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A megaoperação policial realizada nesta semana no Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortos, voltou a expor o poder e a estrutura do Comando Vermelho (CV), a mais antiga e influente facção criminosa do país.
Fundada há mais de cinco décadas, a organização nasceu em um presídio e se transformou em um império que movimenta bilhões de reais por meio de atividades ilícitas e também de negócios legais.
A operação, que teve como alvo o Complexo da Penha, visava frear o avanço territorial do grupo, hoje considerado a segunda maior facção do Brasil, atrás apenas do Primeiro Comando da Capital (PCC).
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Raízes na Ditadura
O Comando Vermelho surgiu no início da década de 1970 no Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro, durante o período da Ditadura Militar. No mesmo espaço estavam detidos criminosos comuns e presos políticos, cuja convivência deu origem à chamada Falange Vermelha, embrião do CV.
Um dos fundadores foi William da Silva Lima, conhecido como Professor, condenado a quase 100 anos de prisão por assaltos a bancos e sequestros.
Sem acesso à educação formal, ele aprendeu sobre direitos civis e organização política com os militantes presos por razões ideológicas, experiência que o levou a liderar os detentos e a articular a base da futura facção.
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A filosofia inicial do grupo era de resistência à tortura e aos maus-tratos, mas, com o tempo, o discurso de solidariedade entre presos se converteu em estrutura de poder e controle.
Expansão fora dos presídios

Com a anistia e a saída dos presos políticos em 1979, os integrantes remanescentes da Falange se reorganizaram sob o nome Comando Vermelho. O grupo começou a atuar em fugas coordenadas e, pouco depois, migrou para o tráfico de drogas.
Entre 1983 e 1986, o CV já dominava grande parte das bocas de fumo do Rio, e, em 1985, controlava cerca de 70% do mercado de entorpecentes na capital fluminense.
A partir daí, a violência urbana explodiu: o Rio viveu, em 1994, um dos seus piores índices da história, com 64,8 homicídios por 100 mil habitantes.
As tentativas de enfraquecer a facção, como a transferência de líderes para diferentes presídios, tiveram efeito inverso: o CV se espalhou por outras unidades da federação, multiplicando suas alianças e recrutando novos membros no sistema carcerário.
Economia paralela

Nas décadas seguintes, o Comando Vermelho diversificou suas fontes de renda. Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado em fevereiro de 2025, revelou que o tráfico de cocaína deixou de ser a principal atividade econômica do crime organizado.
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Segundo o estudo “Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil”, facções como o CV e o PCC movimentaram R$ 146,8 bilhões em 2022 por meio da comercialização irregular de combustível, ouro, cigarros e bebidas alcoólicas, quase dez vezes mais que o lucro estimado com o tráfico de drogas no mesmo período (R$ 15 bilhões).
Além das atividades ilícitas, o grupo passou a investir em negócios legalizados e lavagem de dinheiro em setores como o imobiliário, o transporte e o comércio informal, consolidando uma estrutura empresarial que se infiltra na economia formal.
Guerra urbana

A facção também modernizou suas táticas de combate. Nos últimos anos, passou a usar drones adaptados para lançar explosivos, armas produzidas artesanalmente e equipamentos de comunicação criptografada.
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Essas inovações ampliaram sua capacidade de enfrentamento contra forças policiais e grupos rivais, em especial nas “guerras” por território com as milícias.
Um estudo do Instituto Fogo Cruzado, em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF), mostra que o Comando Vermelho foi a única facção a expandir seu território no Rio entre 2022 e 2023.
O grupo passou a controlar 51,9% das áreas dominadas por grupos armados na região metropolitana, retomando a liderança perdida para as milícias em anos anteriores.
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Hoje, o CV mantém influência direta em redes criminosas no Norte e Nordeste, com ramificações que cruzam fronteiras e se estendem até países vizinhos.
O que começou como um movimento de presos por sobrevivência tornou-se uma organização transnacional, com estrutura hierárquica, base econômica diversificada e uma marca que se confunde com a própria história da violência urbana no Brasil.
(Com informações da Agência O Globo)
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