2021: um novo começo?

O cenário global favorável – que impulsionará o crescimento à casa de pelo menos 3% em 2021, num contexto de preservação do regime fiscal – oferece ao país uma nova oportunidade
Por  Pedro Jobim -
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Nas últimas semanas, o cenário para a economia global em 2021 sofreu uma forte inflexão positiva.

No espaço de alguns poucos dias, duas grandes incertezas que turvavam o ambiente – as dúvidas em relação ao resultado da eleição nos Estados Unidos e, especialmente, aquela relacionada à disponibilidade ou não de uma vacina eficaz para a Covid-19 em curto espaço de tempo – foram removidas.

Estima-se que as três fabricantes das vacinas cuja distribuição é mais iminente – Pfizer, Moderna e AstraZeneca – serão capazes de entregar cinco bilhões de doses, a partir de dezembro de 2020 até o final de 2021, o que em tese é suficiente para imunizar cerca de 35% da população mundial.

Somando-se às doses dos demais fabricantes, como a Johnson & Johnson, além de empresas russas e chinesas, a perspectiva concreta é de que toda a população mais vulnerável esteja imunizada até o fim do primeiro semestre de 2021, no caso de países desenvolvidos, e até o fim do ano, no caso de países emergentes.

A maior parte dessas vacinas tem eficácia estimada entre 90 e 95%, muito superiores às exibidas por vacinas de gripe sazonal, que variam entre 50 e 60%, assemelhando-se àquelas das vacinas de sarampo ou tétano. A perspectiva de imunização que se descortina é, portanto, concreta.

O sucesso clínico das vacinas deverá acelerar a reabertura da economia global em 2021, especialmente no setor de serviços. Como as atividades desse segmento são intensas em mão de obra, o mercado de trabalho deverá mostrar, também, forte recuperação ao longo do ano.

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As políticas monetárias dos principais bancos centrais deverão permanecer calibradas para garantir condições monetárias estimulativas. Na medida do necessário, a política fiscal deverá seguir também apoiando a recuperação da atividade.

A combinação do controle da Casa Branca pelos democratas, e da provável manutenção do controle do Senado pelo Partido Republicano, sugere moderação nos estímulos fiscais, política comercial menos baseada em tarifas e avanços modestos na pauta democrata de aumentos de impostos, complementando o pano de fundo favorável para a economia global e para os ativos de risco.

A reabertura global impulsionará os preços de commodities, o retorno dos fluxos financeiros para países emergentes e as ações de empresas mais ligadas ao ciclo econômico.

Se, por um lado, o Brasil não será dos primeiros a receber as maiores quantidades de doses das vacinas, a iminente chegada do verão torna menos preocupante o início de surto que vem sendo registrado em alguns estados.

Assim, o mercado de trabalho, o nível de atividade e os preços dos ativos, no Brasil, deverão refletir, também, esta perspectiva favorável.

O flerte do governo com o rompimento do regime fiscal ao longo do ano contribuiu para a deterioração e o aumento da volatilidade dos preços dos ativos financeiros locais.

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Esse efeito, somado à postura obstinada da equipe do Ministério da Economia na defesa da manutenção do teto de gastos e das reformas, parece ter sido suficiente para que, enfim, a classe política aumentasse o grau de compreensão quanto à necessidade de se manter o regime fiscal em curso, à frente, bem como em não renovar o auxílio emergencial.

O cenário global favorável – que impulsionará o crescimento à casa de pelo menos 3% em 2021, num contexto de preservação do regime fiscal – oferece ao país uma nova oportunidade.

Neste sentido, é fundamental utilizar o próximo ano para retomar a agenda de contenção dos gastos obrigatórios, encaminhando a criação de gatilhos de despesas, seja por meio da PEC emergencial, seja via outros instrumentos infraconstitucionais, além de perseverar na formatação das reformas tributária e administrativa, que já tramitam no Congresso.

A capitalização da oportunidade que se apresenta será diretamente proporcional à quão amplo e explícito for o apoio político empenhado pelo presidente à agenda do Ministério da Economia.

Ciclicamente, o país tem condições de crescer a uma taxa próxima a 4% ao ano no próximo biênio. A liderança presidencial é o fator capaz de catalisar o aumento na confiança dos agentes econômicos que transformaria essa possibilidade em realidade concreta.

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Pedro Jobim É sócio-fundador da Legacy Capital. Atua no mercado financeiro desde 2002, tendo sido economista-chefe do banco Itau BBA e da tesouraria do banco Santander. É engenheiro mecânico-aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), mestre em economia pela PUC-Rio e Ph.D em economia pela Universidade de Chicago.

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