Mudança no setor aéreo: por que a Delta preferiu a Latam e o que esperar da Gol

Segundo gestores, o principal fator que teria levado a Delta seria a maior presença da Latam na América Latina

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – O anúncio da aquisição de 20% da Latam pela americana Delta vai mexer com o setor de aviação da América Latina. Para o mercado, parece claro que a maior prejudicada deve ser a Gol.

Nesta sexta-feira, as ações da Gol caíam 5,6%, enquanto as de sua controlada Smiles tinham baixa de 3,4%. A interpretação é que a saída da Delta, que deve vender seus atuais 9,4% na Gol, traz incertezas e problemas para a companhia brasileira.

Segundo gestores e analistas consultados pelo InfoMoney, o principal fator que teria levado a Delta a trocar de lado seria a presença bem mais difusa da Latam na América Latina em relação à Gol.

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De acordo com o Bradesco BBI, com o novo acordo, Delta e Latam passam a liderar cinco dos seis principais mercados na América Latina na rota para os Estados Unidos.

Outro fator que pode ter motivado a decisão da Delta, segundo especialistas, tem a ver com a estratégia de Gol e Latam em relação a seus programas de fidelidade – Smiles e Multiplus, respectivamente.

“Tanto a Latam quanto a Gol estavam interessadas em incorporar os programas de fidelidade para fortalecer seus caixas e chamar a atenção de um parceiro estrangeiro”, afirma Carlos Herrera, estrategista chefe da Condor Insider.

Nesse plano, a Latam saiu na frente ao concluir a incorporação da Multiplus em abril deste ano. Já a Gol se envolveu em uma longa disputa de preço com os minoritários e não chegou a um acordo. “A Gol deveria ter sido clara e explicado o que realmente estava em jogo para o acionista minoritário”, diz Herrera.

Procuradas, Gol e Smiles não deram entrevista. Por meio de nota, a companhia brasileira informou que o atual acordo de compartilhamento de voos com a Delta representa apenas 0,3% da receita total e 3,5% dos resgates de pontos da Smiles.

Os números, porém, contam apenas parte da história. Sem a Delta, a Gol perde um importante parceiro estratégico e acionista desde 2011, além de ter sua principal concorrente, a Latam, fortalecida.

“A Delta foi essencial no turnaround da Gol, em 2015 e 2016, e as empresas sempre ressaltaram que se tratava de uma parceria estratégica de longo prazo”, afirma um gestor.

O momento da saída da Delta também é um problema. A dinâmica no setor aéreo brasileiro vem mudando, com a maior concorrência provocada pela entrada de empresas estrangeiras de baixo custo no país.

A saída mais provável para a Gol, segundo analistas e gestores, é a aliança com outra companhia americana. A mais citada é a American Airlines, que perdeu sua parceria com a Latam após o governo do Chile proibir a formação de uma joint venture entre as empresas alegando muita sobreposição de rotas. “Eles devem correr atrás de American e outras empresas. Ter um parceiro é essencial”, afirma um gestor.

Um novo parceiro poderia, inclusive, aportar recursos para que a empresa consiga incorporar a Smiles. A incorporação ficou ainda mais complicada: a queda das ações da Gol torna difícil fazer uma aquisição por meio da troca de papéis, por exemplo.

Além disso, analistas do Bradesco BBI citam em relatório um empréstimo da Gol no valor de R$ 1,2 bilhão com vencimento em agosto de 2020 que tem garantia da Delta Airlines. Eles pontuam que a Gol pode refinanciar essa dívida no próximo ano, mas isso diminui a capacidade da área de oferecer dinheiro e ações para concluir a compra de 100% da Smiles.

O mercado, portanto, aguarda o anúncio de um novo parceiro para a Gol. Falta combinar com os gringos.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.