O próximo alvo da Andreessen Horowitz no Brasil: levar pequenos negócios ao digital

Depois de investir no portal imobiliário Loft, gestora do Vale do Silício liderou aporte de R$ 115 mi no marketplace Inventa

Mariana Fonseca

Fernando Carrasco, Marcos Salama e Laura Camargo (Divulgação)

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A Andreessen Horowitz (a16z) é uma das gestoras de venture capital mais conhecidas do mundo. Fundada em 2009, tem mais de US$ 19 bilhões sob gestão e um portfólio com empresas como Airbnb, Coinbase, Instagram e Zynga. Até o momento, a a16z só tinha apostado em uma startup brasileira: o portal imobiliário Loft. Sua segunda aposta foi anunciada nesta segunda-feira (24).

A gestora agora está de olho na digitalização dos pequenos negócios nacionais. A Inventa, startup que conecta pequenos lojistas e seus fornecedores por meio de um marketplace, captou um investimento de Séria A de R$ 115 milhões.

A rodada teve como líderes tanto a a16z quanto a gestora brasileira Monashees, que tem no portfólio empresas como Loggi, Méliuz e Rappi. Outros participantes foram as gestoras Founders Fund, Greenoaks, Greylock e Tiger Global, além dos anjos Hans Tung (sócio da gestora GGV Capital, que investiu em negócios como Airbnb e Alibaba, e anjo de negócios como Frubana, Pipo Saúde e Trybe) e Carlos Garcia (cofundador da plataforma mexicana de carros usados Kavak).

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O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Marcos Salama. O cofundador da Inventa explica o modelo de negócios da startup e elenca os próximos passos após a captação e a associação com os fundos.

Problemas de lojas e fornecedores

A Inventa foi criada pelos empreendedores Marcos Salama, Fernando Carrasco e Laura Camargo. Espanhol, Salama se formou como engenheiro mecânico e trabalhou como diretor global de supermercados na Rappi. Carrasco era cientista de dados na consultoria McKinsey. Já Laura trabalhou no fundo de private equity General Atlantic e na startup Gympass.

“Conversei com varejos durante meu tempo no aplicativo e percebi como os pequenos empreendedores sofrem para conseguir capital de giro nos bancos para comprar novos produtos. Eles precisam montar seu estoque muitas vezes à vista, sem dados para saber se esses produtos vão vender bem. Resolvi usar minha experiência na área e em tecnologia para resolver o problema”, disse Salama.

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A Inventa começou a operar em junho de 2020, como um marketplace para conectar lojistas e fornecedores. A ideia é levar o modelo de compra online, popularizado entre os consumidores por gigantes como a americana Amazon e a brasileira Magazine Luiza, para o mundo B2B (compra e venda entre negócios). Especificamente, para as pequenas e médias empresas do mundo B2B.

Aos lojistas que entram no marketplace, a startup oferece benefícios como pagamentos parcelados em até 90 dias. Também analisa o histórico de compras no marketplace e o cadastro para indicar quais outros produtos podem refletir em mais vendas. “Fazemos uma combinação entre big data e intuição do próprio empreendedor para fornecermos mais inteligência”, resume Salama.

A Inventa afirma que está de olho em micro e pequenos empreendedores, mas não especifica uma faixa de faturamento. Os atuais participantes do marketplace são donos de lojas em setores como bijuterias, cosméticos, mercados e presentes. Uma outra vantagem da plataforma é que eles podem pagar suas parcelas por boleto e Pix, para não comprometer o limite do cartão de crédito.

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Do lado dos fornecedores, a startup coloca como benefícios um canal de vendas online, logística e atendimento às reclamações dos clientes terceirizados e pagamentos garantidos em 30 dias. A Inventa tem uma área de análise de crédito e assume o risco de inadimplência e o parcelamento dado aos lojistas.

“Os fornecedores conquistam mais vendas por conta da presença digital e por fornecerem mais prazo de pagamento aos lojistas. O grande medo de um fornecedor é alongar o prazo de pagamento para quem não conhece, então assumimos essa parte”, diz Salama. A startup se monetiza com uma comissão de 15% sobre as vendas feitas a lojistas que ainda não estavam na base dos fornecedores. A solução é gratuita para lojistas que eles já atendiam.

A Inventa reúne 20 mil lojistas e 400 fornecedores atualmente. São 8 mil a 10 mil tipos de produtos disponíveis no site, e 250 mil itens foram enviados pelo Brasil nos nove meses operação da startup.

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Fundos reconhecidos, metas ambiciosas

Este não é o primeiro aporte recebido pela startup. A Inventa tem como anjos Fabián Gómez (Frubana), Sebastian Mejia e Simón Borrero (Rappi). Salama conta que a ponte com esses investidores foi feita durante seu trabalho na Rappi.

Em outubro de 2021, a Inventa recebeu um investimento semente de R$ 30 milhões de fundos como Maya Capital, NXTP e ONEVC. Os investidores dessa rodada também participaram da atual série A, liderada por a16z e Monashees. O trabalho na Rappi também foi como Salama conseguiu o contato com a Andreessen Horowitz, por ser um dos investidores no aplicativo de delivery colombiano. “Conversamos e eles estavam olhando para esse setor, para nosso time e para nosso crescimento. O investimento foi feito depois que mostramos uma boa execução da nossa proposta”, diz o cofundador da Inventa.

“Para os varejistas independentes no Brasil hoje, encontrar estoque é ineficiente e intensivo em capital de giro. É igualmente difícil para as marcas alcançar esses varejistas. A experiência de Marcos [Salama] na liderança da unidade de supermercados da Rappi lhe dá uma excelente compreensão dos desafios, oportunidades de melhoria e cultura do setor de varejo. Juntamente com seus cofundadores e a equipe em crescimento, a Inventa conseguiu construir um forte funil de aquisição de clientes, produto de crédito e plataforma digital – e eles estão apenas começando”, informou a gestora a16z em comunicado oficial sobre o aporte.

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Da fundação até a atual série A, a Inventa cresceu em média 100% ao mês. “Temos dobrado mês a mês até agora, mas não significa que manteremos essa taxa no longo prazo. Ela serviu para marcar a necessidade dos lojistas e dos fornecedores pela nossa solução”.

A startup usará seus novos R$ 115 milhões para marketing, vendas e tecnologia. A equipe deve crescer de 100 para 500 funcionários em 2022. Com essas contratações, a Inventa pretende lançar ainda neste ano um software gratuito para os pequenos lojistas administrarem compras e estoques (ERP) e para os fornecedores administrarem seus clientes (CRM). “Nossa ideia não é competir com as provedoras de software para PMEs, mas oferecer um serviço gratuito que atenda apenas as necessidades mais básicas”, diz Salama.

O lançamento ajudará no objetivo final de alcançar 100 mil lojistas e entre 4 mil e 5 mil fornecedores até o final deste ano. O objetivo não é apenas ter mais empreendedores, mas também fazê-los comprar mais. Pesquisas da Inventa mostram que os lojistas usam a plataforma para comprar entre 5% e 10% dos seus estoques em média. Alguns chegam a comprar 50% dos seus produtos na Inventa. “Existe espaço para aumento de market share dentro da base de lojistas que já construímos”, diz Salama.

No médio prazo, a startup olha para internacionalização. Seu próximo alvo é o México. “É uma questão de ‘quando’, não de ‘se’ vamos expandir para outros países da América Latina”. Assim como a Rappi, a Inventa está de olho em dores comuns para toda a região. A Andreessen Horowitz também.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.