Doria anuncia Fase Emergencial com toque de recolher e novas restrições; impacta escolas, comércio, cultos e mais

Situação no estado é grave: 53 municípios estão com 100% nas taxas de ocupação de leitos de UTI

Giovanna Sutto

Governador João Doria (Sérgio Andrade/Governo do Estado de São Paulo)

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SÃO PAULO – O governo do estado do São Paulo anunciou nesta quinta-feira (11) medidas mais restritivas, diante do avanço da pandemia de Covid-19. A chamada Fase Emergencial vai começar na próxima segunda-feira (15) e irá até o dia 30 de março.

A nova etapa de restrição foi anunciada em coletiva realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na tarde desta quinta-feira.

Fase Emergencial: principais medidas

A Fase Emergencial vai incluir medidas como a redução dos horários de funcionamento dos serviços essenciais, como padarias, supermercados e postos de gasolina. Também haverá suspensão de eventos esportivos, como o campeonato paulista de futebol, e religiosos, como cultos em igrejas.

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O teletrabalho (home office) será obrigatório para atividades administrativas não essenciais em escritórios e em órgão públicos. Também não está autorizada a retirada de alimentos e produtos ao cliente no estabelecimento comercial.

Haverá também toque de recolher entre 20h e 5h – não sendo permitida a circulação nesse intervalo. A ida às praias e aos parques também está proibida em qualquer horário. E continua a recomendação de uso de máscaras em ambientes internos e externos.

Para evitar aglomeração nos períodos de maior movimentação, como na entrada do trabalho, o estado também organizou um sistema de rodízio de horários. “Não vamos reduzir o transporte público. Vamos ofertar 100% das frotas de ônibus, metrô e trem, mas precisamos da cooperação de todos os trabalhos dos serviços essenciais para que sigam o escalonamento de entrada”, afirmou Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde.

Trabalhadores da indústria devem entrar entre 5h e 7h, os do setor de serviços entre 7h e 9h e os do comércio entre 9h e 11h.

João Doria (PSDB), governador de São Paulo, afirmou que o estado não está fazendo um lockdown. “Essa seria a última das medidas, quando poderia haver circulação em nenhuma circunstância. Não estamos nessa fase. É a Fase Emergencial, mais dura do que a que tínhamos, mas é diferente de um lockdown”.

Escolas

As escolas estaduais ficarão abertas apenas para as crianças que precisem de alimentação e distribuição de materiais – com agendamento prévio. As escolas privadas poderão abrir para receber crianças de pais que precisem trabalhar fora. O limite será de 35% dos alunos presencialmente.

“Precisamos das escolas funcionando. Se a escola [estadual, municipal ou particular] precisar fazer atendimento presencial pontual por algum motivo, poderá. Mas é preciso evitar ao máximo esse tipo de atividade. A recomendação é ficar em casa”, disse Rossieli Soares, secretária da Educação.

Ela também explicou que as escolas farão um recesso antecipado. “Os recessos de abril e outubro nas escolas estaduais serão antecipados para o período entre 15 e 28 de março, para diminuir as atividades presenciais sem prejudicar o calendário escolar. O objetivo é reduzir a circulação. A recomendação para as escolas particulares é fazer algo similar. Já na rede municipal, vamos conversar também para que adotem medidas como essa”, explicou.

Isolamento

Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência do Covid-19 em SP, afirmou que a decisão pelo aumento das medidas restritivas foi feita com o objetivo de elevar o isolamento social para um percentual superior 50%. “O que buscamos não é cercear o trabalho e a vida. Queremos proteger a vida das pessoas. Isso se faz pelo isolamento social e pelas vacinas, além de tratamentos clínicos baseado em evidências. Como a Fase Vermelha já suspende os serviços essenciais, foram definidas medidas que incluem mais 4 milhões de pessoas em isolamento. Aumentamos as medidas restritivas para 14 atividades”, disse Menezes.

João Gabbardo, coordenador executivo do centro de contingência, fez um apelo diante da gravidade da situação. “Ninguém diria que, um ano após a pandemia ser declarada pela OMS, a gente estaria aqui falando de mais medidas. Se essas novas medidas não forem cumpridas nos próximos 15 dias, não será possível acompanhar a velocidade da pandemia. Se não seguirmos as recomendações, não teremos leitos nos hospitais, empreendedores de sucesso morrerão, assim como trabalhadores informais e pessoas de classe média. Fiquem em casa. Não teremos soluções e milagres que vão ajudar. As medidas são antipáticas, mas o futuro vai julgar isso. Veremos quem usou medidas, quem se sacrificou para trazer resultados melhores”, disse.

Mais cedo, também nesta quinta-feira, Doria divulgou um vídeo em que anunciou que tomaria medidas mais duras e restritivas. Na gravação, Doria faz um apelo para que a população faça o isolamento social, afirmando ser, no momento, a principal ferramenta para frear a Covid-19.

“Estamos tentando equilibrar essa equação da economia com a saúde. Mas temos que entrar numa nova etapa do Plano São Paulo. Ela é mais restritiva, eu reconheço”, disse o governador. “Não é fácil tomar essa decisão, uma decisão impopular, difícil, dura. Nenhum governante gosta de parar as atividades econômicas de seu Estado. Eu, principalmente, entendo o sofrimento de todos.”

Impacto nos negócios

Sobre o impacto das medidas restritivas nos negócios de diversos setores, Doria explicou que a saúde precisou ser priorizada, mas que o governo dará apoio, dentro do possível, por meio dos bancos estaduais – Banco do Povo e Desenvolve São Paulo – e espera que o governo federal, por meio do BNDES, possa ajudar aqueles que são empreendedores.

Em reportagem anteriormente publicada pelo InfoMoney, entidades que representam donos de pequenas empresas manifestaram preocupação com a sobrevivência de seus negócios. Alguns empreendedores acreditam que não será possível voltar a operar depois desse período de fechamento.

Percival Maricato, presidente do conselho estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP), afirmou que o setor de bares e restaurantes vai ser especialmente prejudicado pelo recrudescimento da pandemia. “Os empreendedores estão totalmente fragilizados. Eles já aplicaram as alternativas que tinham em mãos: negociaram com os fornecedores, pegaram empréstimos de bancos, tentaram reduzir preços, utilizaram a suspensão de salário no início da pandemia quando tinham a opção. Agora, o que sobra é a preocupação: muitos estão endividados e sem um novo auxílio podem ter que fechar”, afirma.

Doria ressaltou que as restrições começam apenas na segunda-feira (25) justamente porque o estado entende que restaurantes e bares, por exemplo, têm uma organização com a compra de alimentos e planejamento de estoque. “A ideia é que os estabelecimentos tenham 48 horas para conseguir executar o planejamento sabendo das novas medidas. Também pensamos nas práticas esportivas, em equipes de diferentes modalidades, não só do futebol, que já se deslocaram, já compraram diárias em hotéis. Uma aplicação das novas medidas em 24 horas geraria uma conturbação gigantesca”, disse o governador.

Nova fase no Plano São Paulo

A Fase Emergencial é uma nova etapa (e a mais restritiva) do Plano São Paulo, programa de controle da pandemia imposto pelo governo estadual e que condiciona a reabertura econômica aos índices de novos casos, internações e óbitos por Covid-19 nas regiões do estado.

Todo o estado estava na Fase Vermelha desde o último sábado (6). A Fase Vermelha era a fase mais restritiva imposta pelo programa até agora.

Regiões na Fase Vermelha devem fechar todo o comércio e manter em funcionamento apenas serviços considerados essenciais, como abastecimento e logística, comunicação social, construção civil, educação, farmácias e hospitais, mercados e padarias, postos de combustíveis, transporte coletivo e segurança pública. Restaurantes podem operar no formato de delivery.

Havia especulações sobre a criação da Fase Roxa, mas apesar de o governo não ter usado exatamente esse nome, a nova Fase Emergencial inclui várias das medidas que eram esperadas na suposta Fase Roxa.

Situação é grave; veja índices de internação

Na quarta-feira (10), Doria anunciou que o estado expandirá o sistema de saúde pública, com a criação de 338 novos leitos em todo o estado, sendo 167 unidades de terapia intensiva (UTIs). O dado considera hospitais estaduais, municipais e filantrópicos.

No total, o estado passou a ter 9.200 leitos de UTI – quase o triplo do que havia antes da pandemia. Um estudo feito pela GloboNews mostra, no entanto, que essa quantidade extra anunciada é capaz de atender a população do estado por apenas três dias, considerando o ritmo de interações.

“Hoje, 53 municípios estão com 100% nas taxas de ocupação. Na segunda [8], eram 32 municípios. A velocidade da instalação da pandemia no estado compromete a assistência à vida”, afirmou Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde. Segundo os dados divulgados nesta quinta-feira, a taxa de ocupação de UTIs é 87,6% no estado. A Grande São Paulo chegou a 86,7% de ocupação. “Em média, são 150 novas admissões por dia”, disse o secretário.

Na coletiva de quarta-feira (10), Gorinchteyn já havia mencionado que o estado não consegue criar leitos no mesmo ritmo das interações. “Estamos aumentando os leitos da forma que conseguimos – não é simplesmente colocar uma cama e um respirador. Precisamos de uma equipe que vai dar assistência: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outros”, afirmou.

Já o número de óbitos cresceu 12,3% da semana passada para esta. “Em março, idosos e portadores de outras doenças agravavam a situação. Hoje, pessoas menores de 50 anos respondem por 50% da ocupação das UTIs. Estou falando de jovens de 26, 29, 30 anos de idade em estado grave”, afirmou Gorinchteyn.

São Paulo tem 2.149.561 casos confirmados de Covid-19, com 62.570 mortes, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado. Na terça-feira (9), o estado atingiu 517 mortes em 24 horas, recorde registrado com base em toda a pandemia de Covid-19, iniciada há um ano.

Nesta quinta-feira (11), o G1 fez um levantamento com a ajuda de Simone Batista, doutora em engenharia de sistemas pela Universidade de São Paulo, que mostra que o estado pode chegar ao colapso de seu sistema de saúde em 25 dias, caso o atual ritmo de avanço da pandemia permaneça.

A pandemia de Covid-19 no Brasil

Pela primeira vez desde o registro da primeira morte por Covid-19 no país, o Brasil superou a marca dos 2.000 mortos pela doença em um só dia. E superou com larga margem: nas 24h de quarta-feira (10), 2.349 brasileiros perderam a vida para a doença. Ou seja: a cada cinco minutos, oito brasileiros foram mortos pelo novo coronavírus.

O total de vidas perdidas para a pandemia ultrapassou os 270 mil. São 11,2 milhões de casos confirmados. O número de pessoas recuperadas subiu para 9.921.994.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou nesta terça-feira (9) que 25 das 27 capitais brasileiras apresentam situação crítica na ocupação de leitos de UTI destinados à Covid-19. Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, no entanto, gravou um vídeo nesta quarta-feira (10) em que diz que o sistema de saúde “não vai colapsar”.

“Vivemos um momento grave no país, com muitas perdas de vidas que foram causadas principalmente pelas novas variantes do coronavírus. Nosso sistema está muito impactado, mas não colapsou nem vai colapsar”, afirmou o ministro.

A afirmação do chefe da Saúde vem acompanhada de apelos por mais imunizantes. Pazuello se reuniu na terça-feira (9) com representantes da aliança mundial de vacinas Gavi e pediu atenção para o Brasil na distribuição de imunizantes no âmbito do grupo internacional Covax Facility, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A aliança Gavi integra o grupo internacional.

O Brasil tem direito a 42,5 milhões de vacinas neste ano pela Covax Facility. “Nós temos quase 40 mil postos de vacinação e temos o maior programa de vacinação o mundo. Precisamos barrar o vírus com vacinas. Precisamos vacinar a população”, disse Pazuello também na terça-feira. A previsão é que o Brasil receba 2,9 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca neste mês e mais 6,1 milhões em abril. O governo brasileiro tenta ainda negociar com a China a compra de 30 milhões de doses de mais uma vacina desenvolvida pelo país asiático, desta vez do laboratório Sinopharm.

Essas negociações tentam evitar uma suspensão do programa de vacinação no Brasil por falta de doses. Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde, afirmou que a vacinação no país pode ser interrompida por falta de doses disponíveis de vacinas. Até o momento, o Brasil vacinou apenas cerca de 4% da população, diante da escassez de doses.

*Com informações da Agência Reuters.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.