Após reveses recentes de Sabesp e Sanepar, o que os analistas esperam para as ações do setor?

Casas de análise possuem visões bem distintas sobre companhias em meio ao noticiário recente sobre privatização e reajuste de tarifas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Depois do ânimo com as empresas de saneamento após a aprovação do marco legal do setor no final de junho e a sanção da lei por Jair Bolsonaro, duas companhias do setor listadas em Bolsa sofreram alguns contratempos por conta de recentes sinalizações dos seus respectivos controladores, os governos estaduais.

Na terça-feira da semana passada (19), a fala do governador de São Paulo, João Doria, dando sinais de que a privatização da Sabesp (SBSP3) estaria mais distante do que um modelo de capitalização – ainda que nada tenha sido decidido ainda -, fez com que as ações caíssem forte e levou os analistas a revisarem as suas expectativas para a estatal de saneamento paulista (veja mais clicando aqui).

Já nesta semana, as units da paranaense da Sanepar (SAPR11) tiveram forte volatilidade: na terça-feira (25), os ativos saltaram 7,63% após a agência reguladora autorizar, a partir de novembro, o reajuste tarifário anual de 2020 em 9,6%, que vinha sendo adiado desde maio em função da pandemia. Contudo, dois dias depois, a ação fechou em baixa de 6,21%, após o governo do Paraná pedir suspensão do reajuste de tarifa. O governo alega que o aumento compromete ainda mais o orçamento doméstico de grande parte da população, que já convive com a queda de renda em razão dos efeitos adversos da pandemia do novo coronavírus sobre o mercado de trabalho e também por causa da calamidade hídrica.

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Cabe destacar que, um pouco antes da publicação do pedido de suspensão, o Bradesco BBI havia revisado em relatório as expectativas para a companhia, reforçando recomendação de compra e destacando que o ativo era o mais descontado do setor e colocando preço-alvo em R$ 40, um potencial de valorização de quase 50% em relação ao fechamento da véspera.

Entre os motivos para o otimismo do banco até então, estava justamente a redução do risco regulatório com a autorização do reajuste, com os analistas reforçando que a companhia é  bem administrada e, embora a privatização não fizesse parte da tese de investimento (o Paraná não tem intenção de vender a empresa pelo menos por enquanto), a dinâmica de ganhos é positiva dada a redução de 7% do quadro de colaboradores que deve se apresentar integralmente no quarto trimestre.

Contudo, a notícia sobre o pedido para suspensão do reajuste acabou reacendendo os temores sobre a companhia, que vinham desde 2017, quando ela estendeu o seu reajuste tarifário por um período de oito anos e decepcionou os investidores na estatal.

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“Embora a agência reguladora não seja obrigada a suspender as tarifas (e tenha aprovado corretamente o aumento), a governança da empresa não está clara”, apontaram os analistas do Credit Suisse.

Na mesma linha, Gabriel Francisco, analista da XP Investimentos, destacou ver a notícia como negativa para a Sanepar, também destacando o seu histórico atribulado com respeito a revisões e reajustes tarifários e a incerteza que o tema inspira em seus investidores.

“Apesar disso, notamos que as ações já negociam a um elevado desconto em relação às suas pares como reflexo deste cenário regulatório mais incerto”, afirma o analista, mantendo a recomendação de compra nas ações da Sanepar com preço alvo de R$ 32 por unit, o que corresponde a um potencial de valorização de 20% frente o fechamento da véspera.

Na mesma linha, está o Morgan Stanley que, ao realizar reuniões com investidores estrangeiros para debater o setor, reforçou que a ação é a mais descontada entre os seus pares, com um múltiplo de EV/RAB (EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida”; RAB = base de ativos regulatórios) de 0,75 vez, mas aponta duas razões para isso. Um deles é o risco sobre a tarifação e o outro é a crise hidrológica do Paraná, que está impactando negativamente os volumes devido às contínuas medidas preventivas para redução de consumo.

Os analistas seguem com recomendação overweight (exposição acima da média) para o papel, mas estão taticamente mais cautelosos justamente por conta desses riscos.

Por outro lado, Miguel Rodrigues, Fernando Amaral, Alexandre Zimmermann, possuem preferência pela Copasa (CSMG3), estatal de Minas Gerais. Apesar de não enxergarem a privatização da companhia no horizonte de curto prazo, eles destacam ver uma relação de risco-retorno atrativa, uma exposição ao cenário macroeconômico menor, (o segmento industrial representa 4% e o comercial 14% do volume distribuído de água) e o fato de ter um balanço sólido apesar de ter dívida em moeda estrangeira. Além disso, apontam evolução operacional e que ela é relativamente uma melhor pagadora de dividendos. A ação negocia a um múltiplo de 0,8 vez o EV/RAB.

A visão mais positiva contrasta com a da XP e do BBI. A XP segue com recomendação de venda para os ativos CSMG3, com preço-alvo de R$ 46 por ação (queda de 7%), destacando justamente o cenário complexo para a concretização de uma eventual privatização da companhia nos ambientes estadual e municipal, apesar das declarações reiteradas do governo estadual a favor de mudar o controle da companhia para as mãos privadas.

Atualmente, a alienação de uma empresa estatal no Estado de Minas Gerais necessita ser aprovada por três quintos dos votos da Assembleia Legislativa (na qual o partido do governador Romeu Zema, o Novo, elegeu 3 de 77 representantes) e aprovação em um referendo popular. E alterar a Constituição do Estado também exigiria uma maioria de três quintos dos votos, o que é considerado desafiador.

Já o BBI possui recomendação neutra e um preço-alvo de R$ 64 para os ativos CSMG3, destacando que o múltiplo negociado menor é justificado também devido à falta de progresso pelo estado de Minas Gerais quanto às mudanças necessárias na legislação estadual para permitir a privatização de ativos.

Com relação à Sabesp, os analistas do BBI possuem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 70 (upside de 38%) para os ativos para o final de 2021. “Destes três, escolhemos a Sabesp como a melhor opção relacionada ao tema da privatização. Sua avaliação atual implica que a privatização não está precificada, enquanto em um cenário de que o estado de São Paulo decida vender a empresa, o valor justo poderia subir para R$ 94,00 (upside de 86%)”, apontam.

Já o Morgan Stanley possui recomendação equalweight para os ativos, destacando que o múltiplo de 1 vez o EV/RAB está acima das ações das demais companhias do setor e, apesar de ver um potencial de valorização de 65% dos ativos em um cenário de privatização, há desafios nesse processo e não há convicção quanto à vontade do governo de avançar com esta opção. Também ressaltando os desafios com a privatização, a XP possui recomendação neutra para SBSP3, com preço alvo de R$ 51 por papel (upside de 1%).

Importância do marco legal

De qualquer forma, mesmo com visões bastante diferentes sobre as ações, os analistas destacam a importância da aprovação do marco legal do saneamento para o setor.

“A oportunidade de investimento no setor de saneamento é enorme. Com investimentos de aproximadamente R$ 700 bilhões sendo necessários para atingir as metas de universalização do serviço até 2033, e o novo marco do setor de saneamento deve ajudar a atrair capital privado, sem o qual esta será uma missão impossível”, avalia o BBI.

Por outro lado, o Morgan destacou que os investidores estrangeiros acreditam que grandes players europeus de saneamento não estariam interessados ​​em expandir suas operações para o mercado de saneamento no Brasil. Isso ocorre principalmente porque, embora o marco do saneamento provavelmente melhore a perspectiva legal e regulatória do setor, as mudanças provavelmente levarão tempo para se materializar. Além disso, haveria apenas algumas empresas de saneamento no Brasil grandes o suficiente para atrair esses players.

Ainda assim, a maioria dos investidores concorda que outros players internacionais podem estar interessados, assim como empresas locais, como a Equatorial (EQTL3), avaliam.

Confira as recomendações dos analistas para as ações do setor de saneamento (compilação Bloomberg):

Empresa Ticker Recomendação de compra Recomendação neutra Recomendação de venda
Sabesp SBSP3 9 9 0
Sanepar SAPR11 11 2 0
Copasa CSMG3 6 10 1

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.