Melhora do lucro, desafios à frente: os sinais que os balanços de Itaú, Bradesco, BB e Santander deram aos investidores

Como já antecipado pela forte alta do setor no mês de outubro, bancos tiveram melhora nos resultados, mas diversas questões permanecem no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Como já tinha sido antecipado levando em conta o bom desempenho das ações do setor durante quase todo o mês de outubro, os resultados dos quatro grandes bancos brasileiros de capital aberto na Bolsa no terceiro trimestre apresentaram uma melhora sequencial em relação ao trimestre anterior, no período mais agudo da pandemia do novo coronavírus.

Contudo, os bancões – com exceção do Santander Brasil (SANB11) – ainda registram queda do lucro na comparação com igual período de 2019.

Conforme destacado pelo quadro abaixo, Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3), Santander Brasil e Itaú (ITUB4) lucraram, conjuntamente, cerca de R$ 17,4 bilhões, alta de 28% na comparação trimestral, mas baixa de 20,6% na base anual, em meio a uma menor provisão com perdas após um período em que os bancos tiveram que constituir um enorme colchão de liquidez para se proteger de eventuais calotes.

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A média do retorno sobre o patrimônio anualizado (ROE) dos quatro “bancões” no terceiro trimestre do ano foi de 13,58%, segundo cálculo da Economática. Esse é o quarto menor ROE da série histórica, atrás daqueles vistos nos três primeiros trimestres de 2017. Já a maior mediana de ROE foi no primeiro trimestre de 2008, com 26,98%, de acordo com dados da consultoria.

Vale ressaltar ainda que a pandemia empurrou as carteiras de empréstimos dos bancos para operações de menor risco – e também menor ganho -, como linhas no consignado e o crédito imobiliário, ou para programas criados pelo governo para socorrer as empresas, como o Pronampe.

Enquanto isso, as provisões para devedores duvidosos (PDD) totalizaram R$ 20,7 bilhões no 3º trimestre, 21,8% inferior ao do 2º trimestre de 2020, mas alta de 35,8% na base anual.

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O Banco do Brasil  apresentou a maior provisão no trimestre, de R$ 6,71 bilhões, sendo seguido pelo Itaú, com R$ 5,44 bilhões, Bradesco com R$ 5,40 bilhões, e Santander Brasil, com provisão de R$ 3,13 bilhões.

O Santander Brasil, que abriu a temporada de divulgação de resultados dos bancos, se mostrou o mais otimista, com os níveis de provisão quase voltando a um nível considerado próximo à normalidade. Com isso, o lucro líquido gerencial foi de R$ 3,902 bilhões no terceiro trimestre de 2020.

Vale destacar que, no primeiro trimestre, o banco apresentou provisões para perdas com devedores duvidosos abaixo do esperado, o que foi compensado no período seguinte. Neste trimestre, contudo, a provisão voltou a cair.

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Em teleconferência para comentar os resultados, o banco espanhol afirmou que não deve realizar nenhum provisionamento adicional para 2020, considerando o comportamento das taxas de inadimplência até o momento e os níveis de cobertura do banco em relação à carteira de crédito. “Não vejo deterioração da inadimplência e das provisões em 2021 com o PIB crescendo”, disse na ocasião.

Contudo, conforme ressaltou Marcel Campos, analista da XP Investimentos (veja o relatório na íntegra clicando aqui), o Santander aumentou o seu custo de crédito apenas 3% na base anual, enquanto a carteira de crédito aumentou 21% no mesmo período, tornando as provisões do trimestre inferiores a 2019, que foi um ano em termos de qualidade dos ativos estruturalmente melhor, aponta.

Assim, o índice de cobertura do Santander hoje seria de 210% se simular um índice de inadimplência do terceiro trimestre de 2019 (3,0%) na carteira de hoje. “Esse é um índice que não nos sentimos confortáveis dado o pico de inadimplência que deve ocorrer no início de 2021, dado que o banco tem uma carteira majoritária de crédito de varejo com garantias não tão fortes em financiamento de veículos”, avalia o analista.

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Por outro lado, outros indicadores foram vistos como positivos. O Bradesco BBI ressalta as receitas de tarifas, que totalizaram R$ 4,746 bilhões, 4% acima da estimativa do banco e 16% acima do ano anterior. “O melhor desempenho foi suportado por todas as linhas de receita de tarifas, que apresentaram números crescentes no trimestre”, avaliam. Além disso, destacaram a margem de Intermediação Financeira Liquida (NIM) como principal vantagem para o Santander Brasil. Isso porque a carteira de crédito do Santander Brasil cresceu 20% no terceiro trimestre ante igual período do ano de 2019, principalmente influenciada pela carteira de empresas.

Na sequência, o Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 5,031 bilhões no terceiro trimestre. O lucro da instituição financeira representou alta de 29,9% na comparação com o segundo trimestre – quando teve resultado positivo de R$ 3,873 bilhões -, mas ainda com queda de 23,1% na comparação anual.

Conforme destaca o analista da XP, os destaques foram, além do menor custo de crédito, uma vez que as recuperações vieram acima das expectativas e houve redução de provisões, houve maiores receitas de serviços e os custos foram surpreendentemente controlados.

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Para analistas do Credit Suisse, o resultado foi neutro. O lucro pré-provisão decepcionou, assim como o resultado da seguradora, sendo compensados na parte de despesas com provisões, que foram melhores do que esperado.

Na sequência, estiveram os resultados do Itaú, maior banco privado do país, que registrou lucro de R$ 5,03 bilhões no terceiro trimestre de 2020. Segundo o Credit Suisse, do lado positivo, o Itaú tem mostrado tendência de qualidade de ativos melhores do que o esperado e melhores do que os pares, com primeiros sinais positivos dos de empréstimos reperfilados e boa cobertura de novas inadimplências, levando a um fortalecimento ainda maior de seu balanço e indicando que o pico de provisões já passou.

Já do lado negativo, o NII com o desempenho dos clientes foi mais uma vez impactado significativamente pela mudança do mix para empréstimos de menor rendimento, levando a um fraco desempenho de receita. “Depois dos resultados do Bradesco e do Santander, acreditamos que o mercado já antecipou bastante o ambiente mais positivo para o custo do risco e o cenário mais fraco para o NII”, avaliaram.

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Por fim, esteve o resultado do Banco do Brasil, que registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,482 bilhões no terceiro trimestre deste ano, queda de 23,3% na comparação com o mesmo intervalo de 2019. O resultado foi impactado pelo aumento de suas provisões para devedores duvidosos (PCLD), que teve crescimento de 40,5% devido, principalmente, “à constituição de provisões prudenciais de forma preventiva”. Em relação ao segundo trimestre, o lucro avançou 5,2%.

O Bradesco BBI destacou que os números foram bem menos robustos entre os bancos de grande
capitalização, reforçando recomendação neutra para a ação, apesar dos múltiplos descontados em que as ações estão atualmente sendo negociadas.

“Acreditamos que uma parte importante desse desconto é justificada atualmente pelo ímpeto de ganhos muito mais fraco do Banco do Brasil, com o lucro líquido e a lucratividade provavelmente levando alguns anos antes de retornar aos níveis pré-crise, enquanto os outros bancos deveriam fazer isso em menos de um ano. Além das tendências mais fracas de ganhos de curto prazo, também observamos que o Banco do Brasil está estruturalmente mais exposto às receitas de tarifas do que a maioria dos outros bancos. Como resultado, a pior dinâmica de ganhos e a maior exposição
a taxas em uma base relativa nos levam a manter nossa recomendação”, avaliam.

Já Marcel Campos, analista da XP, avalia que o resultado do Banco do Brasil foi em linha com as expectativas impulsionado por: i) maiores receitas de serviços à medida que a retomada da atividade econômica aumentou os volumes; ii) custos controlados, uma vez que o banco reduziu os custos na base anual e manteve-os estáveis ​​no trimestre, mesmo com o segundo trimestre tendo sido um trimestre de baixa atividade econômica; e iii) custo de crédito abaixo do esperado, dado que o banco atingiu um nível de recuperação de crédito surpreendente no trimestre, uma vez que o BB cessou parte da carteira de crédito, majoritariamente em perdas, em julho.

O analista destaca que o resultado foi impactado pela menor NII, mas aponta que isso decorre do resultado da curva de reavaliação do Banco Patagônia, que reduziu consideravelmente o resultado da tesouraria. A NII foi 7% abaixo do esperado por Campos e 5% menor na base trimestral, a R$ 14 bilhões, sendo que os resultados de tesouraria caíram 32% na base anual e 20% na trimestral, para R$ 2,7 bilhões.

Menor custo de crédito, menor NII

Na avaliação de Marcel Campos, da XP, no geral, ao mesmo tempo em que houve queda do custo de crédito, a tendência observada foi de queda da margem financeira, com o menor uso do rotativo do cartão de crédito, além de carteiras de empréstimos para operações de menor risco – com menor rentabilidade -, ou para programas criados para socorrer as empresas.

Com relação à expectativa de alta da inadimplência após uma queda em meio aos programas de renegociação de dívida e com o auxílio emergencial, a avaliação é de que os bancos estão passando uma mensagem positiva, com a sinalização de que as provisões que estão sendo feitas são suficientes mesmo em um cenário mais conservador, ainda que a rentabilidade possa demorar um pouco para se recuperar dependendo da visão de cada instituição.

Nesse cenário, o analista segue preferindo as ações do Banco do Brasil, ressaltando o valuation atrativo do banco, a boa performance digital do banco e a carteira de empréstimos, com bom posicionamento no setor agrícola.

Campos também vê como positiva a nova estratégia do banco, com André Brandão, ressaltando que reconhece que uma mudança da carteira de crédito para linhas mais agressivas seriam positivas e importantes para aproximar a rentabilidade em relação a seus pares.

Vale ressaltar que o BB participou ativamente das duas fases do Pronampe. Um dos efeitos foi um retorno menor nos dois últimos trimestres, revertendo um esforço feito nos últimos anos para se aproximar dos concorrentes privados. O novo presidente afirma que a retomada desse processo será uma das missões do banco.

Sobre o retorno, o Itaú ainda vê pressão no retorno ao longo dos próximos trimestres, destacando que esse é um dos reflexos da postura adotada pelo banco em meio à pandemia. Uma das razões foi o peso maior de operações de atacado, com as empresas buscando crédito no início da pandemia para fazer caixa, e também a postura do banco para priorizar linhas de menor risco.  O executivo disse que a rentabilidade vai melhorar com a retomada econômica, mas lembrou que essas linhas são de longo prazo e não vão maturar nos próximos anos. No entanto, à medida que a carteira de crédito do banco crescer, as linhas com menor rentabilidade serão diluídas.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, considerou a queda do retorno algo pontual. O executivo apontou mudanças regulatórias que afetaram as taxas do cheque especial e também para as linhas emergenciais de crédito do governo com spread menor. Ele lembrou, contudo, que as linhas emergenciais, caso do Pronampe, tem elevado o grau de garantia, ou seja, risco mínimo de perdas.

Além da melhora da rentabilidade, outras questões estão sendo acompanhadas de perto pelos bancos, incluindo a transformação digital e a expectativa de impacto nas tarifas com o Pix (saiba mais clicando aqui), que obrigará as instituições financeiras a oferecerem de graça transferências e pagamentos a clientes.

Para Lazari, a expectativa é de que o novo sistema não tenha um impacto substancial no curto e médio prazo. “O PIX pode ser um detrator da receita de serviços, mas de maneira muito marginal. As pessoas não vão sair usando no lugar do TED e do DOC. Há uma curva de aprendizado. E à medida que ele for sendo mais utilizado, outros negócios do banco irão compensar”, apontou.

Para Campos, o impacto do Pix é negativo para a linha de receita de conta corrente dos bancos, enquanto a analista sênior de instituições financeiras da agência de classificação de riscos Moody’s, Ceres Lisbo, aponta que “o desafio é maior do ponto de vista de rentabilidade do que de inadimplência para os grandes bancos”.

Os desafios da transformação digital e de competição com as fintechs, que permearam todo o ano de 2020, seguem no radar. Além disso, os investidores seguem monitorando o impacto do fim do auxílio emergencial e da renegociação das dívidas na inadimplência, ainda que haja uma visão de que as provisões estão adequadas.

De qualquer forma, em um 2020 de forte queda para as ações de bancos, entre baixa de 23% a 36% no acumulado do período, os analistas apontam oportunidades no setor. Segundo compilação feita pela Refinitiv, Bradesco e Banco do Brasil apresentam o maior número de visões positivas, enquanto Santander e Itaú apresentam maior número de recomendações neutras.

Confira as recomendações para os quatro maiores bancos de capital aberto da B3, segundo dados da Refinitiv:

Bancos Ticker Recomendação de compra Recomendação neutra Recomendação de venda Preço-alvo médio Upside frente o preço atual* Queda da ação no ano
Santander Brasil SANB11 6 6 1 R$ 34,82 +12,50% -26%
Bradesco BBDC4 13 1 0 R$ 29,31 +29% -30%
Itaú ITUB4 9 5 0 R$ 32,34 +18% -23%
Banco do Brasil BBAS3 11 3 0 R$ 46,76 +43% -36%
*cotação intradiária de 9 de novembro de SANB11 a R$ 34,15; cotação de BBDC4 a R$ 22,72; cotação do ITUB4 a R$ 27,31 e cotação do BBAS3 a R$ 32,65

(com Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.