106 milhões de brasileiros sobrevivem com menos de R$ 14 por dia

O 2º ano da pandemia foi marcado por empobrecimento recorde dos brasileiros, segundo dados da PNAD Contínua de 2021

Estadão Conteúdo

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O segundo ano da pandemia foi marcado por um empobrecimento recorde dos brasileiros, após as políticas de transferência de renda para mitigar a crise causada pela pandemia da Covid-19 terem dado um alívio em 2020.

Com o enxugamento do Auxílio Emergencial em 2021 e uma recuperação do mercado de trabalho marcada pela geração de empregos precários, a metade mais pobre da população sobreviveu com apenas R$ 415 mensais por pessoa (menos de R$ 14 por dia) no ano passado, o pior resultado da história e um tombo de 15,1% em relação aos R$ 489 de 2020 (em valores já corrigidos pela inflação).

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2021 – Rendimento de todas as fontes, divulgada nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Ao todo, 106,35 milhões de brasileiros da metade mais pobre da população subsistiram com o rendimento médio de R$ 415 por mês (ou R$ 13,83 por dia) em 2021, por pessoa. O valor é 7,4% menor do que o registrado em 2012 (quando a metade mais pobre da população ganhava R$ 448 por mês por pessoa).

Norte e Nordeste

Com a diminuição do Auxílio Emergencial — tanto no valor quanto no número de pessoas beneficiadas —, as perdas foram mais dramáticas nas regiões Norte e Nordeste, onde a transferência de renda desempenhou um papel fundamental para a subsistência de grande parte da população na pandemia.

Os 50% mais pobres do Nordeste sobreviveram com R$ 251 mensais no ano passado (R$ 8,37 diários por pessoa da família), um recuo de 23% na comparação com 2020. No Norte, a renda média da metade mais vulnerável foi de R$ 281 mensais (R$ 9,37 diários), 19,9% a menos que no ano anterior.

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O quadro é ainda mais drástico entre os miseráveis. Em 2021, o país tinha 10,635 milhões de pessoas sobrevivendo com apenas R$ 39 mensais por pessoa (ou seja, os 5% mais miseráveis da população tinham em média só R$ 1,30 por pessoa por dia), considerando todas as fontes de renda disponíveis.

A renda dessa parcela da população despencou 33,9% em relação a 2020. Na comparação com 2012 (o primeiro ano da série histórica), o tombo no poder aquisitivo desses brasileiros foi de 48%.

“O auxílio foi um colchão para a renda não cair tanto em 2020. Com a melhora da pandemia e o retorno do mercado de trabalho, as regras do auxílio foram alteradas”, destaca Alessandra Brito, analista do IBGE. “Teve menos gente ganhando [o Auxílio Emergencial], e quem ganhava teve menos parcelas, com valor menor”.

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Diferença entre ricos e pobres

O tombo na renda dos mais pobres em 2021 aumentou a desigualdade (embora todas as faixas de renda tenham registrado perdas). Entre o 1% mais rico da população, a renda média mensal per capita foi de R$ 15.940, queda de 6,4% ante 2020 e de 6,9% ante 2012. “Todo mundo perdeu [renda]”, diz Brito. “Não é só o auxílio, porque não afetou só os mais pobres”.

Como o rendimento dos mais pobres caiu em ritmo mais acelerado, o índice de Gini do rendimento médio domiciliar per capita (indicador que mede a desigualdade de renda em uma escala de 0 a 1) aumentou de 0,524 em 2020 para 0,544 em 2021 — quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração. O índice de Gini cresceu em todas as regiões brasileiras entre 2020 e 2021, o que mostra um aumento disseminado na desigualdade.

Considerando a renda auferida por toda a população, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.353 em 2021 (também o valor mais baixo já registrado na pesquisa iniciada em 2012).

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Ela foi 6,9% menor que os R$ 1.454 estimados em 2020, e houve redução na renda em todas as regiões. Os valores mais baixos foram registrados no Nordeste (R$ 843) e no Norte (R$ 871). Já a Região Sul registrou o maior rendimento domiciliar per capita médio: R$ 1.656.

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