A fórmula de Requarth, do VivaReal, para fabricar os novos unicórnios da América Latina

Brian Requarth, Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko se uniram a mentores como Ariel Lambrecht (99) para ajudar empreendedores da região

Mariana Fonseca

Brian Requarth, fundador do VivaReal (Divulgação)

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SÃO PAULO – Brian Requarth, Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko acumularam experiências bem-sucedidas no mundo de empreendedorismo ligado à tecnologia. Requarth criou o VivaReal, portal de imóveis que se uniu ao Grupo ZAP, depois vendido por R$ 2,9 bilhões para a OLX Brasil. Gotthilf liderou expansões de grandes empresas americanas, como o aplicativo de idiomas Duolingo e a plataforma de conteúdo Tumblr. Por fim, Danilchenko foi o diretor de tecnologia da Escale, startup de aquisição de clientes, que captou US$ 22,6 milhões com investidores.

O denominador comum dessas histórias: enxergar problemas que só puderam ser resolvidos com a ajuda de outras pessoas, desde funcionários a mentores. A pandemia deu sinais de que tais conexões estão a apenas uma tela de distância – e os três executivos pretendem colocar isso à prova a partir de hoje (11).

Requarth, Gina e Danilchenko anunciam a criação do Latitud, um movimento de fomento ao empreendedorismo na América Latina. A fórmula: encontrar e apoiar os melhores criadores de startups pela região – especialmente aqueles que ainda têm tecnologias em estágio inicial (early stage). Entenda todos os estágios de uma startup, da ideia ao IPO.

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“Fundar uma empresa, fazê-la crescer e levantar capital é uma jornada feita de sangue, suor e lágrimas. Pessoas que me ajudaram no meio do caminho foram essenciais para o sucesso, e ficou um dever de devolver essa ajuda que recebi”, afirmou Requarth durante uma conversa com o InfoMoney.

O criador do VivaReal já investiu em mais de 40 startups, como Quero Educação e Quinto Andar. “O Latitud vem para escalar o impacto. Vamos deixar de assessorar só as poucas startups com que temos mais contato.”

A primeira turma do Latitud começa hoje. São 100 empreendedores e mentores como Ariel Lambrecht, cofundador da 99. Por um mês, os fundadores de negócios passarão por sessões diárias de duas horas, resolvendo problemas práticos em grupo. Depois, terão conversas individuais com alguns empreendedores da turma, selecionados pelo Latitud, com base em experiências complementares.

O objetivo é de longo prazo: dar aos fundadores e às suas ideias “aquilo de que precisam para crescer e se tornar os mais novos unicórnios da região”. “A ideia é ampliar o sonho. Muitas startups querem ser as melhores do Brasil, mas elas podem ser as melhores da América Latina, do mundo todo. Queremos ajudá-las a alcançar esse potencial”, diz Gina.

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O Vale do Silício pode ser brasileiro

O Latitud vai falar em seus workshops dos temas que mais afligem os empreendedores de primeira viagem: produto, crescimento, contratações e captação de recursos com investidores. “Escolhemos o early stage porque é quando acreditamos que mais podemos impactar a trajetória do empreendedor. Se ele não estruturar bem seu modelo de negócio ou escolher bem seus investidores, cria um desvio que parece pequeno hoje. Mas desviar uma rota por cinco graus pode levar a um outro lugar lá na frente. E nós queremos colocá-lo no trilho das empresas bilionárias”, diz Danilchenko.

Mais do que capacitações, porém, seus fundadores defendem que a cultura de conexão do Vale do Silício chegue às terras brasileiras. “Quando você está no Vale e quer aprender uma coisa, basta cruzar a rua. Na América Latina, existe muito conhecimento, mas o costume de ser aberto com isso não é tão comum. Queremos descentralizar o Vale do Silício: especialmente nos tempos de hoje, ele não é mais restrito a uma região. Já está na nuvem, e redes de networking devem ser fortalecidas pelo uso de softwares”, diz Requarth.

Para Gina, empreender costuma ser uma jornada solitária – especialmente quando você está criando uma solução sem grandes inspirações. As conversas entre empreendedores complementares podem ser a oportunidade de contar um problema que “você não consegue conversar com amigos e nem com seu parceiro”, como um funcionário que decidiu abandonar sua empresa.

“Você está em uma sala com empreendedores que entendem seus problemas, então pode ser mais vulnerável. Conectar-se com pessoas é muito importante na fase inicial de um negócio”, diz a cofundadora do Latitud. “Mas é difícil achar os melhores mentores se você não tem contatos. Queremos levar conexões do Vale, de startups que podem estar um ou dois passos na frente dos empreendedores, e também criar laços entre os próprios empreendedores da América Latina. A gente não costuma se enxergar como região, mas temos problemas e oportunidades similares.”

A falta de um guia pode ser determinante: Requarth conta que falou com centenas de investidores enquanto levantava capital para o VivaReal. “Recebi muito não. A situação só mudou quando comecei a falar com anjos que tinham escalado as próprias empresas. Com o tempo, essas conexões me garantiram um selo dentro do mercado.”

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O empreendedor em estágio inicial deve ficar de olho em três aceleradores de crescimento, na visão do Latitud: conhecimento, rede e capital. O movimento espera prover os dois primeiros pontos – e ajudar o terceiro a se tornar realidade, no estilo do Vale do Silício.

Requarth diz que a Sand Hill Road, estrada da região que reúne grandes fundos de venture capital, já passou a se interessar mais pelo Brasil. “Cases de unicórnios e empresas brasileiras abrindo capital nos Estados Unidos mostraram o que pode acontecer quando você investe em uma empresa brasileira”, diz.

O desafio agora é fazer o interesse de fora chegar aos negócios em estágio inicial. “A realidade de apresentações virtuais pode ajudar, assim como o câmbio atual. Para o estrangeiro, é como se o Brasil estivesse o ano todo em temporada de Black Friday.”

Outra característica de investimento no Vale será intensificada por aqui: empreendedores investindo em outros empreendedores. “Vai ter mais capital internacional, mas também local. Quando eu tive liquidez, logo investi no Quinto Andar. As recentes ofertas públicas iniciais de ações e vendas podem provocar a mesma atitude, gerando um ciclo virtuoso no empreendedorismo da região.”

Os empreendedores de segunda viagem não levam apenas capital, mas conhecimento – como acontece com os mentores do Latitud, e acontecerá com os empreendedores formados nesta primeira turma do movimento. A segunda edição já está agendada para o começo de 2021.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.