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Caso se conforme a morte do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin – seu nome consta na lista de passageiros do jato Legacy que caiu ou foi abatido sobrevoando uma região ao norte de Moscou – o acidente terá posto fim a uma meteórica carreira de um ex-presidiário e vendedor de cachorro-quente, que se tornou o rosto público do mais conhecido exército particular do planeta.
Prigozhin teve sua vida e carreira interligadas às do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Assim como o líder russo, ele nasceu em São Petersburgo, mas enquanto o futuro presidente subia na hierarquia da KGB, Prighozin cumpria pena de prisão de 10 anos desde o final de sua adolescência. Isso antes de se iniciar como empresário de catering, com uma barraca de cachorro-quente.
Segundo um perfil do site Politico, Prighozin chamou a atenção de Putin após estabelecer forte influência como fornecedor da indústria hoteleira. Com o tempo, ele se tornou o responsável pelos jantares de Estado, incluindo um oferecido em 2006 ao ex-presidente americano George W. Bush, quando ficou conhecido como o “chefe de Putin”.
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O líder russo teria ajudado Prigozhin a abrir uma fábrica de merenda escolar com generosos empréstimos financiados pelo Estado. Mais tarde, descobriu-se que ele também era sócio de uma empresa de consultoria que teria, segundo o Departamento de Estado dos EUA, produzido conteúdos de trollagem online pró-Donald Trump durante as eleições de 2016.
Foi com os contatos feitos junto à agência de inteligência militar russa GRU que Prigozhin criou o Grupo Wagner, embora as partes sempre tenham negado essa influência recíproca.
A empresa de dados sobre violência política global ACLED, com sede nos EUA, diz em relatório recente que as primeiras operações do Wagner estão envoltas em mistério, mas acredita-se que o grupo tenha sido concebido pela própria GRU, composto por ex-combatentes e formado para garantir a negação das operações secretas russas no leste da Ucrânia e em outros locais pelo mundo. O líder operacional do Wagner, Dmitriy Utkin, por exemplo, é um membro aposentado ucraniano das forças especiais do GRU.
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“Negação plausível”
A ACLED cita estrategistas militares e de segurança, que apontam para novas formas de envolvimento russo em torno da guerra híbrida ou não linear, com o envolvimento de empresas privadas como o Wagner para que o próprio governo conseguisse assim se distanciar de certas atividades.
Em 2014, a Rússia armou forças separatistas na Ucrânia e enviou tropas particulares para incitar uma rebelião armada no leste do país. Segundo o relatório, esses exército particulares davam ao governo russo uma negação plausível sobre o envolvimento direto e trabalharam em campanhas políticas, econômicas e militares.
Ao longo dos anos, o Grupo Wagner envolveu-se em campanhas de desinformação e interferência eleitoral, prestou serviços militares e de segurança a vários governos e assinou contratos para exploram recursos naturais, muitas vezes através de empresas ligadas a Prigozhin.
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O grupo paramilitar ampliou sua atuação em várias regiões de conflito, juntando os interesses militares aos econômicos. Após o envolvimento na Ucrânia, surgiram informações sobre as atividades do Grupo em conflitos na Síria no final de 2015, em apoio ao regime de Bashar al-Assad em troca de uma percentagem de receitas provenientes de campos de produção de petróleo e gás retomados do Estado Islâmico. Esse tipo de pagamento se tornou uma das principais fontes de receita do Grupo.
Os mercenários do Wagner envolveram-se em conflitos diretos na República Centro-Africana, em Moçambique e na Líbia, entre 2017 e 2019. O grupo também teve envolvimento no Mali, a convite do governo, a partir de dezembro de 2021.
No primeiro trimestre de 2023, segundo a ACLED, os acontecimentos violentos envolvendo o Grupo Wagner aumentaram em todas as principais áreas de conflito, nomeadamente no Mali, na República Centro-Africana e na Ucrânia.
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Motim
O Grupo Wagner sempre mostrou desavenças com a liderança do Ministério da Defesa russo e a discordância sobre contratos relacionados à guerra na Ucrânia fez com que Prigozhin acusasse o governo de realizar um ataque de artilharia contra um acampamento do Grupo. Em junho, ele anunciou uma “marcha pela justiça” em direção a Moscou, no famoso episódio do motim.
Embora de curta duração, a rebelião tornou-se o primeiro desafio armado à autoridade central russa desde o golpe fracassado em Moscou em 1993 e as duas guerras na Chechênia em meados da década de 1990 e início de 2000.
Putin acusou o Grupo e seus líderes de traição e a operação foi interrompida no dia seguinte, com Prigozhin tendo de buscar refúgio na Bielorrússia, sob a proteção do presidente Alexander Lukashenko