Com IPCA-15 acima do esperado e pressão no setor de serviços, aumentam apostas de alta de 1 ponto da Selic em agosto

Avaliação é de que a pressão inflacionária deve persistir nos próximos meses e que o BC terá que adotar uma política mais agressiva de aperto monetário

Mariana Zonta d'Ávila

(AndreyPopov/Getty Images)

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SÃO PAULO – Puxado pelos preços da energia elétrica e pelo setor de serviços, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,72% em julho frente junho, acima do esperado pelo mercado financeiro, de alta de 0,64%, e na maior variação para o mês desde 2004.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador acumula agora alta de 4,88% no ano e de 8,59%, em 12 meses.

Com o resultado, economistas do mercado financeiro já esperam um aperto monetário mais agressivo por parte do Banco Central na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

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Para o Morgan Stanley, o novo dado aumenta a probabilidade de alta de um ponto percentual na Selic no encontro de agosto, de 4,25% para 5,25% ao ano.

O relatório Focus, do BC, mais recente, aponta para aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros no próximo mês, para 5,00%, e nova alta de mesma magnitude no encontro de setembro, levando a Selic para 5,75% ao ano.

“Mesmo que as expectativas para a inflação em 2022 ainda estejam comportadas, isso é reflexo de estimativas de desaceleração para as tarifas de energia elétrica e não pelo sentimento de um comportamento geral da inflação mais benigno”, escreve o time de análise do Morgan Stanley, em relatório.

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A avaliação é compartilhada por João Leal, economista da Rio Bravo, que também vê o mercado aumentando suas apostas de alta de 1 p.p. no próximo encontro do Copom.

“Nossa preocupação e do Banco Central tem se concentrado muito no setor de serviços, que está subindo rapidamente e tende a perdurar até a inflação de 2022, puxando as estimativas para o próximo ano para cima”, diz.

Leal destaca que vários itens do grupo de serviços, como o de passagens aéreas, tiveram alta no período, indicando uma pressão mais forte vindo de demanda e oferecendo uma pressão adicional para a reunião de política monetária do próximo mês.

Para os economistas do Bradesco BBI, a surpresa para cima no IPCA-15 de julho reforça a preocupação de que a alta inflação brasileira possa ser mais resistente do que a maioria dos observadores do mercado inicialmente acreditava.

“De fato, embora a surpresa tenha sido causada principalmente por poucos itens, o nível de difusão ainda elevado sugere que a inflação de bens industriais está se espalhando para outros setores. Com a reabertura da economia, observaremos com cautela a possibilidade de o setor de serviços também ser impactado por esse movimento”, apontam.

Eles também avaliam que, no mínimo, a surpresa inflacionária deve elevar a probabilidade de alta da Selic em 1 ponto – a projeção do BBI é de que a Selic termine 2021 em 7%.

Alta deve continuar nos próximos meses

Em relatório, a casa de análise Levante destaca que o dado divulgado nesta sexta mostrou que os preços de itens importantes na cesta de produtos, como os serviços, seguem sendo reajustados abaixo dos demais agregados. No entanto, isso deve mudar com o avanço na vacinação e com a reabertura da economia, avaliam os analistas.

Já os chamados preços administrados, como tarifas de serviços públicos (caso de eletricidade e gás), têm sido pressionados tanto pela crise hídrica quanto pela alta do dólar, completam.

“Há múltiplas pressões para manter os preços em alta, e isso deve continuar influenciando os juros ao longo dos próximos meses”, avalia a Levante.

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, reforça que a intensa pressão inflacionária e o desempenho da economia mais resiliente do que o esperado, somados ao estímulo fiscal adicional, devem levar o Banco Central a continuar a normalizar a política monetária e, possivelmente, antecipar e acelerar o caminho para a neutralidade dos juros.

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“Embora em declínio, devido à contínua inflação dos preços das commodities em dólar, pressões intensas de preço de custo e insumos, bem como riscos político e fiscal persistentes podem contaminar ainda mais as perspectivas para a inflação em 2022”, escreve, em relatório.

Segundo ele, a dinâmica recente exige um acompanhamento atento e, pelo menos, a “retirada total do nível atual de acomodação monetária, particularmente em um cenário próximo”.

Com o resultado do IPCA-15 de julho, a XP revisou para cima sua projeção para o IPCA de julho, de 0,82% para alta de 0,97%.

Para 2021, as estimativas também foram levemente elevadas, e agora a XP vê o IPCA encerrando o ano com alta de 6,7%, ante 6,6% anteriormente.

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