Mercado Livre recebe 1ª avião cargueiro da GOL para diminuir tempo de entregas no Norte e Nordeste

Meta é reduzir de até 9 dias para 1 a entrega de encomendas nas capitais das 2 regiões

Lucas Sampaio

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O Mercado Livre (MELI34) recebeu da GOL (GOLL4), nesta terça-feira (23), o primeiro de seis aviões cargueiros que foram contratados para reduzir o tempo de entrega de encomendas para clientes nas regiões Norte e Nordeste do país.

A promessa do Mercado Livre é fazer entregas em apenas 1 dia nas 2 regiões — hoje, a empresa diz demorar de 8 a 9 dias em Manaus (AM) e de 4 a 5 dias no Recife (PE) e em outras capitais nordestinas. Para isso, receberá mais 2 aeronaves da Gol neste ano e outras 3 em 2023 (e o acordo também prevê a possibilidade de contratar mais 6 aeronaves, para serem entregues até 2025).

“Estamos 100% dedicados para reduzir os prazos de entrega nas regiões mais distantes do país”, afirma Fernando Yunes, vice-presidente sênior do Mercado Livre e responsável pela operação no Brasil. “É uma revolução chegar nessas regiões com o mesmo prazo de entrega de quem compra em São Paulo ou no Rio”.

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Atualmente, cerca de 40% a 50% das entregas da empresa no país são feitas em São Paulo e cerca de 60%, na região Sudeste. Além disso, menos de 5% dos pacotes são transportados por avião — com o acordo, a meta é chegar a pelo menos 11%. “Mas 11% não é o teto”, afirma Yunes (veja mais abaixo).

Mercado Livre pretende reduzir de 8 dias para 1 dia o tempo de entrega na região Norte do Brasil (Divulgação/Mercado Livre)

‘Desligando o telefone na cara’

O acordo é relevante também para a GOL, que ainda tenta se recuperar dos impactos do duro golpe da pandemia no setor aéreo. Com a parceria, a Gollog (braço de transporte de cargas e encomendas da companhia) vai crescer em 80% a sua capacidade de carga transportada quando tiver as seis aeronaves operando.

As negociações entre as empresas começaram em maio de 2020, no auge da primeira onda da pandemia (quando os voos comerciais desapareceram e as compras on-line explodiram). Mas o acordo foi anunciado apenas em abril deste ano.

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Apesar do final feliz (e das muitas trocas de elogios na cerimônia de entrega do avião, que ocorreu no aeroporto de Congonhas), o diretor-executivo da Gollog, Julio Perotti, diz que a negociação não foi fácil. “Passamos muitas noites conversando, às vezes desligando o telefone na cara, porque é assim que as coisas boas acontecem”.

Para atender à demanda do Mercado Livre, a GOL está convertendo aeronaves Boeing 737-800 para o transporte de cargas e personalizando a fuselagem com a cor amarela e o logotipo da empresa. Todo o interior do avião foi adaptado para transportar de 10 mil a 11 mil pacotes por voo (veja nas imagens acima e abaixo).

Boeing 737-800 da Gol adaptado para entregas do Mercado Livre (Foto: Lucas Sampaio/InfoMoney)

R$ 1 bilhão em 5 anos

A companhia está substituindo a sua frota de Boeings 737-700 e 737-800 por novos 737 Max (já são 36 em operação atualmente). Parte das aeronaves tiradas de circulação (e adquiridas no modelo de leasing) estão sendo devolvidas, e parte está sendo transformada em cargueiros (como os do Mercado Livre), segundo o presidente da GOL Linhas Aéreas, Celso Ferrer.

“Era [um avião] de passageiros, saiu para conversão e agora vai continuar voando por mais dez anos”, afirma Ferrer sobre os Boeings adaptados. O presidente da companhia diz que a frota atual é de 140 aeronaves e que o objetivo é ter cerca de 8% a 10% dela sendo usada para o transporte de cargas. “Não desvirtua o modelo operacional [da GOL] porque continua uma frota única”, diz o executivo sobre os Boeing 737.

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Perotti, diretor-executivo da Gollog,  diz que o acordo “amplia nossas operações no Brasil, aumentando a gama de serviços oferecidos, o que deve representar uma receita incremental de R$ 100 milhões ainda em 2022 e de mais R$ 1 bilhão nos próximos 5 anos”.

Interior do Boeing 737-800 da Gol adaptado para entregas do Mercado Livre (Foto: Lucas Sampaio/InfoMoney)

Como são e como ficarão as entregas

A aeronave entregue nesta terça (23) entrará em operação na próxima semana, em 1º de setembro, fazendo 4 voos diários entre São Paulo e capitais do Nordeste (2 voos ida e volta). O primeiro destino será Fortaleza (CE), seguido de São Luís (MA) e Teresina (PI) — que farão parte do mesmo trajeto.

Com a chegada das próximas aeronaves, as próximas capitais a receber voos diários dos cargueiros adaptados da GOL serão Recife (PE) e Brasília (DF) — neste caso, o Mercado Livre vai substituir um avião menor, um Embraer E-190 da Azul, por um “novo” Boeing.

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“Os primeiros voos terão como destino as cidades de Fortaleza (CE), São Luís (MA) e Teresina (PI), onde o prazo atual de 4 dias cairá para apenas 1, considerando cargas armazenadas em ‘fulfillment’. Vamos reduzir o tempo de entrega em até 80%”, afirma Yunes (“fullfilment centers” são os centros de distribuição de armazenamento de mercadorias do Mercado Livre).

O Mercado Livre opera hoje a sua rede de entregas aéreas com modelos E-190 da Embraer, sendo três aeronaves da Azul e outras duas da Sideral Linhas Aéreas (que voam atualmente para Recife e Goiânia, mas o contrato será encerrado em outubro, devido ao acordo com a GOL).

Boeing x Embraer

As cinco aeronaves em operação atualmente não trabalham exclusivamente para a empresa e podem inclusive transportar mercadorias para concorrentes, por exemplo. Além disso, o Mercado Livre também usa voos comerciais de passageiros para transportar pacotes menores (e em menor quantidade).

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Pablo Navarrete, diretor sênior da Meli Air (a operação aérea do Mercado Livre), diz que “entregas em até 800 km não precisam de avião” no Brasil e são mais vantajosas por rodovias, por isso grande parte da região Sudeste, do Paraná e de Santa Catarina são atendidos pela malha viária.

Navarrete diz também que os Boeing 737-800 são mais vantajosos, porque podem transportar de 10 a 11 mil pacotes por voo, contra 4 a 5 mil dos Embraer — e, por isso, os E-190 passarão a ser usados para rotas aéreas “mais curtas”, como Porto Alegre, Vitória e Goiânia.

Com os seis Boeing em operação, o Mercado Livre diz que a capacidade de transporte aéreo da empresa vai quadruplicar, de 10 para 40 milhões de pacotes por ano.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.