Yevgeny Prigozhin, de vendedor de cachorro-quente a líder mercenário

Rosto público do Grupo Wagner, que estaria no avião que se acidentou na Rússia, caiu em desgraça com Putin em junho, após motim frustrado

Roberto de Lira

Yevgeny Prigozhin (Foto: Mikhail Svetlov/Getty Images)
Yevgeny Prigozhin (Foto: Mikhail Svetlov/Getty Images)

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Caso se conforme a morte do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin – seu nome consta na lista de passageiros do jato Legacy que caiu ou foi abatido sobrevoando uma região ao norte de Moscou – o acidente terá posto fim a uma meteórica carreira de um ex-presidiário e vendedor de cachorro-quente, que se tornou o rosto público do mais conhecido exército particular do planeta.

Prigozhin teve sua vida e carreira interligadas às do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Assim como o líder russo, ele nasceu em São Petersburgo, mas enquanto o futuro presidente subia na hierarquia da KGB, Prighozin cumpria pena de prisão de 10 anos desde o final de sua adolescência. Isso antes de se iniciar como empresário de catering, com uma barraca de cachorro-quente.

Segundo um perfil do site Politico, Prighozin chamou a atenção de Putin após estabelecer forte influência como fornecedor da indústria hoteleira. Com o tempo, ele se tornou o responsável pelos jantares de Estado, incluindo um oferecido em 2006 ao ex-presidente americano George W. Bush, quando ficou conhecido como o “chefe de Putin”.

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O líder russo teria ajudado Prigozhin a abrir uma fábrica de merenda escolar com generosos empréstimos financiados pelo Estado. Mais tarde, descobriu-se que ele também era sócio de uma empresa de consultoria que teria, segundo o Departamento de Estado dos EUA, produzido conteúdos de trollagem online pró-Donald Trump durante as eleições de 2016.

Foi com os contatos feitos junto à agência de inteligência militar russa GRU que Prigozhin criou o Grupo Wagner, embora as partes sempre tenham negado essa influência recíproca.

A empresa de dados sobre violência política global ACLED, com sede nos EUA, diz em relatório recente que as primeiras operações do Wagner estão envoltas em mistério, mas acredita-se que o grupo tenha sido concebido pela própria GRU, composto por ex-combatentes e formado para garantir a negação das operações secretas russas no leste da Ucrânia e em outros locais pelo mundo. O líder operacional do Wagner, Dmitriy Utkin, por exemplo, é um membro aposentado ucraniano das forças especiais do GRU.

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“Negação plausível”

A ACLED cita estrategistas militares e de segurança, que apontam para novas formas de envolvimento russo em torno da guerra híbrida ou não linear, com o envolvimento de empresas privadas como o Wagner para que o próprio governo conseguisse assim se distanciar de certas atividades.

Em 2014, a Rússia armou forças separatistas na Ucrânia e enviou tropas particulares para incitar uma rebelião armada no leste do país. Segundo o relatório, esses exército particulares davam ao governo russo uma negação plausível sobre o envolvimento direto e trabalharam em campanhas políticas, econômicas e militares.

Ao longo dos anos, o Grupo Wagner envolveu-se em campanhas de desinformação e interferência eleitoral, prestou serviços militares e de segurança a vários governos e assinou contratos para exploram recursos naturais, muitas vezes através de empresas ligadas a Prigozhin.

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O grupo paramilitar ampliou sua atuação em várias regiões de conflito, juntando os interesses militares aos econômicos. Após o envolvimento na Ucrânia, surgiram informações sobre as atividades do Grupo em conflitos na Síria no final de 2015, em apoio ao regime de Bashar al-Assad em troca de uma percentagem de receitas provenientes de campos de produção de petróleo e gás retomados do Estado Islâmico. Esse tipo de pagamento se tornou uma das principais fontes de receita do Grupo.

Os mercenários do Wagner envolveram-se em conflitos diretos na República Centro-Africana, em Moçambique e na Líbia, entre 2017 e 2019. O grupo também teve envolvimento no Mali, a convite do governo, a partir de dezembro de 2021.

No primeiro trimestre de 2023, segundo a ACLED, os acontecimentos violentos envolvendo o Grupo Wagner aumentaram em todas as principais áreas de conflito, nomeadamente no Mali, na República Centro-Africana e na Ucrânia.

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Motim

O Grupo Wagner sempre mostrou desavenças com a liderança do Ministério da Defesa russo e a discordância sobre contratos relacionados à guerra na Ucrânia fez com que Prigozhin acusasse o governo de realizar um ataque de artilharia contra um acampamento do Grupo. Em junho, ele anunciou uma “marcha pela justiça” em direção a Moscou, no famoso episódio do motim.

Embora de curta duração, a rebelião tornou-se o primeiro desafio armado à autoridade central russa desde o golpe fracassado em Moscou em 1993 e as duas guerras na Chechênia em meados da década de 1990 e início de 2000.

Putin acusou o Grupo e seus líderes de traição e a operação foi interrompida no dia seguinte, com Prigozhin tendo de buscar refúgio na Bielorrússia, sob a proteção do presidente Alexander Lukashenko