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Troca no MEC: Bolsonaro demorou a entender, o mercado nem isso

O sujeito pode até passar recibo e admitir decepção, porém não está preparado para encarar a realidade como ela é: a de que não existe garantia alguma quanto à aprovação da reforma
Por  Mario Vitor Rodrigues
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Eis que Ricardo Vélez Rodríguez finalmente caiu, gerando uma dúvida e um problema. A dúvida, se mais grave foi a demora em demiti-lo ou o próprio convite para chefiar uma pasta tão fundamental quanto a Educação. Já o problema se dá pela inevitável comparação que é feita — afinal, seu sucessor não teria como ser pior. É o que acontece quando pessoas inaptas para funções importantes se tornam referência.

Contudo, essas questões foram relegadas a segundo plano logo depois, com o anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro de que Abraham Weintraub assumiria o posto.

Weintraub era secretário-executivo da Casa Civil, cargo logo abaixo do de Onyx Lorenzoni. Economista com larga experiência na iniciativa privada (chegou a ser diretor do Banco Votorantim), foi anunciado por Bolsonaro como “alguém do ramo” e tem a incumbência imediata de reconduzir à pasta ex-alunos do ideólogo Olavo de Carvalho, eminência parda deste governo, que haviam sido exonerados por Vélez Rodríguez.

Pois, justamente, a desconfiança envolvendo a escolha do presidente por certo não recai sobre o currículo do escolhido. Pelo menos no que diz respeito à formação acadêmica, o novo ministro passa a imagem de alguém qualificado. No mínimo, voltando brevemente ao dilema mencionado no primeiro parágrafo, será capaz de se fazer entender em português correto e fluido.

O bizu se dá porque o novo ministro reza pela mesma cartilha destrambelhada imposta pelo olavismo. Uma retórica que não apenas divide a sociedade ao envenenar o debate, mas vai de encontro à agenda econômica liberal encampada por Paulo Guedes.

Aí entra a ingenuidade, e, por que não dizer, a torcida de boa parte do mercado financeiro.

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Ontem mesmo a XP Investimentos divulgou pesquisa indicando que a aprovação do governo despencou de 70% em fevereiro para 28% agora. É um dado relevante, que em tese contraria essa minha afirmação.

Entretanto, a mesma apuração aponta que, dentre os agentes do mercado, 80% confiam que a reforma da Previdência será aprovada.

Trocando em miúdos, o sujeito pode até passar recibo e admitir decepção, porém não está preparado para encarar a realidade como ela é: a de que não existe garantia alguma quanto à aprovação da reforma.

Percebam, não estou aqui me referindo a uma aprovação que resulte em impacto de 700, 600 ou mesmo de 500 bilhões. Essas já seriam graves, uma vez que, não só entregariam a metade ou até menos do que o patamar inicial estabelecido por Guedes, mas por que imporiam uma derrota fragorosa ao ministro, de tal sorte que a sua própria permanência no governo se tornaria difícil. A questão que se apresenta agora, e que precisa ser enfrentada com franqueza, é se de fato teremos uma reforma este ano. Lembrando que 2020 é ano eleitoral, portanto seria ainda mais difícil.

Todavia, mais do que ter coragem para decifrar o cenário político e suas influências no campo econômico, aceitando que este é um governo pura e simplesmente incapaz de cumprir o que dele se espera, cabe não mais esnobar as ditas guerras culturais e frequentes crises provocadas pela influência de Olavo de Carvalho na gestão.

Mais do que isso. Cabe enxergá-las como entraves diretos para o projeto de liberalização da economia e desburocratização do Estado brasileiro.

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