Ibovespa zera perdas e fecha em leve alta com possível acordo nos EUA; juros futuros despencam

Ações de varejo dispararam nas últimas horas de negociação, mesmo com dado ruim do setor; analistas acreditam em postura mais amena do Banco Central

Mitchel Diniz

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SÃO PAULO – O Ibovespa amenizou as perdas ao longo da tarde e fechou em leve alta, conseguindo se manter no patamar dos 110 mil pontos. Os mercados, que vinham em baixa desde a abertura, zeraram as perdas após republicanos sinalizarem disposição para fechar acordo com os democratas e suspender temporariamente o teto da dívida pública nos Estados Unidos. O Tesouro americano tem dito que esse acordo precisa ser costurado nos próximos dias, do contrário há risco de default (calote).

O principal republicano do Senado dos Estados Unidos, Mitch McConnell, disse nesta quarta-feira que seu partido apoiaria uma extensão do teto da dívida federal até dezembro, medida que impediria o calote histórico, com um pesado impacto econômico.

Ainda que seja um avanço para a problemática fiscal dos Estados Unidos, o possível acordo no Congresso já é, de certa forma, esperado pelos investidores, por isso não foi o bastante para impulsionar os mercados de maneira mais robusta. “Quando você tira um risco que está no radar, gera um fluxo positivo. Mas o cenário está bem complicado”, afirma Flávio Aragão, sócio da 051 Capital.

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Mais cedo, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano voltaram a subir, refletindo a expectativa de crescimento da inflação na economia do país. Os investidores acreditam que o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) vai retirar estímulos (tapering) e aumentar os juros antes do previsto, para conter a escalada de preços. Nem mesmo a criação de 568 mil vagas de emprego no setor privado americano, anunciada hoje, mudou essa perspectiva.

O Ibovespa fechou com leve alta de 0,09% aos 110.559 pontos. O volume de negócios no dia foi de R$ 35,5 bilhões.

Ironicamente, o índice foi puxado por ações do setor de varejo, que ficaram entre as principais altas nas últimas horas de negociação. Justamente no dia em que o indicador de vendas do segmento no Brasil veio bem pior do que o esperado: recuou 3,1% em agosto na comparação com julho. A expectativa era de alta de 0,7%.

Para Aragão, da 051 Capital, a virada pode estar relacionada à percepção de que o Banco Central brasileiro vai levar o dado em conta nas próximas decisões sobre taxa de juros e poderá interromper mais cedo o ciclo de aperto monetário.

“Havia a ideia de que a economia estava andando, mas com a produção industrial baixa e agora também o varejo, dá para ver que o negócio está parado e o PIB deve ser reprecificado. Se os juros subirem muito, a situação tende a piorar”, afirma.

O mercado de juros futuros refletiu essa possibilidade, com os contratos de DI, principalmente os mais longos, registrando queda acentuada. O DI para janeiro de 2023 recuou 20 pontos-base, a 9,06%; os contratos para janeiro de 2025 caiu 19 pontos-base a 10,10%; e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de 18 pontos-base, a 10,50%.

O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 5,53 no dia, praticamente zerou os ganhos. No comercial, a moeda americana fechou a quarta-feira com leve alta de 0,02% a R$5,486, na compra e na venda. O dólar futuro com vencimento em novembro de 2021 é negociado com ligeira alta de 0,1% no after market, a R$ 5,506.

Nos Estados Unidos, os principais índices do mercado acionário fecharam com ganhos moderados. O Dow Jones subiu 0,3%, para 34.416 pontos; o S&P 500 avançou 0,41%, a 4.363 pontos e índice Nasdaq terminou o dia com variação positiva de 0,47%, aos 14.501.

Ainda que a virada de humor tenha dado uma trégua ao mercado de ações no Brasil, os analistas apontam que há mais pressão negativa pela frente. “Os dados ainda corroboram com um cenário de insegurança, sob perspectiva das empresas, é um momento de cautela. Ainda que tenham oportunidades em alguns setores, devemos continuar com a Bolsa volátil”, diz Isabel Lemos, gestora de ações da Fator.

Os ruídos políticos também continuam. “Desde agosto, o Congresso discute precatórios e reforma tributária. Há três meses a pauta não muda e os problemas continuam sem solução”, afirma Flávio Aragão.

Hoje, a Câmara aprovou por maioria a convocação do ministro da Economia Paulo Guedes, para que ele explique sobre eventuais empresas em seu no exterior (offshores). Os negócios de Gudes fora do Brasil foram revelados em uma série de reportagens investigativas chamada Pandora Papers, publicada no início desta semana. Os jornalistas apuraram que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também possuía investimentos em offshores.

No cenário global, ainda que os preços do petróleo tenham recuado hoje no mercado internacional, a matéria-prima segue em valores considerados altos e que contribuem com a escalada da inflação no mundo. O barril do Brent, para dezembro de 2021, recuou mais de 2% hoje, mas continua acima US$ 80. O WTI para novembro de 2021 fechou o dia na casa dos US$ 77, também em queda de mais de 2%.

Na Europa, autoridades se articulam para resolver a crise de abastecimento de gás natural, com a iminente chegada do inverno no hemisfério norte. As bolsas europeias, que fecham mais cedo, não acompanharam a recuperação dos mercados no período da tarde e fecharam todas no vermelho.

O índice Stoxx 600, que reúne empresas de 17 países europeus em setores-chave, recuou 1,03%. A Bolsa de Londres (FTSE100) fechou com variação negativa de 1,15% e a de Frankfurt (DAX) terminou a quarta-feira em baixa de 1,46%.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados