“Bull” significa “touro” em inglês, e “bear”, “urso”. São duas das principais figuras de linguagem usadas no mercado de capitais dos Estados Unidos e replicadas pelo mundo. É chamado de “bull market” um ciclo de alta das bolsas. Na outra mão, “bear market” refere-se a um ciclo de baixa. É como são classificadas tendências predominantes durante períodos razoavelmente longos.

O mercado dos EUA e a economia em geral estão cheios de metáforas animais. A atuação de bancos centrais frente à inflação, por exemplo, pode ser “hawkish” ou “dovish”. Os termos descrevem comportamentos de política monetária, mais agressivos, como os do “falcão”, ou mais brandos, como os da “pomba”, respectivamente.

No caso de “bull” e “bear” basta imaginar o movimento de ataque dos dois animais. O touro chifra de baixo ara cima e o urso, com suas garras, de cima para baixo.

O economês norte-americano é pródigo neste tipo de recurso linguístico. A imprensa também, o que ajudou a popularizar os termos. No jornalismo dos Estados Unidos é recorrente o uso de figuras de linguagem – e não só para tratar de economia.

“Bull” e “bear” servem ainda para descrever comportamentos ou perfis de investidores, sendo esse o uso original destas palavras no mercado. O investidor “bull” é otimista, arrojado, compra ações na expectativa de alta; já o “bear” é pessimista, conservador, vende papeis pois tem perspectiva de queda.

Há um quadro famoso no acervo da Sociedade Histórica de Nova York que representa de forma irônica o choque entre estes dois tipos de investidores. “The Bulls and Bears in the Market” (“Os Touros e Ursos no Mercado”, em tradução livre), do artista plástico William Holbrook Beard, de 1879, mostra um embate entre touros e ursos em frente ao prédio da bolsa.

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O que é bull market

Bull market é mercado em alta, otimista. Os investidores compram com perspectiva de valorização das ações. Quanto mais gente compra, mais os preços sobem. É um ciclo, não um movimento pontual.

Fábio Gallo, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, ressalta que a tendência tem que ser confirmada por meses para ser chamada de bull. Eventuais picos durante um período de baixa, por exemplo, não recebem esta designação.

A tendência de elevação dos preços do mercado é chamada de “bullish”, adjetivo que descreve “algo semelhante a um touro”, ou “altista”. A explicação é bem simples: ao atacar, o animal chifra com um movimento de baixo para cima da cabeça. A metáfora vem desta ação ascendente, que representa a subida dos índices de ações.

Nos Estados Unidos, os índices mais utilizados para medir as oscilações do mercado de forma ampla são o S&P 500 e o Dow Jones Industrial Average (DJIA), ambos multissetoriais e compostos por ações de grandes empresas domiciliadas no país. Indicadores assim permitem observar ciclos “bullish” ou “bearish”, pois capturam movimentos bastante disseminados.

O economista chefe da corretora Planner, Ricardo Martins, reforça que para ser chamada de “bullish” ou “bearish”, a tendência tem que ser generalizada, refletindo-se em diferentes setores e empresas, e não apenas em alguns segmentos.

O touro é também um símbolo da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e de Wall Street de forma geral. Há uma enorme estátua de bronze do animal instalada nas proximidades.

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Como funciona o bull market

O bull market é um ciclo de alta de preços das ações com duração razoavelmente longa. Isso não significa subida linear, mas altas e baixas que, na média de um período, elevam um índice como o Ibovespa para cima. Ao passar do tempo, forma-se um canal de intervalo entre altas e baixas. Para que a tendência seja considerada bullish, o nível superior do canal deve ser cada vez mais alto.

Martins destaca que ciclos do mercado geralmente coincidem com os de política monetária e da economia em geral. Nesse sentido, para avaliar a possível reversão de um período de baixa para um de alta, além de pesquisar dados do mercado, das empresas e dos setores, o investidor tem que analisar os rumos da inflação, das taxas de juros, da atividade econômica e o quadro internacional.

Se o Banco Central, por exemplo, sinaliza que uma temporada de aumento dos juros está no fim e a inflação começa a ser controlada, e outros indicadores apontam para o aquecimento da economia – como os índices de desemprego, renda e arrecadação -, tudo isso vai se refletir na bolsa.

Juros em queda tornam os financiamentos mais baratos para as empresas. Empregos e renda em alta, e inflação em baixa, estimulam o consumo. “São sinais de reversão de expectativas na economia”, observou Martins. “E um indício forte do ciclo que vem pela frente”, acrescentou. No caso, um período de bear market substituído por outro de bull market.

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Para identificar as tendências os profissionais usam também análises fundamentalistas e grafistas do mercado. São duas escolas diferentes, mas podem ser usadas de forma complementar. A primeira avalia os fundamentos das empresas e dos setores, tendo em vista os rumos da economia.

A última se baseia em gráficos de preços e vale para ações que tenham liquidez. Parte do pressuposto que o comportamento humano se repete. Ou seja, se no passado os preços variaram de determinada maneira dentro de certo contexto, é possível que venham a se comportar de maneira parecida em condições semelhantes no presente. Desta maneira, é possível estimar se determinado nível de preço indica ou não o esgotamento de um ciclo.

“Antigamente nós dizíamos: ‘A bolsa é um termômetro da economia’. Às vezes esta afirmação foge da realidade, mas ainda é por aí”, declarou Martins.

Como investir em momentos de bull market

Conforme explicado acima, há uma série de variáveis que um analista tem que levar em consideração para identificar o final de um ciclo e o começo de outro. Quem consegue antecipar os pontos de virada, tem condições de comprar e vender nos momentos mais propícios. É difícil. Estimar a duração de uma tendência também.

Uma série de baixas durante um período de alta não indica obrigatoriamente que o bull market acabou. As quedas podem ser causadas por fatores pontuais – um pânico no mercado de petróleo, por exemplo – e a trajetória de crescimento é retomada lá na frente.

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Do ponto de vista ideal, o fundo de um ciclo de bear market é o melhor momento para comprar e o pico de uma temporada de bull market é o melhor para vender. Mas é muito difícil identificar exatamente quando os pontos de virada vão ocorrer, especialmente para investidores não profissionais.

“Eu brinco com meus alunos: ‘O melhor é aplicar na baixa e vender na alta’. Mas quando é a alta e quando é a baixa?”, comentou Gallo. “Se eu soubesse, não contava, preservava para mim a galinha dos ovos de ouro. Não há uma fórmula”, ironizou.

Além disso, surgem diferentes oportunidades ao longo dos ciclos e, dependendo dos objetivos do investidor, manter uma posição até o pico da curva de preços pode não ser a opção mais interessante.

Vamos supor que o investidor analise e fixe um preço-alvo, ou “justo”, para a ação de uma empresa. Este valor é atingido, mas ele avalia que a companhia segue com boas perspectivas e é possível que a cotação avance mais ainda.

O interessado pode vender os papeis, realizando os lucros estimados originalmente, voltar a comprá-los quando o custo estiver mais atraente – no fundo do canal de altas e baixas, por exemplo –  e estabelecer um preço-alvo superior. Ao longo de um ciclo de bull market ocorrem vários momentos de realização de lucros, que por si só provocam oscilações nas cotações.   

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Quanto tempo dura o bull market?

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Não há duração mínima ou máxima para um ciclo de bull market. Para ser qualificada como tal, porém, a tendência tem que se manter durante um período razoavelmente longo, de alguns meses pelo menos.

O que é bear market

Bear market é o oposto de bull market. É um ciclo de preços com tendência de baixa, investidores pessimistas e comportamento conservador. Quanto mais gente vende, mais as cotações caem. Da mesma forma, é um movimento duradouro. Altas pontuais não significam uma virada.

De maneira semelhante à metáfora do touro, o ataque do urso, de pé e movimentando a pata de cima para baixo, representa o queda dos preços das ações. O adjetivo “bearish” descreve “algo semelhante a um urso”.

Para ser caracterizado como bearish, a tendência tem que ser disseminada e, portanto, capturada por índices com ampla cobertura do mercado, como o S&P 500, o Dow Jones e o Ibovespa, no caso do Brasil.

Como investir em momentos de bear market

A metáfora do urso serve para designar também um tipo ou perfil de investidor. O investidor urso é conservador e pessimista, assim como o bear market. É considerado “bear” também alguém que aposta na baixa das ações.

É possível obter lucros em ciclos de bear market ao operar vendido no mercado, apostando na desvalorização de uma ação, operação conhecida como “short”. No Brasil, esta opção se tornou mais viável nos últimos anos com a possibilidade de aluguel de ações.

O investidor vende as ações a descoberto. Ou seja, vende o que não tem, então ele aluga para vender. Lá na frente, ele recompra os papeis para devolver a quem alugou. Se o preço de fato cair, ele paga na recompra menos do que recebeu na venda. Daí vem o eventual lucro.

Nada impede a realização de uma operação assim num cenário de bull market, pois ações caem mesmo em ciclos de alta. Neste caso, o investidor assume uma postura bear num mercado bull.

Comprar ações em bear market é opção também para quem quer depois vendê-las no bull market. No entanto, é difícil saber se os preços atingiram o patamar mais baixo do ciclo, e se os papéis podem cair mais antes de voltar a subir. Bastante tempo pode passar até que os ativos recuperem seu valor.

Estas escolhas dependem do perfil e dos objetivos do investidor. Alguém que tenha metas de longo prazo, que acredita no crescimento de uma empresa e quer participar de seu processo de desenvolvimento, provavelmente não vai se desfazer dos papéis de maneira oportunista, aproveitando um momento de alta. Pelo contrário, irá usar os períodos de baixa para reforçar sua posição.

Martins lembra que ninguém de fato ganha ou perde no mercado até vender as ações que comprou. Se um papel desvaloriza, o investidor pode segurá-lo e esperar para vender em momento mais favorável. Tudo vai depender da tolerância da pessoa ao risco, de seus objetivos e do tempo que pode esperar para se desfazer de um ativo.

De forma geral, investimentos em ações são recomendados para objetivos de longo prazo, assim eventuais oscilações ao longo do tempo não comprometem a meta final. “Não é porque o mercado entrou em baixa que eu vou vender tudo, ou porque entrou em alta que eu vou carregar tudo em ações”, ressaltou Gallo.

A aversão ao risco é um componente muito importante das decisões de investimento. Gallo explica que, de acordo com as teorias de finanças comportamentais, “é maior a dor da perda do que o regozijo do ganho”, numa referência ao Nobel de Economia Daniel Kahneman.

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Como funciona o bear market

A lógica do bear market é semelhante à do bull market, mas com sinais trocados. Da mesma forma, o investidor tem que olhar para os dados do mercado, o rumo da política monetária e os indicadores econômicos.

Taxa de juros em alta incentiva a migração de investimentos em ações para renda fixa, o que faz a bolsa cair. O crédito fica mais caro, deprimindo investimentos das empresas e consumo. Atividade econômica fraca resulta em menos empregos, perda de renda e menos faturamento para as companhias.

Análises fundamentalistas e grafistas são utilizadas também. Neste cenário, as empresas listadas começam a apresentar resultados não tão bons como vinham apresentando. O índice de preço/lucro das ações fica caro em relação a outras opções de investimentos e, portanto, os papéis passam a ter um risco maior.

São sinais de que a tendência do mercado pode virar de bull market para bear market. As forças que sustentavam o ciclo de alta perdem força. “Os indicadores costumam dar o alerta”, afirmou Martins. No bear market, o fundo do canal de alta e baixa é cada vez mais embaixo.

Segundo Gallo, há quem diga que um ciclo de bear market deve ter pelo menos 20% de queda acumulada em seis meses para ser considerado como tal.

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Como surgiram o bull e bear market

Os termos bull e bear passaram a ser utilizados para definir comportamentos do mercado no século 18 e remontam ao comércio de peles de animais na América do Norte.

De acordo com o tradicional dicionário norte-americano Merriam-Webster, a figura do urso surgiu primeiro, a partir um provérbio que dizia não ser sábio “vender a pele do urso antes de capturá-lo”.

A frase “vender a pele de urso (bearskin)” descrevia o ato de vender algo que não se tem. A palavra “bearskin” foi reduzida para “bear” e passou a designar os especuladores e as ações que vendiam em operações semelhantes à atual “short”, vender um papel emprestado na esperança de recompra por valor menor no futuro.

Já a figura do touro foi aplicada incialmente à compra especulativa de papéis na expectativa de alta e posteriormente aos adeptos da prática. Segundo o Merriam-Webster, aparentemente o touro foi escolhido por ser considerado um alter ego adequado ao urso.

O uso das figuras de linguagem avançou para compreender os ciclos do mercado.

Por que um touro e um urso

Como visto acima, a metáfora do urso surgiu num provérbio antigo e a do touro em oposição a ela. Os ciclos de alta e baixa da bolsa são representados pelos movimentos que estes animais fazem ao atacar.

Qual a diferença entre bull e bear markets

São movimentos opostos. Bull market é um ciclo de alta dos preços das ações, e bear market, de baixa.

Como identificar tendência de bull e bear markets

As tendências de bull e bear markets podem ser identificadas pelos rumos da política monetária, indicadores econômicos, cenário internacional e análises fundamentalistas e grafistas do mercado.