Na corrida por desenvolvedores, escola de tecnologia Trybe capta R$ 145 milhões

Startup afirma que índice de empregabilidade é de 94% três meses depois da formação. Negócio foi avaliado em R$ 1,3 bilhão

Mariana Fonseca

Matheus Goyas, cofundador da Trybe (Divulgação)

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SÃO PAULO – Mais de 14 milhões de pessoas estão desempregadas no país. Mesmo assim, sobram vagas na área de tecnologia. A Trybe é uma das startups de olho na corrida das empresas por profissionais como desenvolvedores – e captou R$ 145 milhões (US$ 27 milhões) para ampliar seu catálogo de cursos e conquistar mais estudantes.

A rodada série B foi liderada pelos fundos Base Partners (que tem no portfólio empresas como Bytedance, Kavak e Zoom) e Untitled (criado por um ex-sócio do fundo Tiger Global). Também contou com a participação da empresa de investimentos XP Inc.; dos fundos Endeavor Scale Up Ventures, Global Founders Capital, Luxor e Verde; e de Hans Tung, sócio da GGV Capital.

A Trybe foi avaliada em R$ 1,3 bilhão nesta rodada (US$ 252 milhões). O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com o cofundador Matheus Goyas sobre a criação da escola online, o mercado de capacitação em tecnologia e os próximos passos após a injeção de capital.

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Até 2024, será preciso contratar 70 mil profissionais por ano no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Essa estimativa tem sido superada, com a digitalização forçada pela pandemia do novo coronavírus. O setor criou 107 mil vagas apenas no primeiro semestre de 2021.

“Essa lacuna entre demanda e oferta têm piorado por diversos motivos. Muito dinheiro está sendo investido em startups brasileiras e elas precisam contratar mais pessoas em tecnologia. O trabalho remoto mais consolidado também levou empresas de fora a olharem brasileiros como uma boa fonte de contratação em tecnologia”, diz Goyas.

Mais desenvolvedores (e com sucesso compartilhado)

A Trybe busca preencher a base dessa lacuna de profissionais de tecnologia, formando pessoas sem experiência para se tornarem desenvolvedores de entrada. A startup de educação (edtech) foi criada pelos empreendedores Claudio Lensing, João Daniel Duarte, Marcos Moura, Matheus Goyas e Rafael Torres em agosto de 2019. Anteriormente, eles criaram o AppProva – ferramenta para preparação de exames vendida para a Somos Educação em 2017.

A escola de tecnologia fornece um curso de desenvolvimento web, com módulos de fundamentos do desenvolvimento web, front endback end e ciência da computação. São seis horas de aulas por dia em 12 meses, totalizando 1.500 horas de curso. A startup também recomenda duas horas diárias de estudo adicional.

Além da alta carga horária, outra bandeira da edtech é sua forma de monetização. A Trybe adota um modelo conhecido como sucesso compartilhado (income share agreement). O usuário só começa a pagar o curso após atingir um salário de ao menos de R$ 3 mil na área de tecnologia da informação. As parcelas são de 17% da renda bruta auferida.

Em contrapartida, o curso custa R$ 36 mil no modelo de sucesso compartilhado, ante R$ 18 mil à vista. O contrato é corrigido anualmente pelo IPCA e tem prazo máximo de cinco anos. Após esse período, a dívida vence, mesmo que o estudante tenha pago apenas parte do valor.

A startup não é a única brasileira a fornecer cursos a programadores por meio de income share agreement. Outros exemplos são Blue e Tera. O grande benchmark internacional é a Lambda School, escola americana de programação que fornece profissionais para empresas como Google e Microsoft.

A Trybe afirma que um diferencial para outras escolas com o modelo de sucesso compartilhado está em seu alinhamento de riscos: a empresa montou no final de março deste ano um fundo de direitos creditórios (FIDCs) de R$ 50 milhões para conceder tais financiamentos. Goyas diz que o negócio é o único cotista subordinado desse FIDC. Ou seja, se torna responsável pelos riscos do fundo, como inadimplência e eventual insucesso dos estudantes.

“Estamos aumentando o nosso investimento pois acreditamos que a Trybe está transformando a forma como a educação é oferecida na região, diminuindo a distância entre estudantes e empregadores no setor de tecnologia”, afirmou em comunicado sobre o novo aporte Eduardo Latache, sócio da Base Partners.

Em pouco mais de dois anos de negócio, a escola de tecnologia recebeu 190 mil inscrições. 2,2 mil estudantes foram aprovados, uma taxa de aprovação de 1,2%. A Trybe analisa quais candidatos estão realmente dispostos a se dedicar aos estudos.

Um total de 400 desses alunos já estão formados. A Trybe divulga uma empregabilidade de 94% dos estudantes após 30 dias de formatura, a partir de parcerias com mais de 130 empresas. Alguns exemplos são Ford, Localiza, Méliuz e XP. As empresas não pagam pela conexão com os recém-formados em desenvolvimento web.

Novo investimento, novos cursos

Não é o primeiro investimento da Trybe. A escola de tecnologia já havia captado um aporte semente de R$ 15 milhões e um aporte série A de R$ 42 milhões (entenda os estágios de crescimento de uma startup).

A nova rodada será usada para criar outros cursos além do de desenvolvimento web, previstos para 2022 e 2023. Alguns temas em avaliação pela startup são análise e ciência de dados, cibersegurança, desenvolvimento de produto e desenvolvimento mobile. A Trybe espera atingir cerca de 3 mil estudantes até o final deste ano, e 6 mil deles em 2022. Para financiá-los, um novo FIDC deve ser emitido também em 2022.

Daqui alguns anos, Goyas prevê um futuro em que demanda e oferta por profissionais de tecnologia estarão mais equilibradas. “É uma questão de tempo, até por conta de iniciativas de formação como as nossas”, diz o cofundador. Enquanto o futuro não chega, a Trybe continua sua trajetória de captações ambiciosas e crescimentos agressivos.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.