Como saber se uma startup é um bom investimento, segundo uma das maiores aceleradoras do mundo

Bedy Yang, sócia da 500 Global, compartilha seus critérios para escolher startups em estágio inicial. 500 já fez aportes em mais de 2.500 empresas

Mariana Fonseca

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Como descobrir se uma startup é ou não um bom investimento, especialmente quando ela tem poucos anos de história? Bedy Yang se faz essa pergunta diariamente. A investidora brasileira é sócia da 500 Global, uma das maiores aceleradoras do Vale do Silício.

A 500 já fez aportes em mais de 2.500 startups – e mais de 40 desses negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos são brasileiros. Bedy mediou investimentos em negócios como Conta Azul, Descomplica, Olist, Pipefy e VivaReal.

Comprar uma participação em uma startup em estágio inicial é bem diferente de comprar um papel de uma companhia aberta, mesmo que ela atue com tecnologia. Uma empresa negociada na bolsa de valores tem todas as suas métricas divulgadas, e pode ser comparada em mais profundidade às suas concorrentes.

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“Quando você faz investimento anjo, dificilmente todas as respostas já estão ali. Se estivessem, não seria um investimento anjo, porque não seria um capital de risco. Nós fazemos investimentos em um cenário de incerteza, colocando dinheiro em um futuro que a gente ainda não viu”, disse Bedy.

Então, como analisar startups como investimentos? A investidora compartilhou seus critérios durante entrevista ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney. É possível escutar a entrevista completa por meio dos agregadores de áudio ApplePodcastsSpotifyDeezerSpreakerGoogle PodcastCastbox e Amazon Music. Ou, ainda, assistir ao vídeo no YouTube. Confira:

Equipe deve ser prioridade

Um investidor de startups olha para diversas métricas financeiras. Mesmo assim, Bedy contou que também se faz sempre uma simples pergunta: “essa é a equipe que vai achar o produto que vai se encaixar nesse mercado grande?”

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Repare que a pergunta não é sobre ter o produto naquele momento, mas as melhores pessoas. Bons fundadores encontrarão o produto certo eventualmente. E como achar bons fundadores? Eles mostram que não apenas sabem descrever um bom cenário, mas que também sabem como fazê-lo acontecer.

“No estágio inicial, o que a gente mais olha é a equipe. A gente acaba investindo porque são empreendedores que convenceram a gente de que podem executar suas visões. Tem um lado forte da capacidade desses empreendedores e empreendedoras de projetarem e executarem um futuro”, disse Bedy.

Prefira aprendizado ao faturamento

Um negócio se mostra mais atraente quando divulga um faturamento relevante ou uma margem de lucro atraente. Mas Bedy destaca que, nas suas conversas com startups em estágio inicial, as métricas financeiras não são as únicas que importam.

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“Essas empresas podem até não ter faturado um milhão nos últimos meses, mas descobriram cinco coisas conversando com os consumidores. (…) Nesse começo, queremos que a equipe tenha um bom conhecimento do problema do cliente e de como ele vai se engajar no uso da solução”, exemplifica a investidora.

Meça a aceleração desse aprendizado

A velocidade dos fundadores em descobrirem lacunas, adaptarem a operação e escalarem uma nova solução é outro ponto de atenção para a Bedy. Essa “curva de aceleração” é fundamental para startups superarem concorrentes, de grandes empresas até outros negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos. “A gente quer ver o quão rápido o empreendedor trabalha: quanto melhorou no último mês, qual é essa curva de aceleração que podemos projetar para o futuro.”

Lembre que confiança se cria com tempo

Ainda que as startups sejam aceleradas, quem investe em startups não pode ter pressa. Como mostra essa conversa sobre a evolução enxergada pela equipe no último mês, é comum que investidores conversem diversas vezes com os fundadores de startups em estágio inicial antes de fechar negócio.

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O objetivo é justamente averiguar se os empreendedores mostram progresso e podem receber a confiança do investidor. “A gente não vai se encontrar apenas uma vez. A confiança é criada ao longo do tempo.”

Exemplos de investimentos da 500 Global

Algumas das startups brasileiras que compõem o portfólio da 500 Global já aparecem em episódios do podcast Do Zero Ao Topo.

O primeiro investimento da 500 Global no Brasil foi no portal imobiliário Viva Real. Brian Requarth chegou ao Brasil ao lado de seu sócio alemão Thomas Floracks em 2009 com o plano de criar o “Mercado Livre dos imóveis”. Mesmo com um volume bem menor investimentos, o Viva Real conseguiu se estabelecer como o líder em 2013. “O que fizemos foi ter foco e agir rápido. Quando você tem uma startup, a principal vantagem que tem é ser mais rápido que as empresas maiores”, contou o cofundador sobre o período inicial da empresa ao Do Zero Ao Topo.

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O VivaReal foi comprado pelo concorrente Zap em 2017. Depois, o próprio Zap foi comprado pela OLX por R$ 2,9 bilhões. Brian eventualmente decidiu ajudar outros empreendedores a criarem negócios e conseguirem investimentos, cofundando a organização de fomento ao empreendedorismo Latitud.

Outra startup no portfólio é o software de gestão de processos Pipefy. Alessio Alionço, um curitibano que decidiu criar uma empresa global desde o primeiro dia, teve que passar por momentos como a venda prematura do seu primeiro negócio – o portal de classificados Acessozero, comprado pelo Apontador em 2012.

Com o Pipefy, o empreendedor enfrentou a desconfiança dos investidores internacionais. A segunda startup da Alionço eventualmente vingou, e hoje tem escritórios tanto em Curitiba (Paraná) quanto no Vale do Silício (Estados Unidos). OPipefy atende mais de 4 mil empresas em 200 países.

Alionço falou no podcast inclusive sobre a startup ter participado dos quatro meses de aceleração da 500 Global – e não foi uma temporada tranquila no Vale do Silício. A equipe do Pipefy foi expulsa da primeira apresentação de pitches da 500 Global. Mas “a superdedicação ao programa foi um divisor de águas” para a startup nesses meses, contou o fundador ao Do Zero Ao Topo.

O empreendimento acabou eleito como uma das melhores startups da turma ao final do programa. E o reconhecimento de outros investidores veio. O Pipefy captou um aporte de US$ 75 milhões do conglomerado SoftBank em 2021.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.