Esquecidos por anos, passageiros da classe econômica ganham comodidades

Delta Airlines vai oferecer mimos como mais opções de entradas e pratos principais e toalhinhas umedecidas. Mas o aperto entre as poltronas continua...

Sérgio Teixeira Jr.

(Shutterstock)

Publicidade

NOVA YORK – Poucas experiências da vida moderna testam os limites da dignidade humana como viajar de avião – especialmente se você, como a maioria dos mortais, voar na classe econômica.

A disputa pelo espaço dos compartimentos de bagagem; o nariz que quase toca no encosto da poltrona da frente; a comida irreconhecível: voar nada tem de glamouroso, por mais que as companhias aéreas tentem convencer do contrário com suas campanhas de marketing.

Mas há esperança. Algumas empresas aéreas estão voltando a prestar atenção nos passageiros da classe econômica.

Masterclass Gratuita

Rota Liberdade Financeira

Aprenda a investir e construa um patrimônio do zero com o treinamento exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A partir desta semana, a americana Delta Air Lines vai começar a oferecer comodidades há muito tempo esquecidas em alguns de seus voos internacionais mais longos.

Quem viaja de econômica será recebido com coquetéis de boas-vindas a bordo e toalhinhas umedecidas e quentes. As refeições também foram reformuladas. As porções serão maiores, e o passageiro poderá combinar diferentes entradas e pratos principais.

Os pratos e talheres também vão receber um upgrade, e as mesinhas serão cobertas com toalhas. Pode não ser um jantar cinco estrelas, mas é uma melhoria considerável em relação ao “chicken or pasta?”.

Continua depois da publicidade

“Não mudamos nosso serviço há 20 anos na classe econômica. Era uma oportunidade gritante”, disse Allison Ausband, vice-presidente sênior de serviços de bordo, numa entrevista recente.

A declaração resume uma realidade das companhias aéreas: embora os viajantes de classe executiva e primeira classe representem pouco mais de 10% do total de passageiros, eles são imensamente mais lucrativos.

Mas a Delta acredita que uma experiência melhorada na classe econômica possa ser um diferencial no hipercompetitivo mercado da aviação comercial.

Continua depois da publicidade

A empresa afirma estar investindo US$ 1 bilhão nos upgrades. Eles também incluem a instalação de telas: a Delta anunciou recentemente ter chegado a 700 aviões com sistemas de entretenimento individuais, um conforto que diversas outras companhias estão abandonando, já que muitos passageiros trazem consigo seus próprios computadores, tablets e celulares.

Além da comodidade, a companhia também vem se esforçando para reduzir cancelamentos e ser mais pontual.

No ano passado, menos de 1% dos voos da Delta foram cancelados; na American Airlines, maior empresa aérea dos Estados Unidos, o total foi três vezes maior.

Publicidade

Em relação aos atrasos superiores a 45 minutos, a empresa também obteve melhores resultados que as concorrentes, segundo um ranking anual publicado pelo The Wall Street Journal.

O serviço de bordo diferenciado será oferecido somente em voos internacionais que durem mais de seis horas e meia. Para distâncias mais curtas, com a competição acirrada de empresas low-cost, como Frontier, JetBlue e Southwest, não há alívio à vista, por enquanto.

Leia mais: Por que a Delta deixou a Gol e fechou uma parceria com a Latam

Continua depois da publicidade

Desde a desregulamentação da aviação comercial nos Estados Unidos, há 40 anos, as empresas vêm tentando extrair cada centavo dos voos que operam.

Nas décadas de 1950 e 1960, a distância média do encosto de uma poltrona para a da frente era de 90 centímetros.

Nos anos 1980, ela encurtou cerca de 7 centímetros. Na virada do século, tinha perdido mais cerca de 3 centímetros.

Publicidade

A campeã do aperto é a low-cost Spirit, que oferece meros 70 centímetros entre as poltronas.

Na última década, outros serviços que eram gratuitos passaram a ser cobrados, um fenômeno chamado de “unbundling”.

Além da taxa para despachar bagagens em voos domésticos, em certas classes de tarifa as companhias cobram pela escolha do assento e vendem à parte o “privilégio” de embarcar antes dos outros passageiros.

Remarcar bilhetes também incorre em custo extra – a menos que o passageiro decida comprar um seguro extra para poder alterar a reserva sem multa.

Do ponto de vista financeiro, a tática parece dar resultado. Em 2007, as dez companhias aéreas americanas que mais registraram essas receitas adicionais faturaram US$ 2,1 bilhões com a venda de serviços à parte.

Em 2017, esse total passou para US$ 29,7 bilhões. Segundo o ministério dos Transportes americano, somente em 2017 as aéreas faturaram US$ 4,6 bilhões cobrando pelo despacho de bagagens.

Além dos custos escondidos nas letras pequenas, existe uma outra amargura associada às viagens de avião, que para muita gente é ainda mais sofrida que o preço ou a experiência a bordo: os aeroportos.

A Apple no mercado

Por isso, a notícia da semana passada de que a Apple está trabalhando em conjunto com a United Airlines para redesenhar um terminal do aeroporto de San Francisco foi recebida com esperança.

Funcionários da Apple estudaram as áreas de manuseio de bagagens, atendimento aos clientes e outras partes do aeroporto. Linda Jojo, responsável pela área digital da United, afirmou que a parceria pode “transformar a experiência do aeroporto”.

As conversas ainda são preliminares, e não há mais detalhes sobre o projeto. A Apple é a maior cliente individual da United: fotos vazadas no Twitter no começo deste ano mostram que a empresa compra US$ 150 milhões em passagens por ano, incluindo cerca de 50 assentos de classe executiva todos os dias nos voos entre San Francisco e Xangai.

Apple e United não estão estudando o tema só por compaixão com os viajantes, mas qualquer melhoria que facilite a vida dos outros passageiros sem dúvida será mais que bem vinda.

Invista melhor e tenha dinheiro para viajar: abra uma conta gratuita na XP

Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York