Após maio positivo, perspectivas continuam otimistas para Ibovespa e dólar em junho

Incertezas no cenário internacional diminuíram consideravelmente e acontecimento internos tomam lugar entre os maiores riscos para performance brasileira

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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Maio se firmou como um mês de recuperação para os ativos de risco brasileiros e também para o real – o Ibovespa fechou o mês em alta de 3,22%, aos 111.351 pontos, e o dólar comercial caiu 3,85% frente à moeda brasileira, negociado a R$ 4,752. O avanço se deu após algumas notícias, provindas principalmente do exterior, dissiparem o pessimismo de investidores. Para junho, a perspectiva é que o cenário mundial continue a ser positivo, com os maiores riscos para as ações brasileiras sendo locais.

De maneira geral, a perspectiva de alguns analistas é de que o sexto mês do ano seja mais calmo, justamente pelo fato de que boa parte dos motivos que estava pesando contra a performance das bolsas do mundo.

Nos Estados Unidos, os diretores do Fed afirmaram, na última semana de maio, que as próximas duas altas da taxa oficial de juros dos Estados Unidos não devem ultrapassar os 50 pontos-base. Com isso, eles minimizaram o temor de uma aceleração do aperto monetário – o que é visto como negativo aos ativos de risco.

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“Boa parte dos ativos de risco já caíram bastante e estão em patamares muito baixos, onde não há mais tanto espaço para recuarem, só mesmo se as expectativas de recessão se firmarem”, comenta Kaue Franklin, especialista em renda variável da Aplix Investimentos. “Do outro lado, temos um alinhamento em relação às expectativas de inflação e juros, fazendo com que os mercados tenham mais apetite a risco”.

Ainda nesta frente, alguns indicadores americanos trouxeram que a maior economia do mundo pode estar desacelerando, mas ainda não retrocedendo. O PCE de abril, principal índice de inflação dos Estados Unidos, ficou em 0,2%, dentro do consenso e menor do que os 0,9% de março. O Produto Interno Bruto (PIB), divulgado na semana passada, caiu 1,5% no primeiro trimestre, mais do que 1,3% aguardados, mas baixa ainda pequena após um forte crescimento de 6,9% no último trimestre de 2021.

“O PIB americano retraiu e as leituras de inflação vieram mais fracas do que o esperado. Isso traz um olhar mais positivo para os ativos de risco”, diz Caio Tonet, sócio-fundador e head de renda variável da W1 Capital.

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Apesar de contra-intuitivo, no momento em que o mundo se encontra, o fato de a performance do PIB americano estar pior do que o esperado acaba sendo positivo para o mercado de capitais. Economias muito aquecidas levam, com pessoas consumindo e comprando, a aumento de preços que suscitam apertos monetários mais fortes.

Segundo Tonet, o mercado continuará de olho nesses indicadores durante o mês de junho, que devem pesar nas próximas decisões do Federal Reserve.

Além dos Estados Unidos, China também deve trazer mais estabilidade

A China também foi, entre abril e maio, fruto de incertezas para os investidores que agora, a princípio, também estão diminuindo.

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Em Xangai, uma das principais cidades do país, o lockdown imposto pela política de Covid zero foi encerrado em 1 de junho após dois meses de enclausuramento.

Restrições à circulação no gigante asiático impactam diretamente o mercado internacional, uma vez que há uma quebra de toda a cadeia de produção. Além disso, há também efeitos diretos, e de grande peso, na economia brasileira, uma vez que a China é o maior parceiro comercial e maior comprador de commodities nacionais.

Nesta última frente, das commodities, especialistas mostram algum otimismo, uma vez que a China deve, para conter os impactos dos lockdows, trazer ainda novos estímulos econômicos.

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“O setor de materiais básicos vai ficar em função das medidas que forem divulgadas em apoio à economia chinesa e também dos dados de desempenho”, defende Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.  “Achamos que será positivo, ao menos no curto prazo, com economia se recuperando com os novos anúncios”.

Nesta segunda, o Partido Comunista da China anunciou 33 medidas abrangendo políticas fiscais, financeiras, de investimento e industriais para reavivar sua economia. Segundo levantamento da Bloomberg, o governo pode injetar até US$ 5,5 trilhões na economia local.

“Para o mês de junho, nosso cenário segue com viés positivo para a bolsa brasileira, pela continuidade da alta dos preços das commodities, principalmente do setor de minério de ferro, com a melhora do cenário econômico chinês devido a flexibilização das restrições ao combate do Covid-19”, diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

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No Brasil, incertezas aumentam

Se no cenário internacional há menos “nuvens” pelo caminho, no brasileiro gestores apontam que a tendência pode ser oposta.

Com a aproximação das eleições, investidores começam a ficar mais de olho no que os principais candidatos estão falando – e as declarações, até agora, não se mostram favoráveis a uma boa performance do mercado de capitais.

“O ciclo eleitoral deve começar a entrar nos preços nas próximas semanas”, pontua Martinez.

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Os dois principais candidatos à presidência da República vêm dando declarações que pesam sobre a performance do Ibovespa.

O atual presidente, Jair Bolsonaro, ontem mesmo declarou que Petrobras (PETR3;PETR4 “não pode continuar usando paridade de preços internacionais” e criticou acionistas. Também nessa terça, o ex-presidente Lula, atual primeiro colocado nas pesquisas defendeu “abrasileirar” o preço de combustíveis e criticou os “dividendos bilionários” da petroleira.

Com isso, as ações da Petrobras, que correspondem a cerca de 12% do Ibovespa, não se moveram recentemente, apesar de o preço do petróleo ter avançado.

Analistas ainda afirmam que a petroleira não é a única que passa a sentir o peso das eleições. Outras estatais, como o Banco do Brasil (BBAS3), também devem ser impactadas. Mesmo fora dos holofotes e das polêmicas – que atualmente estão sob os preços dos combustíveis -, a mudança de governo tende a trazer descontinuidade para a gestão dessas companhias.

Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, destacou ainda que o mercado deve monitorar de perto a discussão da Projeto de Lei Complementar (PLP) 18, que limita a cobrança de ICMS da energia, combustíveis, telecomunicações e transporte coletivo. “A discussão pode influenciar muito a inflação, os títulos públicos e a própria bolsa”, explica.

Dólar menos volátil?

Se não houver maiores surpresas na frente internacional, a perspectiva é que o dólar também registre em junho uma menor volatilidade.

“A expectativa é que a melhora da bolsa, caso concretizada, mantenha o fluxo de dólares em direção ao país via investimento estrangeiro, fortalecendo a posição atual”, expõe Pizzani. “No campo comercial, a manutenção dos preços das commodities em patamares elevados tende a beneficiar o desempenho da balança comercial, que deve continuar apresentando superávit mesmo em meio a um período em que sazonalmente o país não apresenta desempenho tão robusto”.

No cenário, as ameaças políticas fiscais também podem gerar algum enfraquecimento ao real – diminuir o ICMS, no longo prazo, é visto como uma ameaça à saúde fiscal, a não ser que haja contrapontos com corte de gastos.

Quando o assunto é interferência nas estatais, o dólar, se houver uma medida como a interferência na política de preços da Petrobras, também tende a avançar.

A moeda americana, para fins de comparação, quando o ex-presidente de Petrobras Roberto Castello Branco foi demitido, em fevereiro do ano passado, avançou mais de 1,5% sobre o real. Mudanças na direção e na forma de governa a empresa são vistas como inseguranças jurídicas.

Por fim, quando o assunto é intervenção nos preços dos combustíveis, há ainda, no final das contas, impactos sobre a situação fiscal do governo – que ou subsidia o produto ou, ao menos, deixa de faturar.

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