Por que essa fintech, que ajuda pequenas empresas a pagarem seus fornecedores, recebeu R$ 176 milhões

TruePay tem 6 meses de operação. Fintech usa recebíveis do cartão de crédito para conceder limite para pequenas e médias empresas gastarem com fornecedores

Mariana Fonseca

Pedro Oliveira e Luis Cascão, da TruePay (Divulgação)

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SÃO PAULO – Dois trilhões de reais passam por 18 milhões de empresas brasileiras anualmente. Essas ordens de grandeza chamaram a atenção de diversos fundadores de startups – e, consequentemente, de investidores dispostos a colocarem mais dinheiro do que a média. Foi o que aconteceu com a TruePay.

A fintech de antecipação de recebíveis para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) captou R$ 176 milhões em sua série A – um estágio de investimento que costuma ir de R$ 13 milhões a R$ 28 milhões. O negócio foi criado por Luís Cascão e Pedro Oliveira, ex-analistas em fundos de capital de risco, e começou a operar faz apenas seis meses.

Mesmo assim, atraiu nomes de peso. O investimento foi liderado pelo fundo Addition. Seu criador é Lee Fixel, antigo sócio no fundo de investimentos Tiger Global Management, que tem no portfólio empresas como Amazon, Mercado Livre e Microsoft.

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O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Cascão e Oliveira sobre a oportunidade no mercado de crédito para PMEs; o modelo de negócios da TruePay; e os próximos passos após o novo aporte.

Antecipação de recebíveis para PMEs

A TruePay foi criada em dezembro de 2020. Cascão e Oliveira decidiram empreender no segmento de crédito para pequenas e médias empresas por conta de experiências profissionais e pessoais.

Profissionalmente, Cascão e Oliveira trabalharam em fundos de investimento. Cascão fez carreira no DNA Capital, enquanto Oliveira veio da Kaszek. Pessoalmente, os dois executivos tinham empreendedores na família e viam a dificuldade de obter crédito nos bancos tradicionais.

Esses empreendedores acabavam recorrendo à negociação com os fornecedores. Mas o fornecedor não tem experiência em análise de crédito e pode acabar em duas situações ruins: ou dá condições generosas demais e sofre com a inadimplência dos maus clientes, ou não fornece nenhum tipo de facilidade e perde bons clientes.

“O problema do crédito para pequenas e médias empresas é grande. Vimos tanto em empresas familiares quanto nas empresas que assessorávamos nos fundos de venture capital. Com uma fintech nesse ramo, poderíamos promover um grande impacto”, diz Oliveira.

O Brasil tem mais de 18 milhões de empresas ativas, segundo o Mapa de Empresas do Governo Federal. Muitos desses negócios adotam o cartão de crédito como forma de vender mais ou vender pela internet. Os pagamentos com cartões de débito, de crédito ou pré-pagos chegaram a R$ 2 trilhões em 2020, alta de 8,2% sobre o ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

Mas a demora em receber cada parcela cria também a necessidade de os empreendedores anteciparem recebíveis desses cartões. A TruePay oferece uma alternativa gratuita de antecipação de recebíveis aos empreendedores. A fintech se monetiza do outro lado do balcão: fornecedores pagam uma taxa em troca de análise de risco da fintech, o que permite vender com mais segurança de pagamento.

O empreendedor se cadastra na fintech e recebe um limite de crédito baseado em sua capacidade de geração de novos recebíveis. Enquanto a análise tradicional de crédito leva em conta apenas a capacidade atual de pagamento, a TruePay afirma usar dados para fazer uma projeção que vai além do estoque e dos recebíveis do momento, medindo a capacidade da empresa de realizar mais vendas.

Após ter um limite definido, o empreendedor faz um pedido com um fornecedor e escolhe a TruePay como forma de pagamento. A TruePay então transfere a titularidade dos recebíveis do empreendedor para o fornecedor. A empresa recebe seus produtos, e o fornecedor terá esses recebíveis como pagamento. A TruePay desconta sua taxa desses recebíveis, e fornece garantia de pagamento ao fornecedor.

No primeiro semestre de 2021, Cascão e Oliveira construíram a solução. A TruePay de fato começou a operar em junho, com uma nova regulação do Banco Central sobre registro de recebíveis. Antes, apenas a adquirente poderia oferecer serviços em cima do recebível do empreendedor. Segundo os fundadores da TruePay, a regulação fez com que o lojista tivesse poder sobre seus recebíveis – inclusive autorizando que a fintech use esses títulos como forma de pagamento aos seus fornecedores.

O Brasil tem mais de 1.000 fintechs, segundo um estudo publicado em maio deste ano pela empresa de inovação Distrito. Cento e cinquenta e sete delas atuam na área de crédito – a segunda maior categoria, atrás apenas de meios de pagamento. “Nosso primeiro diferencial é termos uma solução de crédito gratuita para os donos de negócio, fazendo com que seja benéfico usar o máximo possível de limite. O segundo diferencial é nossa usabilidade, de permitir pagar fornecedores a prazo com apenas um clique”, diz Oliveira.

Captação e crescimento acelerados

A TruePay havia captado R$ 45 milhões em sua rodada semente, um valor acima de média desse tipo de captação, que gira em torno de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões).

Esse primeiro investimento teve a participação de fundos como Canary (Buser, Hashdex, Trybe), Kaszek (Creditas, Dr. Consulta e Gympass), Monashees (99, Nubank e Rappi), Global Founders Capital (Facebook, LinkedIn, Trivago) e ONEVC (EmCasa, Kovi, Yuca). O atual aporte de R$ 176 milhões foi captado apenas três meses depois da rodada semente.

O valor também ficou bem acima da média de captação de uma série A, que vai de US$ 2 milhões a US$ 5 milhões (R$ 13 milhões a R$ 28 milhões). “A força da solução da TruePay reside na convergência de um enorme mercado potencial, com um problema real e inexplorado, e uma equipe incrível”, escreveu em comunicado Lee Fixel, da Addition. “Não é fácil encontrar essa combinação, por isso estamos felizes em apoiar a companhia.”

“Não estávamos procurando uma nova rodada. Mas mostramos uma evolução em pouco tempo e o investidor atual é próximo dos nossos antigos. Todos os fundos anteriores resolveram participar dessa rodada atual”, diz Cascão. Os R$ 176 milhões serão usados para aumentar a equipe, expandindo a capacidade de atendimento e melhorando a solução de crédito para PMEs. “Faremos melhorias em infraestrutura que vão dar mais escala, robustez e segurança à plataforma”, completa Cascão.

A TruePay pretende crescer dez vezes na comparação entre 2021 e 2022. Nos últimos seis meses, desde o início do negócio, a fintech vem dobrando seu tamanho a cada mês. “O objetivo é atender qualquer empresa que não receba a devida atenção dos grandes bancos. Ou seja, o mercado a explorar é o de boa parte dos milhões de negócios brasileiros”, resume Oliveira.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.