O “dia D” chegou: Vale não surpreende com resultado – mas analistas exaltam volta do pagamento de dividendos

Balanço foi em linha com o esperado, mas o que chamou a atenção foi a volta da tão esperada política de pagamento de dividendos

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – A Vale (VALE3) divulgou resultados fortes na noite da última quarta-feira (29). Assim, os números apresentados não surpreenderam muito, uma vez que os analistas já esperavam um bom desempenho por conta dos preços mais altos do minério de ferro e da recuperação do volume de vendas (ainda que impactado pelo coronavírus). A companhia reverteu prejuízo de US$ 133,0 milhões entre abril e junho de 2019 e e reportou lucro líquido de US$ 995 milhões no segundo trimestre deste ano.

Desta forma, o que repercute entre os analistas e que, de certa forma, também já era esperado, é a retomada da política de dividendos na companhia, interrompida no início de 2019 por conta da tragédia de Brumadinho.

No balanço, entre os destaques, a companhia registrou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado de US$ 3,6 bilhões – excluindo os impactos de Brumadinho e do coronavírus em US$ 215 milhões, em linha com o consenso de mercado.

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Conforme destaca a XP Investimentos, os volumes e os preços mais altos do minério de ferro mais do que compensaram os custos.

O Ebitda do segmento de minério de ferro em US$ 3,5 bilhões teve alta de 23% acima na comparação trimestral e levemente abaixo do consenso, em 1%. O custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto – o chamado custo caixa C1 – foi maior em 6% na comparação anual, a US$ 17,10 a tonelada, como resultado do consumo de estoques com média mais alta de custos de produção, entre outros fatores.

Contudo, no segundo semestre, a empresa espera o C1 menor, em torno de US$ 14,50 a tonelada, devido ao aumento da produção e considerando câmbio favorável. Os custos de frete diminuíram 21% no trimestre com preço do frete spot mais baixo e os custos mais baixos de combustível.

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Como um ponto que foi visto como negativo, os analistas de mercado apontaram a geração de fluxo de caixa livre de US$ 277 milhões, mas que, na avaliação do Credit Suisse, deve subir à frente uma vez que a relação entre dívida líquida e Ebitda deva se manter em 0,3 vez. Entre os pontos negativos, o Bradesco BBI também apontou a provisão de US$ 566 milhões relacionada à Fundação Renova da Samarco.

Para o Itaú BBA, os resultados operacionais foram neutros, mas destacaram a maior diluição do custo fixo em melhores volumes. “Mas a geração de caixa foi prejudicada pelo maior capital de giro. No entanto, a posição de caixa é confortável o suficiente para pagar US$ 5 bilhões em crédito rotativo”, destacaram.

De qualquer forma, a grande repercussão ficou para a retomada de dividendos. Em comunicado divulgado praticamente ao mesmo tempo que o release de resultados, a companhia informou que seu Conselho decidiu restabelecer, sem alterações, a política de remuneração aos acionistas suspensa em janeiro de 2019, após rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que matou 270 pessoas.

Com isso, serão pagos, em setembro, dividendos mínimos calculados com base nos resultados do primeiro semestre de 2020 – ainda sem valor e data definidos. A empresa também vai pagar, em 7 de agosto, juros sobre capital próprio de aproximadamente R$ 1,41 por ação.

Os analistas do Bradesco BBI destacaram como positiva a retomada da política de distribuição de dividendos em relatório chamado “O dia D finalmente chegou”.

“No topo de um mercado resiliente de minério de ferro e na melhoria das tendências operacionais no segundo semestre, esperamos que as ações da Vale sejam reavaliadas, impulsionadas pelo pós-risco após o acidente de Brumadinho e possibilidade de dividendos consideráveis em 2020 e 2021”, avaliou o Bradesco BBI em relatório a clientes. A recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts, ou recibo de ações – na prática, os papéis da empresa negociados nos EUA) é outperform, com preço-alvo de US$ 17, o que representa um potencial de valorização de 40% em relação ao fechamento dos papéis nos EUA na véspera.

A retomada do pagamento de dividendos também foi vista como positiva pelos analistas do Credit Suisse, com manutenção da recomendação em “outperform”.

“Considerando que a Vale acabou de restabelecer sua política de dividendos, acreditamos que é apenas uma questão de tempo até que produza pagamentos generosos, que acreditamos que poderiam atingir pelo menos 6% em 2021. Além disso, esperamos que os embarques de minério de ferro se recuperem e, com isso, os benefícios da diluição de custos”, apontam os analistas, segundo relatório divulgado a clientes.

Na mesma linha, o Itaú BBA destaca que a volta do pagamento de dividendos mostra que a Vale está
confortável com as perspectivas de suas tendências operacionais, com sua atual estrutura de capital e com as expectativas de desembolsos para compensações e indenizações por Brumadinho. “Aplicando a política regular, a Vale poderia distribuir até US $ 1,3 bilhão em dividendos em setembro (rendimento de 2,1%, ainda não foi confirmado)”, apontam os analistas, que também possuem recomendação outperform para o papel, com preço-alvo de US$ 13, o que representa uma valorização de 7,5% frente o fechamento da véspera.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.