Após recuperação, ações de grandes bancos podem subir mais? Analistas acham que sim – e destacam preferidas

Papéis do Banco do Brasil têm aumentado destaque na preferência, enquanto Santander Brasil divide analistas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – De outubro para cá, as ações dos grandes bancos brasileiros passaram por um verdadeiro movimento de recuperação na B3, registrando ganhos de até 60% no período. Santander Brasil (SANB11) foi o que mais se destacou, com alta acumulada de 62% no período até o fechamento da véspera; Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), por sua vez, avançaram 42% e 39%, respectivamente, enquanto Banco do Brasil (BBAS3) teve ganhos mais modestos, de 34%.

Os ganhos começaram a ter maior força em meio à expectativa dos analistas de que as instituições financeiras passariam a registrar bons resultados para o terceiro trimestre, após um primeiro semestre de 2020 bastante desafiador por conta do aumento das provisões para devedores em meio à crise com a pandemia do coronavírus. Números esses que foram confirmados conforme foi dada a largada para a temporada de balanços do período, ainda que os dados do terceiro trimestre mostrassem uma queda na comparação com igual período de 2019(veja mais clicando aqui).

Posteriormente, a expectativa de avanços da vacina (com alguns países já iniciando a vacinação nas últimas semanas) intensificou esse movimento, com os investidores saindo de ações que ganharam muito valor de mercado durante a pandemia – como de companhias de e-commerce – e indo para papéis de petroleiras, aéreas e bancos, que tiveram forte queda no período mais agudo da crise.

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Porém, agora, com a recuperação recente dos papéis, ainda há espaço de alta para os ativos do setor financeiro? E quais estão mais ou menos atrativos?

Na avaliação dos analistas do Credit Suisse, após uma alta considerada merecida, a tendência de alta deve seguir com a continuidade do movimento de rotação das ações de crescimento para a de valor frente ao cenário de recuperação da economia, expectativas de melhorias significativas no lucro em 2021 e valuation ainda descontado em relação aos níveis pré coronavírus.

Em relatório publicado na última sexta-feira, os analistas destacaram que Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil ainda estavam negociando a 15% abaixo da média do seu múltiplo P/B (Price-to-Book) – usado para comparar o preço de mercado atual de uma empresa com seu valor contábil, – esperado para doze meses, o que fez com que os analistas reforçassem a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as instituições.

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Já o Banco do Brasil, mesmo com a recuperação, ainda está para trás versus os seus pares no setor privado, destacando que o múltiplo P/B estava em 0,43 vez (desconto de 57%), níveis apenas vistos antes das eleições de 2018 e 16% abaixo da sua média histórica.

“Na nossa visão, o desconto do Banco do Brasil é excessivo e não é justificado pelos fundamentos”, ressaltam, destacando que a mudança de crescimento para valor está acontecendo para o setor privado em bancos, mas ainda não para o BB.

O Banco do Brasil também está entre as preferências da XP Investimentos, também para o ano que vem, conforme ressalta Marcel Campos, analista do banco.

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Ele reforça a avaliação de que, embora os bancos incumbentes tenham sido beneficiados pelo movimento de rotação entre os setores da B3, a distância do Banco do Brasil para os bancos privados se tornou ainda mais notável.

Adicionalmente, Campos destaca a carteira mais defendida do banco estatal, com mais de 40% da carteira nos segmentos de agronegócio e consignado, enquanto ela também pode ser a possível beneficiária de fatores não dependentes da economia, como redução de provisões operacionais e custo de captação mais barato via depósitos judiciais.

O analista aponta cinco fatores para apostar na retomada do setor como um todo em 2021: i) o mix de crédito deve retomar a rotação com maior rentabilidade, voltado para pessoas físicas; ii) a margem financeira (NIM) deve ser pressionada, porém parcialmente compensada pelo mix de crédito, iii) os bancos estão bem capitalizados e as provisões estão reduzindo antes do esperado, tendo em vista que a crise ainda não impactou efetivamente os bancos em termos de inadimplência e baixas em função do período de carência e que as instituições estão bem provisionadas com índice de cobertura médio de 320%; iv) a retomada da atividade econômica deve impulsionar os volumes para receitas de varejo, devido às medidas de relaxamento para conter a pandemia e a fraca base comparativa de 2020 e v) os custos nominais devem diminuir conforme a aceleração da redução da operação física, com redução de despesas com pessoal impulsionada pelos planos de desligamento voluntário (PDV) de 2020.

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Porém, há riscos no radar a serem acompanhados de perto: i) índice de inadimplência, cujo pico deve ocorrer no primeiro semestre de 2021; i) o êxito do PIX, sistema de pagamentos e transferências instantâneas do Banco Central, que deve pressionar as receitas de serviços e o valor agregado dos pacotes e o iii) aumento na alíquota de imposto, embora esse risco diminua à medida em que a crise se afasta.

Em conversa recente com investidores sobre as perspectivas para as instituições financeiras da América Latina em 2021, o Morgan Stanley destacou que há preferência pelos grandes bancos brasileiros (além de alguns chilenos e peruanos), apontando a capacidade de resistir ao aumento da inadimplência, de forma a apresentar níveis saudáveis de crescimento à medida que as economias se recuperam.

Apesar de terem, no geral, uma boa visão sobre as grandes instituições financeiras brasileiras, alguns investidores locais continuam pessimistas quanto à concorrência com as fintechs e os riscos regulatórios, que eles veem que podem pressionar o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de longo prazo.

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Na opinião desses investidores, os riscos regulatórios para os bancos brasileiros são mais agudos do que em outras regiões do mundo, principalmente devido ao compromisso do regulador – Banco Central – em promover uma concorrência maior, com iniciativas como o Pix e o open banking. Isso, junto com a pressão crescente sobre a receita de tarifas com a maior concorrência de fintech e taxas de juros a níveis sustentavelmente mais baixos pode resultar em um declínio estrutural nos níveis de ROE dos bancos nos próximos anos.

Tempo para recuperação

Contudo, na avaliação dos analistas Morgan, as fintechs provavelmente não pressionarão os lucros dos bancos no curto prazo, o que deve acontecer mais para frente.

“Nesse ínterim, contudo, acreditamos que a forte recuperação de crédito (por conta da grande demanda de crédito reprimida e uma melhora da acessibilidade), as melhoras de margem e o forte corte de custos mais do que compensarão o impacto da concorrência mais forte e, potencialmente, ajudarão o sentimento do investidor nos próximos dois anos”, avaliam os analistas do Morgan.

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Cabe ressaltar que, no sentido de cortar os custos, os bancos fecharam 1.444 agências no Brasil nos 12 meses até novembro, 78% a mais que nos 12 meses anteriores, no maior corte desde 2017, de acordo com dados do Banco Central compilados pela Bloomberg. As medidas de restrição por causa da Covid-19 forçaram os clientes a usarem mais serviços pela internet ou telefone. Os executivos do setor ainda apontaram à agência que mais está por vir.

Entre os cinco maiores bancos, o Bradesco foi o mais agressivo nos 12 meses até setembro, fechando 772 agências, seguido pelo Itaú com 203, segundo os balanços dos bancos. Para Nathan Dean, analista da Bloomberg Intelligence, o Bradesco já está transformando sua rede de agências. “Eles têm essa ideia de agências satélite – menores, com uma ou duas pessoas”, disse Dean.

Para o analista, os bancos também estão focados em aumentar sua tecnologia e isso não é somente uma questão de economia de custos que ela gera. “Os bancos querem ter certeza de que estão abraçando a ideia da tecnologia”, disse ele. “É mais uma questão de estratégia – que tipo de banco queremos ser daqui a três ou cinco anos.”

O Morgan Stanley avalia esperar a continuidade do que chama de “racionalização das agências”, acreditando que há mais comprometimento da gestão e espaço para cortes de custos no Brasil em comparação aos seus pares latino-americanos.

A expectativa da equipe de análise é otimista para o setor, principalmente levando em conta a retomada da economia. “Com uma vacina Covid no horizonte, estamos focados na recuperação econômica do Brasil e nas implicações para os lucros e o ROE. A combinação de taxas de juros baixas históricas e grande demanda reprimida por empréstimos deve desencadear um período de vários anos de forte crescimento do crédito. Vemos espaço para uma surpresa positiva da margem líquida de juros [NIM], uma vez que o mercado está muito pessimista sobre a concorrência de fintech e subestimando os benefícios do atual excesso de liquidez e a melhoria do mix de ativos à medida que os empréstimos aumentam”, avaliam.

Além disso, mesmo vendo que os bancos podem se beneficiar com a alta de empréstimos em meio às taxas baixas, o aumento da Selic esperado para o próximo ano (projeções de economistas consultados pelo Relatório Focus é de Selic a 3% ao fim do ano que vem, ante patamar atual de 2%) , podem ajudar as expectativas de aumento da NIM.

Em meio a esse cenário, o ROE ajustado ao risco (ROE excluindo taxas livres de risco, que estão em patamares mínimos por conta da Selic baixa) deve atingir os níveis de 2019 até o final de 2021 o que, segundo o Morgan, o mercado parece ignorar, dado seu foco no ROE nominal. Os nomes favoritos para o Morgan, por sua vez, ao contrário dos nomes citados pelo Credit e XP, são os bancos Itaú e Bradesco.

Olhando para o quadro abaixo, com a compilação das recomendações feita pela Refinitiv, a visão no geral é positiva para o setor. Mas é notório também destacar que, enquanto as recomendações de compra são uma unanimidade para os papéis BBDC4 e o potencial de valorização é maior para as ações do Banco do Brasil, há uma maior divisão dos analistas com relação às units do Santander.

Confira abaixo as recomendações dos analistas para as ações de bancos: 

Instituição Recomendação de compra Recomendação neutra Recomendação de venda Preço-alvo médio Potencial de valorização* Desempenho das ações em 2020*
Banco do Brasil 11 3 0 R$ 47,54 +21% -23%
Itaú PN 11 3 0 R$ 33,33 +5% -11%
Bradesco PN 13 0 0 R$ 29,75 +10% -17%
Santander Brasil 6 6 1 R$ 39,04 -13% -3%
*Com relação ao fechamento de quarta-feira (16)

A XP, por exemplo, destaca o papel do Santander como comparativamente mais caro em relação aos outros, mantendo recomendação neutra para a ação da instituição.

Vale destacar ainda que, durante o ano, a instituição financeira mostrou uma forte mudança em suas provisões para devedores duvidosos. Entre julho e setembro de 2020, o banco registrou lucro líquido de R$ 3,9 bilhões, alta de 82,7% em relação ao trimestre anterior e de 5,3% sobre igual período de 2019, 35% acima da média do que esperavam os analistas e que foi creditado sobretudo à redução das despesas com reservas para eventuais calotes. O banco informou que não precisou recorrer aos R$ 3,2 bilhões de provisões extraordinárias feitas no segundo trimestre para fazer frente à inadimplência prevista em decorrência da crise trazida pela pandemia.

Contudo, a ponderação dos analistas é de que o resultado positivo poderia não ser sustentável daqui em diante, isso porque a recuperação da economia depois do baque da pandemia é incerta.

Conforme os analistas do banco Morgan Stanley divulgaram em relatório no final de outubro,  o”cobertor” do Santander para um eventual aumento de calotes entre o fim deste ano e o início de 2021 está curto em relação ao cuidado dos outros bancos. Os analistas Jorge Kuri, Jorge Echeverria, Eugenia Sanchez e Alexandre Namioka, dos times do Morgan nos Estados Unidos e do Brasil, disseram, em relatório: “O risco do Santander é que sua taxa de reservas ainda está bem abaixo dos pares, em 6,3% neste trimestre, versus uma média de 8% nos pares.”

Por outro lado, entre as notícias que podem desbloquear valor para a ação, a de que o banco estuda a cisão do negócio de maquininhas, GetNet, com a sua possível listagem nas bolsas brasileira e americana.  “Estimamos algo em torno de R$ 8 bilhões de criação de valor após a cisão, que seria impulsionado pelo maior múltiplo de negociação da Getnet em comparação com o banco”, apontou o Safra em meados de novembro, em relatório de análise em que manteve a recomendação de compra para o Santander Brasil com preço-alvo de R$ 46 por ação para 2021 (alta de 2% com relação ao fechamento da véspera). Contudo, ainda há quem esteja mais cauteloso com a operação, esperando mais detalhes sobre a operação e as reais motivações para que ela aconteça (veja mais clicando aqui).

Assim, entre a alta recente dos papéis, mas ainda sem se recuperarem totalmente em 2020 e com desafios com relação à competição mais à frente e tendo que enfrentar um cenário nebuloso na economia, os bancos ainda são vistos como um setor promissor na B3, mas com os analistas selecionando os papéis com maior potencial. Banco do Brasil, por ter ficado mais para trás em meio à recuperação recente do setor, ganha força entre as apostas, enquanto o Santander Brasil tem dividido mais a opinião dos analistas.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.