BRF (BRFS3) dispara quase 12% com compromisso de aporte bilionário, Marfrig (MRFG3) sobe 6%: o que esperar da operação?

Analistas veem melhora da alavancagem e Salic também como um investidor estratégico que pode e deve melhorar as operações da BRF

Equipe InfoMoney

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As ações da BRF (BRFS3) fecharam em alta de 11,83%, a R$ 8,13, após o anúncio de que a companhia saudita de investimentos Salic e a brasileira Marfrig (MRFG3) se comprometeram com investimento de até R$ 4,5 bilhões na companhia, conforme informou a dona das marcas Sadia e Perdigão nesta quarta-feira.

O investimento, se realizado, vai se dar em uma operação de aumento de capital na BRF por meio da emissão de até 500 milhões de ações ao preço máximo de R$ 9, um ágio de até 24% sobre o valor de fechamento do papel na véspera.

Salic e Marfrig se comprometeram a participar da operação por meio de subscrições de até 250 milhões de ações cada.

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A operação, se realizada, também marcará uma nova investida da Salic no setor de carnes do Brasil, onde já detém participação de 31% na exportadora de carne bovina Minerva (BEEF3).

A Marfrig já controla 33% da BRF e informou mais cedo que seu conselho de administração aprovou preliminarmente um aumento de capital de pelo menos R$ 1,5 bilhão. As ações da Marfrig também registraram fortes ganhos, de 6,24%, a R$ 6,64.

O Bradesco BBI aponta que o aumento de capital é positivo para a BRF e reduziria a dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 3,3 vezes para 2,4 vezes (com base nos dados do 1T23), reduzindo assim as preocupações dos investidores sobre sua alta alavancagem financeira que levou a um desconto de valuation significativo (negociando a cerca de 4,5 vezes o valor da empresa sobre o Ebitda esperado para 2023, versus histórico de 7 vezes).

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“Além disso, o fundo de investimentos da Arábia Saudita anunciou um compromisso relevante relacionado à oferta (pode terminar com 15-16% de participação na BRF caso subscreva integralmente seu compromisso). A Arábia Saudita tem sido o maior importador de frango da BRF nos últimos anos (cerca de 7% das vendas totais da BRF), e, portanto, esse investimento pode reduzir as preocupações dos investidores de que casos recentes de gripe aviária (até agora apenas em aves silvestres) no Brasil possam em algum momento resultar em restrições à exportação”, avaliam.

O Goldman Sachs, que ontem tinha rebaixado sua recomendação para as ações da BRF de neutra para venda, manteve sua postura de cautela.

“Por um lado, um acordo traria um alívio importante para a estrutura de capital da BRF, ao mesmo tempo em que mostrava que investidores estratégicos estariam dispostos a pagar um prêmio pelo atual preço de fechamento. No entanto, ainda vemos um cenário desafiador para a geração de fluxo de caixa livre subjacente e observamos que a remoção da pílula de veneno ainda precisa ser aprovada pelos acionistas”, comenta o time do banco americano, liderado por Thiago Bortoluci.

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A oferta da Marfrig tem como condição a retirada da poison pill  do estatuto social da BRF que estabelece que qualquer acionista disposto a obter uma participação maior que 33,3% precisaria lançar uma oferta pública e pagar pelo menos um prêmio de 40% ao valor médio de negociação dos últimos pregões 120 pregões, o que renderia R$ 9,9 por ação.

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“Estimamos que, se a Marfrig subscrever seu compromisso total de 250 milhões de ações, sua participação na BRF aumentaria de 33,3% para 38-39%”, apontam os analistas do BBI. “Lembre-se que, no contexto do follow-on de R$ 5,4 bilhões precificado em fevereiro de 2022, alguns acionistas se recusaram a dispensar a Marfrig”, contextualiza o Goldman.

Bortoluci, contudo, destaca que a desalavancagem pode reduzir os gastos financeiros da BRF em um ano de R$ 375 a R$ 620 milhões.

“Reconhecemos que as ações podem reagir positivamente ao anúncio de hoje, mas permanecem classificadas como venda pelo fluxo de caixa estruturalmente rígido, alta concorrência, demanda volátil e maiores riscos comerciais”, debate o GS.

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A XP vai na mesma linha, mantendo algum tom de cautela.

“Acreditamos que a operação aconterá, mas os riscos não são irrelevantes, pois uma parcela relevante dos acionistas deve concordar com a retirada do poison pill“, diz o time da corretora, chefiado por Leonardo Alencar. “Vemos o follow-on como positivo para BRF e Marfrig, pois a Salic é um investidor estratégico e a parceria pode e deve melhorar as operações da BRF. No caso da Marfrig, os recursos virão de seu acionista controlador, não prejudicando, portanto, sua alavancagem”.

Nas estimativas da casa, no cenário mais conservador, a operação poderia trazer um benefício anual de R$ 400 milhões na redução das despesas com juros, enquanto no melhor cenário esse benefício seria superior a R$ 600 milhões (mais em linha com as estimativas da empresa).

O Itaú BBA, em relatório focado no endividamento das companhias, também aponta que a oferta primária deve contribuir para que a alavancagem líquida da BRF, que encerrou o primeiro trimestre em 3,3 vezes, se ajustada pelos R$ 4,5 bilhões provenientes da possível oferta, ficaria em 2,4 vezes. Já para a Marfrig, após a injeção de capital na investida, a sua alavancagem ajustada no 1T23 (sem consolidar a BRF) iria de 3,6 vezes para 3,9 vezes. No consolidado das duas companhias (Marfrig + BRF), a alavancagem líquida cairia de 3,5 vezes (1T23) para 3,3 vezes.