abaixo da estimativa. Isso aconteceu, em grande parte, porque os custos continuam pressionados – o custo sobre produtos vendidos cresceu 14% na base anual.

Para os analistas do Credit Suisse, o câmbio depreciado vai beneficiar os resultados da BRF no terceiro trimestre de 2020, mas a queda de 18% nos preços de aves em dólar vai manter a expansão da receita da companhia abaixo das expectativas.

Cielo (CIEL3): nova tempestade perfeita?

A empresa de meios de pagamento Cielo registrou no segundo trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 75,2 milhões, ante lucro de R$ 428,5 milhões entre abril e junho de 2019.

“Já são três trimestres seguidos em que a Cielo entrega resultados bem abaixo do esperado, dessa vez com forte prejuízo”, destacou a Levante, enquanto os analistas do Bradesco BBI apontaram o balanço como resultado de uma “tempestade perfeita”.

De acordo com o Morgan Stanley, os números da Cielo foram muito fracos, ainda que não surpreendentes dadas as circunstâncias extraordinárias com o Covid-19.

A XP Investimentos também apontou que os números foram negativos, com um prejuízo causado principalmente por: i) desalavancagem operacional, uma vez que o volume financeiro (TPV) despencou 22% na base anual para R$ 128 bilhões, enquanto os custos aumentaram 2% na comparação anual para R$ 1,1 bilhão; ii) menor resultado financeiro, 71% inferior ao mesmo período do ano anterior, para R$ 40 milhões, pressionado pelos menores volumes e a taxa de juros mais baixa da história; e iii) impostos, que chegaram a R$ 20 milhões, mesmo a empresa não reportando lucro antes dos impostos.

A análise é de que os volumes vieram piores, mas o mix de receitas também esteve fraco pela maior participação de transações com débito, que possuem taxas de desconto inferiores. Também houve prejuízos crescentes nos Estados Unidos e perdas com chargebacks.

“Tudo somado criou a tempestade perfeita para a Cielo. As ações devem corrigir fortemente no curto prazo, refletindo o caminho longo e difícil ainda pela frente”, avaliaram os analistas do BBI.

Azul (AZUL4): números ruins, mas alavancagem mais saudável

Conforme destaca a XP, a Azul reportou resultados abaixo das expectativas e do consenso. “A diferença para nossas estimativas se deu principalmente por uma Receita Unitária (PRASK) cerca de 17% abaixo do esperado, resultando em uma receita líquida consolidada 13% menor do que aas expectativas (de R$ 402 milhões, queda de 85% na base anual)”, aponta a XP.

O resultado operacional e o lucro líquido foram pressionados por custos acima do esperado e um resultado financeiro pior que o esperado, reflexo da forte depreciação do real em relação ao dólar no trimestre.

“Por outro lado, os acordos fechados com os arrendadores resultaram em uma situação de alavancagem mais saudável que o que prevíamos inicialmente”, destaca a XP.

Raia Drogasil (RADL3): queda do Ebitda, mas expectativa de recuperação à frente

A RD reportou resultados fracos no segundo trimestre, com Ebitda 29% abaixo do esperado pela XP, com o desempenho sendo impactado tanto pela pressão de margem bruta de 1 ponto percentual quanto pela desalavancagem operacional, em função da desaceleração do ritmo de vendas.

“Entretanto, de acordo com a companhia, houve um crescimento total consolidado de 13,8% no mês de julho, com um crescimento de receita das lojas maduras no conceito mesmas lojas de 0,8%, sinalizando uma recuperação de vendas para os próximos meses”, ressalta a XP.

Ações para monitorar

Pelo critério recorrente, os quatro maiores bancos de capital aberto da B3  – Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC3;BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander Brasil (SANB11) – registraram queda acumulada de 37% do lucro no segundo trimestre na comparação anual. Ainda que, juntos, tenham lucrado R$ 13,4 bilhões, as provisões para perdas foram mais que o dobro dessa cifra, de cerca de R$ 30 bilhões.

Porém, ainda que com forte baixa dos lucros, os resultados foram destacados por casas de análise como prova da resiliência dessas instituições financeiras, que conseguiram manter boas métricas, ainda que algumas linhas do balanço possam ter desagrado os investidores. Nesse cenário, os números do Itaú foram os que mais desagradaram.

Isso porque o segmento de intermediação financeira com clientes foi mais fraco em uma base relativa (para baixo sequencialmente, enquanto Bradesco e Santander Brasil registraram melhores números na variação trimestral). Já do lado das tarifas, o desempenho do Itaú também foi mais fraco, com a receita caindo 11,8% na variação trimestral (+11,6% na variação trimestral quando as comissões de seguros são adicionadas), enquanto a receita com tarifas do Santander Brasil contraiu 8,5% na mesma base de comparação e Bradesco teve queda de 7,9% na variação trimestral.

“No entanto, em termos de despesas operacionais, o Itaú ficou entre os melhores desempenhos, principalmente diante de sua já forte eficiência”, conforme apontaram os analistas do BBI.

Vale destacar que, limitando os ganhos do setor, estão os temores sobre: i) aumento da concorrência; ii) novo sistema de pagamentos (PIX), desenvolvido pelo Banco Central e; iii) possível aumento de impostos na pauta do Congresso Nacional (neste mês, o Senado aprovou o teto de juros para cheque especial e cartão). Até que essas questões não se dissipem, a expectativa é que a volatilidade continuidade para os papéis.

Já a fabricante de bebidas Ambev (ABEV3) teve queda do lucro líquido pela metade no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, com as vendas e volumes impactados pela pandemia do coronavírus e despesas financeiras maiores. Um número, porém, surpreendeu: a boa surpresa com a venda de cervejas no Brasil. Neste segmento, a empresa registrou uma queda de apenas 1,6% nas vendas, sendo que o mercado projetava um recuo entre 15% e 25%.

Contudo, as projeções sobre a recuperação da companhia ainda são díspares. O principal motivo defendido pelos mais pessimistas está nas margens, em especial pela mudança do padrão do consumo durante a pandemia: saíram as garrafas retornáveis consumidas nos bares para a entrada das latinhas, mais vendidas nos supermercados e com custos mais altos.

Do lado dos mais otimistas, o Credit Suisse mantém a sua recomendação outperform (acima da média do mercado) para os ativos, cuja recomendação foi elevada para outperform após o balanço. “Com a abertura de bares e restaurantes acreditamos que devemos ter uma combinação interessante entre mais retornáveis com menos latinhas e, consequentemente, levando a uma queda no crescimento de custos dos produtos vendidos”, afirmam.

Enquanto isso, algumas seguradoras tiveram bons números, mas a avaliação é de que eles não são sustentáveis, como é o caso da SulAmérica (SULA11). O lucro da companhia subiu 91% no segundo trimestre de 2020, para R$ 498 milhões, superando as expectativas que já eram altas em meio à pandemia. Neste período, o retorno sobre o capital investido (ROE, na sigla em inglês) foi de R$ 27%. O analista Marcel Campos, da XP Investimentos, aponta que esse resultado tem a ver com uma menor taxa de perda, uma vez que os clientes que contratam planos de saúde pararam de ir aos hospitais com temor de contrair o novo coronavírus. Desta forma, ele classificou o resultado como “insustentavelmente bom”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.