Ambev: o que separa os otimistas e os desconfiados com a recuperação da companhia no pós-pandemia

Analistas se preocupam com as margens e se dividem entre manter a cautela e acreditar que isso é transitório e não deve prejudicar a companhia

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde que divulgou seu resultado do segundo trimestre, a Ambev (ABEV3) tem levado a uma divisão dos investidores e analistas: alguns ficaram otimistas com os números apresentados e a boa surpresa com a venda de cervejas no Brasil mas, para outros, o cenário ainda é de cautela.

O principal motivo defendido pelos mais pessimistas está nas margens, em especial pela mudança do padrão do consumo durante a pandemia: saíram as garrafas retornáveis consumidas nos bares para a entrada das latinhas, mais vendidas nos supermercados.

Na teleconferência de resultados, Lucas Lira, diretor financeiro e de relações com investidores da Ambev, explicou que a cerveja em lata tem um custo mais alto do que a de garrafa, o que ajudou a pressionar a margem bruta da empresa entre abril e junho.

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E diante disso, mesmo com analistas resumindo o resultado do segundo trimestre como positivo, o que se vê até agora não é uma comemoração no mercado. As ações ABEV3, desde que o balanço saiu, em 30 de julho, caíram 10%, cotadas atualmente a R$ 13,54.

Do lado dos mais otimistas, o Credit Suisse decidiu manter sua recomendação outperform (acima da média do mercado). Em relatório divulgado nesta terça-feira, os analistas explicaram os motivos para acreditar que a preocupação com as margens não deve pesar.

“O call de Ambev, assim como bancos, tem sido uma das maiores ‘bolas divididas’ do mercado. A empresa reportou um trimestre de volumes fortes e indicativos razoáveis de que estava ganhando share dos competidores. Mas a maior parte do mercado não gostou dos níveis de margens”, destacam.

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Para os analista do banco suíço, o mix foi o principal motivo para a queda de 28,6% do Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) no segundo trimestre e consequente compressão da margem.

Segundo eles, cerca de 80% da queda do Ebitda de cerveja no Brasil pode ser explicado exatamente por essa mudança de mix, ou seja, no fato do consumo ter passado das garrafas para as latinhas.

“Com a abertura de bares e restaurantes acreditamos que devemos ter uma combinação interessante entre mais retornáveis com menos latinhas e, consequentemente, levando a uma queda no crescimento de custos dos produtos vendidos”, afirmam.

“A margem Ebitda de cerveja de 31,2% não parece ser o novo normal e sim transitório. Entendemos que existem pressões de custo a partir de 2021 e trabalhamos com margem Ebitda de cerveja de 36,8% e gradualmente retornando para 43% na perpetuidade”, explica o Credit ao justificar seu otimismo com a ação.

Os mais cautelosos

Já no grupo dos analistas que ainda não se empolgaram com a Ambev, a XP decidiu elevar seu preço-alvo para os papéis de R$ 15 para R$ 16, mas manteve uma recomendação neutra.

Segundo a analista Betina Roxo, esta decisão se dá pelas “margens ainda pressionadas adiante, com dificuldade no repasse de preços, competição acirrada e pressão de custos”.

“Nas nossas novas estimativas, as ações da Ambev negociam a 20 vezes a relação preço sobre o lucro esperada para 2021, um patamar justo em nossa visão. Por outro lado, enxergamos as iniciativas de inovação da Ambev como positivas para a empresa no longo prazo, porém ainda difíceis de serem quantificadas”, explica.

Entre estas iniciativas, a XP aponta o serviço de entregas criado pela companhia, o Zé Delivery, que entregou 5,5 milhões de pedidos no segundo trimestre, mais de 3,6 veze o total de 2019. Além disso, a digitalização do relacionamento com os clientes e a expansão do portfólio da companhia também foram positivas.

De um lado, Betina destaca os bons números de vendas de cerveja no Brasil – apesar de prever um resultado pior que o de 2019 neste ano por conta da pandemia. Por outro lado, ela destaca que o segmento brasileiro de bebidas não-alcoólicas (NAB) foi a grande surpresa negativa.

“Entendemos que, no curto-prazo, a dinâmica do setor deve seguir mais pressionada, especialmente em termos de volume, que só deve voltar aos patamares pré-crise na virada do ano”, afirma a analista.

Recentemente, Cátilo Cândido, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Latas Alumínio (Abralata), declarou que hoje, de toda cerveja vendida no Brasil, 70% é em lata, contra 50% antes da pandemia. Já na indústria de latinhas, cerca de 80% do volume é para cerveja, segundo ele.

Segundo Cândido, junho foi um dos melhores números de vendas já registrados para a indústria de latas no Brasil, e a expectativa é que julho mantenha esse crescimento.

Para a equipe do Bradesco BBI, os comentários do presidente da Abralata sugerem que a demanda por cerveja no Brasil manteve sua tendência positiva em julho, o que é bom para a Ambev.

“No entanto, vemos vendas estruturalmente mais altas em latas versus garrafas retornáveis como negativas para as margens, pois estimamos que a vantagem de custo das garrafas retornáveis (que podem ser reutilizadas mais de 20 vezes) permite que a cerveja seja vendida a preços 20% a 30% mais baratos ante as latas”, explicam os analistas, que possuem recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de R$ 15,50 para o papel.

Por sinal, essa é a recomendação que predomina entre as casas de análise que cobrem os ativos, de acordo com compilação feita pela Bloomberg: de 17 casas, 9 recomendam compra do papel, enquanto 4 possuem recomendação neutra e 4 de compra. Assim, apesar dos sinais animadores, os analistas preferem manter cautela com o papel.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.