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Nada como brasas para aquecer velhas narrativas

Como era de se esperar, muitos da esquerda não hesitaram em surfar na desgraça como se não tivessem governado este País durante mais de uma década
Por  Mario Vitor Rodrigues
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A Quinta da Boa Vista não fica muito distante da minha residência no Rio. Tanto assim que cansei de fazer o trajeto a pé, ainda que na maior parte das vezes para acompanhar o Fluminense ali ao lado, no estádio do Maracanã.

Quando mais novo, porém, frequentei bastante os seus gramados com os meus pais, amigos e também as suas famílias. Para os moradores dos bairros vizinhos, tratava-se de um programa que chegava a rivalizar com a praia, de tão amplo e bonito que era o espaço.

Obviamente, ainda criança, os meus olhos não procuravam por imperfeições. Na certa, já deveriam existir os mendigos, quem sabe batedores de carteira e toda sorte de jardins malcuidados, mas eu só queria saber mesmo de jogar bola e soltar pipa.

Se visitei o Museu? Algumas vezes. Insisto, despido do olhar crítico de um adulto quando avalia um acervo, entretanto, sempre com a noção muito clara de que ali fora a residência da Família Imperial.

Nas últimas décadas, a Quinta virou ponto de passagem obrigatório para os moradores da região da Tijuca que se utilizam da Linha Vermelha. Invariavelmente, o motorista acaba contornando o seu espaço gradeado até ladear a cancela, na altura do Pavilhão de São Cristóvão. E o cenário, devo dizer, não se assemelha em nada àquele das minhas memórias afetivas.

Além de um inequívoco aspecto de abandono — com destaque para o gramado alto e o fedor típico de ambientes escolhidos como abrigo por moradores de rua —, todo o entorno da Quinta virou um roteiro de prostituição e venda de drogas. E não estou falando aqui de situações comuns a partir de determinado horário em qualquer cidade grande, mas de autênticos vexames em plena luz do dia.

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Desse modo, não bastasse ter de assistir de camarote a um prédio que se confundiu com a minha infância sendo devorado pelas chamas, e o fato destas terem sido gestadas ao longo de décadas de absoluto descaso, foi insuportável perceber a procissão de políticos oportunistas incapazes de ceder um instante que fosse à tentação de lucrar com tamanha tragédia.

Até mesmo Marina Silva, uma mulher que tenho aprendido a admirar ultimamente, capitulou, e lamentou o “estado de penúria financeira da UFRJ e das demais universidades públicas nos últimos três anos”.

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– Museu Nacional: 4 gastos públicos que equivalem ao orçamento anual

Ora, não cabe usar uma tragédia para estocar o establishment político, na figura do presidente Michel Temer. Não cabe pelo mau gosto, pelo fato de Marina fazer parte desse mesmíssimo palco e, também, pela imprecisão do comentário. Notícias dão conta de que a Universidade Federal do Rio de Janeiro chegou a arrecadar R$ 2,24 milhões entre 2016 e 2017, valor suficiente para custear com folga a manutenção do Museu Nacional, mas que estavam destinadas à criação de uma rádio universitária.
Marina escorregou feio, porém nada se compara à voracidade demonstrada por Dilma Rousseff, Lindbergh Farias e Guilherme Boulos.

Como era de se esperar, esses não hesitaram em surfar na desgraça como se a esquerda, liderada pelo Partido dos Trabalhadores, não tivesse governado este País durante mais de uma década. E, em se tratando especificamente do Rio de Janeiro, como se a cidade não tivesse ficado esse tempo todo sob a sua batuta e de seus aliados políticos.

Voluntariamente impreciso, quando não descaradamente mentiroso, o trio sapateou em cima dos fatos ao mencionar o teto de gastos para explicar o incêndio. Dilma, ainda por cima, fez questão de citar Temer, Henrique Meirelles e o PSDB como responsáveis diretos pelo acontecido.

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Por aí se vê que político algum merece idolatria ou defesa cega. Existe um mecanismo que conduz o discurso e o comportamento do sujeito para otimizar ao máximo as suas chances de alcançar ou permanecer no poder.

Quando se trata de uma turma que violentou o País durante os últimos 14 anos, contudo, é preciso traçar uma linha. Dilma Rousseff, Lindbergh Farias e Guilherme Boulos, assim como o engodo da vez, Fernando Haddad, pouco estão se lixando para a ordem democrática, a origem dos acontecimentos e o bem social.
O que existe é uma luta inescrupulosa pela retomada do poder. Um fim capaz de justificar quaisquer meios.

No final das contas, o Museu em chamas é o de menos.

Aliás, veio bem a calhar para que eles insistissem em suas narrativas.

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