Não é hobby, é trabalho!

Para largar uma carreira estável e se aventurar em uma profissão glamorosa, é recomendável seguir quatro passos

Karla Santana Mamona

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SÃO PAULO – Quem vê o chef de cozinha Gabriel de Carvalho no comando da cozinha do Ix Bistrô, no Rio de Janeiro, nem imagina que um dia ele pensou em ser advogado. Ainda durante a faculdade, Carvalho dividia seu tempo entre as aulas de direito pela manhã, o estágio à tarde e a faculdade de gastronomia à noite. “Tirava o terno e a gravata e corria para as aulas de gastronomia. Era como se fosse a hora do recreio”, conta. Como a rotina era muito puxada, a faculdade de gastronomia acabou perdendo espaço em sua vida.

No entanto, logo após conquistar o diploma de advogado, a paixão falou mais alto. No dia seguinte à formatura, Gabriel embarcou para a França, para estudar o que mais gostava: culinária. “Nem cheguei a pegar o canudo.” Após uma temporada de dez meses em Paris, voltou com a certeza de que a vida nos fóruns e tribunais não era para ele. Decidido, começou a estagiar em restaurantes.

A história pode ser inspiradora, mas trocar a profissão pelo hobby nem sempre é simples e pode exigir mais do que coragem.

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Os quatro passos
Antes de transformar uma atividade em fonte de renda, é importante avaliar quatro pontos fundamentais. O primeiro, de acordo com a consultora da Personal Service Rafaelle Colares, é o mercado de trabalho: “É preciso ver se é possível trabalhar com o que gosta. O hobby tem de ser reconhecido pelo mercado.”

O segundo fator a ser considerado é o impacto que a nova profissão trará à vida financeira do profissional. A consultora Maíra Bevilaqua, da Hays, explica que é importante saber se aquela carreira trará uma remuneração constante e suficiente todos os meses. É aí que muitas pessoas desistem.

Geralmente, quanto mais velho o profissional, mais responsabilidade financeira ele tem. Para pessoas mais conservadoras, arriscar sempre traz insegurança. Nesse caso, aconselham os especialistas, o ideal é que o profissional tenha dinheiro guardado para eventuais emergências.

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O terceiro ponto a se avaliar antes de transformar o hobby em profissão é o conhecimento técnico de determinada área. Entre gostar e ser competente tecnicamente, há uma grande diferença. É nessa hora que entra a busca por qualificação. Os cursos especializados, além de ajudarem na formação, possibilitam que a pessoa tenha uma visão mais abrangente da carreira escolhida e faça os primeiros contatos com profissionais da área. “É o começo de um importante networking”, explica Maíra.

A pessoa ainda precisa ter em mente que escolher o hobby como profissão não significa fazer somente aquilo de que gosta. Como em todas as profissões, existem atividades e processos que não são muito agradáveis, mas que precisam ser feitos.

O chef Carvalho conta que viveu essa situação, e por isso aconselha que se conheça profundamente a rotina da profissão antes de optar por ela: “Na gastronomia, eu só via o lado glamoroso, mas, de fato, as coisas não são assim. Isso me assustou um pouco no início.”

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Se nada der certo
Transformar o hobby em profissão é possível, mas, se a tentativa não for bem-sucedida, lembre-se de que dá para voltar à antiga profissão. De acordo com Maíra, as empresas enxergam com bons olhos esse profissional: “Para elas, são pessoas que pensam fora da caixa”.

Embora dê para conseguir uma recolocação, é importante ressaltar que, dependendo do tempo em que a pessoa ficou em outra área do mercado, ela poderá ter de retroceder e ocupar cargos hierarquicamente inferiores ao anterior.

Fala sério, Thalita!

Quem embarcou com a cara e a coragem no sonho de ser escritora foi Thalita Rebouças. Autora de mais de dez livros voltados ao público jovem – entre eles Fala sério, mãe!, que já vendeu mais de 1 milhão de cópias –, Thalita virou ídolo das adolescentes. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2011, ela teve de ser retirada às pressas do estande por causa do histerismo de fãs que a aguardavam.

Mas nem sempre foi assim. Para chegar a esse ponto, a escritora teve de suar a camisa. Foi o primeiro livro – Traição entre amigas –, publicado há 12 anos, que despertou na jornalista a vontade de deixar a carreira de lado para se dedicar somente à literatura. Na época, o livro vendeu 4 mil exemplares, um número positivo se se considerar que a obra não contou com muita divulgação. “Quando eu vi esse número, resolvi apostar. Eu não estava feliz com meu trabalho. Tinha um dinheiro guardado e pedi demissão.” A decisão foi apoiada somente pelo marido. O restante da família dizia que era uma loucura deixar uma carreira promissora para trás. “Eu sei que era um sonho alto, porque é muito difícil viver de literatura no Brasil.”

Na primeira Bienal do Livro, Thalita, ainda desconhecida, resolveu chamar atenção de maneira inusitada. Sem timidez, a escritora subia na cadeira, assobiava e até fazia polichinelos. A estratégia deu certo. “Eu pagava mico, mas vendia livro.” Após a experiência, ela decidiu usar essa estratégia nas livrarias. “Na época, não tinha redes sociais. A divulgação era boca a boca. Foi trabalho de formiguinha.”

Ao avaliar a mudança de carreira, ela lembra que não imaginava que faria tanto sucesso. A pretensão era conseguir pagar suas contas com o dinheiro da venda de livros. “O que eu estou vivendo hoje é muito maior que o meu melhor sonho. Eu não imaginava vender livro fora do País, não imaginava conhecer meus ídolos e muito menos que eles me conheceriam.”

Para mudar, é necessário muito mais que coragem. Profissional tem de avaliar aspectos como mercado de atuação, vida financeira, conhecimento técnico e realidade da profissão.

Essa matéria foi publicada na edição 40 da revista InfoMoney, referente ao bimestre setembro/outubro de 2012. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.