Após Fed, mercado aposta em corte mais agressivo da Selic; decisão pode ser antecipada

UBS e Asa Bank veem um corte emergencial nos juros brasileiros de 1 ponto percentual; XP aposta em redução de 0,5 ponto na Selic

Anderson Figo

SÃO PAULO — O corte de 1 ponto percentual na taxa de juros dos EUA, anunciado na noite de ontem, pode forçar o Banco Central do Brasil a promover um corte mais expressivo na Selic nesta quarta-feira (18), segundo economistas. A decisão pode, inclusive, ser antecipada, assim como fez o Federal Reserve.

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Esta é a visão da equipe de análise do UBS. Em relatório divulgado hoje a clientes, o banco suíço disse que não há motivos para o BC esperar mais para cortar a Selic. A taxa de juros brasileira já está em 4,25% ao ano, seu menor patamar histórico.

“Em nosso último relatório de projeções, no qual alteramos nossas expectativas para o crescimento [do Brasil] este ano para 1,3%, também argumentamos que, apesar da recente fraqueza do real, o Banco Central do Brasil cortaria a taxa Selic em 50 pontos, para 3,75% ao ano. Agora, estamos vendo a Selic cair para entre 3,5% e 3,25%, em decorrência dos choques atuais que atingem a economia”, disse o UBS.

“Vimos um significativo agravamento das perspectivas econômicas globais, com as medidas de distanciamento social que estão sendo implementadas rapidamente em uma série de países, incluindo o Brasil, aumentando a interrupção do surto de coronavírus no lado da oferta. Enquanto isso, o Fed anunciou um novo corte na taxa para o limite inferior zero e um novo programa de flexibilização quantitativa”, justificou o banco.

Em seu perfil numa rede social, Tony Volpon, economista-chefe do UBS no Brasil, disse que o banco suíço passou a prever um corte imediato na Selic de 1 ponto percentual, para 3,25% ao ano, o que pode ocorrer ainda hoje (veja abaixo).

Em linha, Carlos Kawall, diretor do Asa Bank, afirmou que o Banco Central deve cortar a taxa de juros em 100 pontos, provavelmente em uma reunião extraordinária, ainda hoje.

“Tal anúncio seria acompanhado de uma ação incisiva no mercado de câmbio, possivelmente com um valor (como US$ 50 bilhões) para venda de swaps e dólar spot, podendo ser mantida a discricionariedade. A resposta monetária e cambial deve ser nuclear, pois é onde o Brasil tem mais munição, diminuindo a pressão sobre a resposta de política fiscal”, disse.

Kawall enfatizou em relatório que a projeção de crescimento para o Brasil em 2020, atualmente em 1,2%, claramente contém viés baixista. Ele disse que o Asa Bank reconhece o risco de crescimento próximo a zero (ou mesmo negativo) no ano, risco este inclusive enfatizado pelos dados divulgados referente à economia chinesa no período de janeiro a fevereiro, apontando que a China provavelmente registrará crescimento próximo a 2,0% este ano.

A projeção de Kawall para o IPCA de 2020, atualmente em 2,7%, tem boa chance de ser revista para baixo do piso da meta, com impactos negativos na projeção de 2021 (atualmente em 3,5%), segundo o economista.

“Quanto mais rápida e incisiva for a reação das políticas monetária e cambial, menor será a pressão dos lobbies para que haja significativo afrouxamento da política fiscal. Qualquer resposta de política fiscal tem que ter caráter absolutamente temporário. É impensável e irresponsável qualquer medida que mexa com o teto de gastos”, completou Kawall.

Apesar de enxergar um corte um pouco menor que o visto por Kawall e Volpon, o economista da XP Marcos Ross afirmou em relatório que também espera por uma redução na Selic nesta semana — a qual pode acontecer ainda nesta segunda (16), em decisão extraordinária do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central.

“Mantemos nossa visão que o BC, ao longo da semana ou na segunda, anunciará um corte de 0,50 ponto percentual junto com outras medidas de estímulo. Possivelmente uma redução mais acentuada dos compulsórios (sobre depósitos a vista e a prazo) e medidas de liquidez para bancos pequenos e médios para estimular o mercado de crédito. Além disso, o BC deve aumentar o grau de intervenção no mercado de câmbio (swaps, linha e a vista) para permitir que a Selic possa cair ainda mais sem pressionar tanto o câmbio”, disse.

A XP mudou seu entendimento a respeito do corte total na Selic ao longo de 2020: de 3,50% para 2,75% ao ano. “Seguimos acreditando que o BC fará uma reunião emergencial em abril para anunciar um corte adicional de 0,50 ponto percentual (ante projeção anterior de 0,25) e entregará um corte final de 0,50 ponto percentual na reunião de maio (ante projeção anterior de nenhum corte em maio).”

Para Ross, o BC deve adotar uma posição gradualista a fim de não pressionar ainda mais o câmbio e as expectativas. “O fato do Fed e de outros bancos centrais ao longo do mundo terem implementado cortes agressivos abriria margem para o BC cortar 0,75 ponto percentual agora (algo que ainda consideramos altamente provável). No entanto, acreditamos que o BC preferirá ir mais longe (2,75%) do que ir mais rápido (corte de 0,75 vs 0,50)”, disse.

A XP mudou também sua projeção para Selic de 2021: de 5,00% para 4,75% ao ano. “Aguardaremos os desdobramentos da crise e das ações anti-cíclicas a serem apresentadas pelo governo (expansão de crédito de bancos públicos, liberação extra de FGTS, adiantamento do 13o para aposentados do INSS, crédito extraordinário para flexibilizar a meta de primário em 2020, etc) nessa semana para revalidar o nosso cenário de crescimento (viés de baixa para 2020), inflação (neutro) e câmbio (neutro).”

Na avaliação de Ross, na mesma direção do cenário internacional, o cenário político doméstico se deteriora e deve aumentar o grau de incerteza sobre as condições econômicas.

Segundo o Boletim Focus do Banco Central, divulgado hoje, a previsão para a taxa básica de juros ao fim deste ano caiu de 4,25% para 3,75% ao ano. Houve ainda mudanças em relação à Selic em 2021 e em 2022.

Agora, economistas esperam que a Selic suba para 5,25% ao ano em 2021, ante estimativa anterior de 5,50%. O espaço para elevação dos juros em 2022 também diminuiu, com a expectativa do mercado de que a Selic aumente para 6% ao ano, abaixo da taxa prévia de 6,50%.

Estados Unidos

Em um movimento inesperado, o Fed anunciou neste domingo (15) um novo corte de juros e participação em uma ação coordenada com outros bancos centrais para aumentar a liquidez do mercado, diante do risco de uma retração global por conta da pandemia do coronavírus.

As taxas passaram de um intervalo entre 1% e 1,25% ao ano para zero a 0,25%. Foi a segunda redução no mês aprovada em reunião extraordinária. Em comunicado, o Fed afirmou que a crise vai “pesar na atividade econômica no curto prazo e representar riscos para as perspectivas econômicas”.

Além do corte de juros, o Fed anunciou a compra de até US$ 700 bilhões em títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas e a redução a zero da taxa do compulsório bancário. No caso do compulsório, que vai valer a partir do dia 26, a medida abre uma porta para o aumento de empréstimos a empresas e famílias em dificuldades financeiras.

“O corte de juros pelo Fed me faz muito feliz e eu quero parabenizá-lo por essa decisão”, disse o presidente americano, Donald Trump. Segundo ele, os mercados devem ficar “entusiasmados” com a medida. Já o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o coronavírus representa um “desafio econômico significativo” e admitiu que haverá fraca atividade produtiva por “um período de tempo”.

Em outra frente, o Fed se associou ao Banco Central Europeu (BCE), do Canadá, do Japão, da Suíça e da Inglaterra para a troca de linhas de crédito, com o objetivo de manter as operações de financiamento em dólar.

Entre analistas, a iniciativa foi vista como uma resposta a críticas à falta de uma ação articulada dos principais bancos centrais do mundo para tentar atenuar o impacto do coronavírus, como foi feito na crise financeira de 2008.

Com Agência Estado

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.