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Quase 30 companhias listadas na Bolsa trocaram de CEO em 2023: entenda os motivos

Impacto de juros altos e pressão de investidores por resultados podem estar por trás da onda de mudanças no comando das empresas

Mitchel Diniz

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O ano de 2023 foi tão movimentado quanto 2022 em termos de troca de comando nas companhias abertas. Do começo de janeiro até a penúltima semana de dezembro, o IM Business contou ao menos 28 empresas brasileiras com ações na Bolsa que anunciaram novos CEOs. A lista contém companhias de diferentes tamanhos e setores, incluindo alguns casos emblemáticos de conflitos societários e de recuperação judicial. Algumas mudanças resultam de planos de sucessão bem amarrados, mas outras foram consideradas precoces e abruptas, surpreendendo investidores.

“Foi no ano de 2023 que o ciclo de alta de juros do Banco Central teve mais impacto negativo sobre as empresas”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos, relacionando a dança das cadeiras no alto comando das companhias com um cenário macroeconômico ainda conturbado. A taxa Selic subiu para 13,75% em agosto de 2022 e permaneceu nesse patamar até junho último, afetando, sobretudo, as dívidas das companhias. “Muitas empresas também tiveram receitas crescendo pouco e pressão de custos”.

Conde também vê as mudanças como resposta à demanda dos investidores por melhores resultados. “É uma evolução. Antigamente, as empresas ouviam muito menos o mercado e não estavam tão preocupadas com o resultado final. Hoje, elas mudam de CEO em resposta aos investidores, sejam controladores ou individuais”.

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A pressão por melhores resultados, por exemplo, é vista como razão para a saída de Octavio de Lazari Junior da presidência do Bradesco, onde, tradicionalmente, os CEOs permanecem no cargo até se aposentar. “Historicamente, o Bradesco é muito conservador nas mudanças. Então, fazer uma alteração de CEO sem ter uma ‘obrigação’, mostra o quanto os controladores estão insatisfeitos”, afirmou o sócio de uma gestora ao IM Business quando a troca foi anunciada.

O Bradesco está com dificuldades para alcançar o desempenho de seu principal concorrente privado, o Itaú, e o do Banco do Brasil. No terceiro trimestre de 2023, o retorno sobre patrimônio líquido (ROE) da instituição financeira ficou em 11,3%. Ainda que tenha apresentado melhora, a rentabilidade ainda está bem distante dos 21,1% do Itaú e de 21,3% do BB.

O sucessor de Lazari, Marcelo de Araújo Noronha, era vice-presidente responsável pela área de varejo do Bradesco. Profissional com 38 anos de experiência no setor financeiro, está há 20 anos no banco e foi uma recomendação do comitê de nomeação e sucessão da instituição.

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Após a saída de Lazari Junior da presidência, outros executivos do banco também deixaram seus cargos. O Bradesco se prepara para apresentar um plano de reestruturação no próximo mês de fevereiro.

Na Alpargatas, o conselho de administração escolheu Liel Miranda, da Mondelez Brasil, para ocupar a posição de presidente da companhia. Ele substituirá Luiz Fernando Edmond, que ocupava ocupava o cargo interinamente desde que Roberto Funari anunciou sua saída em abril, também em meio à pressão do mercado por resultados melhores.

Na avaliação de analistas do Citi, a Alpargatas não só precisa reduzir seu portfólio de produtos complexo, mas também revisar estruturalmente seu planejamento de vendas e operações, entre outras ações. Para o Bradesco BBI, com a chegada de Miranda e outras mudanças no quadro de executivos, 2024 deve ser um ano chave para a “inversão de marcha operacional” da companhia.

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Empresas em RJ também mudaram de comando

Na Light, o conselho de administração decidiu substituir Octavio Pereira Lopes pelo até então diretor de regulação e relações institucionais da empresa, Alexandre Nogueira, que também tem no currículo uma experiência de 22 anos na Energisa. Ele deveria assumir o comando da Light no próximo dia 31 de dezembro. Porém, reunião extraordinária do conselho, realizada no dia 28, decidiu que Nogueira assumirá a presidência do board. Assim, Carlos Vinícius de Sá Roriz será o novo CEO.

Foi na gestão de Octavio Pereira Lopes que a Light entrou com pedido de recuperação judicial por meio da holding. Os problemas financeiros, porém, estão na distribuidora de energia, que, pela lei brasileira, não poderia recorrer a um processo de recuperação judicial. A decisão é questionada na Justiça por debenturistas. Em meio ao imbróglio, o empresário Nelson Tanure ampliou sua posição na companhia, tornando-se o maior acionista da Light e, dessa forma, o principal interlocutor junto aos credores.

A recuperação judicial também motivou uma troca de comando na Americanas, que começou 2023 com Sergio Rial na cadeira de CEO. Por 20 anos, o assento foi ocupado por Miguel Gutierrez. A permanência de Rial, por sua vez, durou menos de duas semanas. O executivo escancarou o rombo bilionário nas contas da varejista e logo deixou o cargo. Em fevereiro, o conselho de administração da Americanas elegeu Leonardo Coelho Pereira, um especialista em reestruturação financeira, ao cargo de CEO. E foi sob sua gestão que a companhia conseguiu aprovar um plano de recuperação judicial junto aos seus credores.

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O caso Americanas adicionou complexidade ao cenário já conturbado das varejistas brasileiras que, alavancadas, sentiram em cheio o momento de juros altos e endividamento das famílias. Foi nesse contexto que Renato Franklin assumiu o comando da Via que, alguns meses depois, voltou a se chamar Casas Bahia. Franklin assumiu o lugar de Renato Fulcherberger com a missão de conduzir um duro ajuste na companhia, que incluiu fechamento de lojas, redução de despesas com pessoal e readequação de estoques para liberar recursos para o caixa.

Renato Franklin era CEO da Movida e, ao deixar o cargo, o comando da locadora de veículos do grupo Simpar passou para Gustavo Moscatelli, até então CFO da empresa.

Passagem relâmpago

O ano de 2023 também marcou a substituição de outros CEOs que ficaram pouquíssimo tempo no cargo. Na Gafisa, Henrique Blecher foi diretor-presidente por apenas quatro meses: de setembro do ano passado, com a compra da incorporadora Bait, da qual era sócio, até janeiro último, quando foi substituído por Sheyla Resende, primeira mulher a assumir o comando da companhia. A troca coincidiu com a conclusão do plano de integração de aquisições da Gafisa e, segundo a empresa, ocorreu em comum acordo.

Elton Carluci também teve um curto mandato como CEO da Qualicorp: chegou ao cargo em janeiro e, em 31 de julho, foi substituído por Mauricio Lopes, executivo com passagens pela Rede D’Or e SulAmérica. Foi uma decisão que surpreendeu parte do mercado, porém planejada: o conselho da Qualicorp queria um nome técnico com boa interlocução no setor de saúde suplementar. Segundo a companhia, ao anunciar a troca de comando, a substituição está alinhada com uma mudança transformacional de foco.

Ruptura com o passado?

Executivos em posições mais longevas também deixaram o cargo em 2023. Foi o caso de Marcelo Magalhães, CEO da PetroReconcavo por 16 anos e que deixa o cargo e no próximo dia 1º de fevereiro. Também de Harry Shmelzer Júnior, 16 anos no cargo de CEO da WEG, e que será substituído por Alberto Kuba, atual diretor-superintendente da divisão de motores elétricos industriais.

A Pague Menos, por sua vez, rompeu com a tradição de ter membros da família fundadora da companhia no cargo de CEO e anunciou Jonas Marques como diretor-presidente. O executivo do mercado vai assumir a cadeira a partir de 4 de janeiro. Pela primeira vez em 42 anos, a empresa não será comandada por um membro da família Queirós.

Outras mudanças de comando anunciadas em 2023

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados