Otimismo com startups brasileiras: investimentos aceleram neste começo de 2022

Mais dinheiro foi colocado em startups nos dois primeiros meses de 2022 do que no mesmo período de 2021. Ano anterior foi recorde na captação das startups

Mariana Fonseca

(Pixabay)

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Este ano começou com diversas instabilidades na economia e na política. Mesmo assim, os investidores continuam apostando nas startups brasileiras. O volume investido nesses negócios durante os dois primeiros meses de 2022 superou o volume visto no mesmo período de 2021. Vale lembrar que o último ano foi recorde em investimentos nas startups brasileiras.

Somando janeiro e fevereiro de 2022, US$ 1,36 bilhão foi investido em startups brasileiras. O valor é superior ao US$ 1 bilhão registrado no mesmo período de 2021. As informações foram divulgadas no estudo Inside Venture Capital, criado pela empresa de inovação Distrito.

“Vemos claramente uma tendência de aceleração nos investimentos em startups no Brasil”, afirmou Gustavo Gierun, CEO da Distrito, em coletiva de imprensa para divulgação do estudo. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, elencou abaixo os destaques do Inside Venture Capital. Startups viram menos rodadas, mas com maior valor médio investido. Diversos setores se mostraram aquecidos, para além das conhecidas fintechs. Ainda, a Distrito diz estar otimista em relação aos investimentos nas startups no restante de 2022.

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Menos rodadas, tíquetes maiores

Por outro lado, a quantidade de rodadas caiu: foram 91 no começo deste ano, ante 118 transações no começo do ano anterior. Um maior volume investido, apesar de um número menor de transações, mostra que o valor médio investido em cada rodada está ficando cada vez maior. A tabela abaixo mostra o tíquete médio por nível de captação (entenda os estágios de crescimento de uma startup, da ideia ao IPO):

Inside Venture Capital, estudo da Distrito (Reprodução)
Inside Venture Capital, estudo da Distrito (Reprodução)

O tíquete médio diminuiu nas rodadas feitas por investidores anjo, e manteve-se estável nas rodadas pré-semente. Mas aumentou em todas as rodadas seguintes.

“Existe um amadurecimento do ecossistema brasileiro e uma competição maior em cada transação, com um apetite maior dos investidores também”, analisa Gierun. “O Brasil tinha tíquetes bem menores do que os vistos nos mercados americano e asiático, referências em venture capital [capital de risco] no mundo. Estamos nos aproximando, mas ainda existe uma distância relevante.”

Os investidores estão colocando mais dinheiro em cada rodada. Existem duas consequências possíveis: ou os investidores estão pagando mais em troca da mesma participação, aumentando a avaliação de mercado da startup; ou os investidores estão pagando mais por uma participação igualmente maior.

Para Gierun, a primeira alternativa é mais provável do que empreendedores aceitando dar uma fatia maior de suas startups aos investidores. “Estamos assistindo a um movimento de aumento nos valuations brasileiros”, disse o CEO da Distrito.

Já existe uma correção dessas avaliações nos mercados públicos. O mercado acionário americano mostrou na primeira semana deste ano uma desvalorização dos papéis das empresas de tecnologia, ante o aumento da taxa de juros no país. No mercado acionário brasileiro, alguns gestores reconheceram que pagaram caro demais em operações no ano passado, incluindo IPOs das techs.

Existe debate sobre se e quando essa correção chegará ao mercado privado do venture capital e private equity. “Alguns investidores acreditam sim que haverá um movimento de correção natural de valuations nas startups privadas. Até este momento, não temos visto esse movimento”, diz Gierun.

Os setores mais quentes deste ano

As startups de serviços financeiros seguem como as cada vez mais queridinhas dos investidores. As fintechs captaram US$ 886,8 milhões nos primeiros dois meses deste ano, ante US$ 505,4 milhões no mesmo período de 2021. “Ainda que esteja consolidado, o mercado de fintech tende a crescer. A participação das fintechs no mercado de serviços financeiros como um todo ainda é pequena”, analisou Gierun.

Mesmo assim, outros setores também cresceram suas captações na comparação entre 2020 e 2021. O destaque ficou com as startups de recursos humanos. Os investimentos foram de US$ 800 mil para US$ 196,3 milhões. O valor foi impulsionado pelas captações relevantes de Gupy e Sólides, respectivamente de R$ 500 milhões e R$ 530 milhões. Startups de agricultura e imóveis também aumentaram o volume investido.

A única exceção entre os setores avaliados pela Distrito foi a de startups no varejo. O volume de investimentos caiu de US$ 217,8 milhões para US$ 17,2 milhões. O começo do ano anterior foi influenciado por conta de um investimento de US$ 190 milhões recebido pela MadeiraMadeira.

Veja a tabela completa com cinco setores de startups mais quentes neste começo de 2022, por volume de investimento:

Inside Venture Capital, estudo da Distrito (Reprodução)
Inside Venture Capital, estudo da Distrito (Reprodução)

Previsões para 2022

Este ano começou acelerado e deve levar a um novo recorde de volume investido nas startups, segundo Gierun. O CEO da Distrito descartou uma redução no volume investido na comparação entre 2021 e 2022. “Mas ainda é difícil fazer previsões mais exatas, diante do cenário desafiador no mundo e no Brasil”, alerta.

O Do Zero Ao Topo já tinha conversado com investidores de venture capital e empreendedores brasileiros em janeiro deste ano sobre qual será o cenário para o investimento nas startups brasileiras ao longo de 2022.

Assim como Gierun, a expectativa geral dos investidores é a de que este ano supere o anterior. Mas o salto não deve ser tão surpreendente quanto o de 2021, que representou o triplo do volume investido em 2020.

O cenário para este ano ano está mais desafiador ao venture capital (VC) private equity (PE). Diante da inflação, as taxas básicas de juros subiram ou prometem subir em alguns países, como nos Estados Unidos e no próprio Brasil. Quem coloca dinheiro em VC e PE tende a ser mais exigente com os retornos, já que a renda fixa está remunerando mais. Os gestores precisam de maior valorização do portfólio para gerar tais retornos. A correção dos valuations joga contra as apostas anteriores.

Já os empreendedores estão exercitando a cautela neste ano, apesar de acreditarem que existe dinheiro no mercado e que correções de múltiplos não devem acontecer nos próximos meses. Alguns dos fundadores ouvidos pelo Do Zero Ao Topo já estavam preparando o caixa para um cenário de captações mais difíceis. Com seu novo estudo, a Distrito mostrou que esse cenário ainda não chegou ao Brasil.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.