O embate entre gestão ativa e passiva nunca foi tão acirrado no mercado financeiro. Dados recentes da Anbima mostram que os ETFs — fundos que replicam índices de mercado — já ocupam o segundo lugar entre as classes de investimento que mais captam recursos no país.
O movimento acompanha uma tendência global: nos Estados Unidos, uma verdadeira “diáspora de capital” vem deslocando trilhões de dólares de fundos ativos para passivos.
A busca por eficiência e transparência explica boa parte dessa mudança. Cristiano Castro, diretor de Desenvolvimento de Negócios da BlackRock Brasil, observa que o avanço da indústria de ETFs decorre do amadurecimento dos investidores e da necessidade de diversificação com custos mais baixos.
“É um instrumento muito rico para fazer asset allocation. Ao longo do tempo, os investidores perceberam que 94% do retorno vem da escolha correta das classes de ativos — e não do stock picking”
Os ETFs permitem justamente essa estratégia ampla e equilibrada, sem a necessidade de escolher individualmente cada papel. Com taxas de administração que podem chegar a apenas 0,03%, o produto se tornou atrativo tanto para investidores institucionais quanto para pessoas físicas.
“O custo é o mesmo para todos, a liquidez é alta e o investidor sabe exatamente o que está comprando naquele instante”, completou Castro.
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A revolução silenciosa da gestão passiva
O episódio do Stock Pickers apresentado por Lucas Collazo contou com a participação de Cristiano Castro (BlackRock) e Diego Roa, Head Latam da FTSE Russell. (FTSE Russell).
Os especialistas ressaltaram ainda o crescimento da gestão passiva, sob diferentes perspectivas — da eficiência de mercado à construção de índices.
Roa explicou que, por trás do sucesso dos ETFs, há um esforço técnico rigoroso na criação de índices consistentes, transparentes e replicáveis.
“Não é simples montar um índice. Você precisa padronizar dados de diferentes países, horários de mercado e moedas. Além disso, o investidor institucional quer previsibilidade — ele precisa saber exatamente o que esperar de cada regra do índice”
A transparência, segundo Roa, é uma das maiores fortalezas dos fundos passivos.
“Quando a metodologia é clara e replicável, ela permite que o mercado opere de forma eficiente e que o investidor confie no produto”, disse.
Essa clareza se reflete em um dado contundente: nos últimos 20 anos, cerca de 80% dos gestores ativos não conseguiram bater seus respectivos índices de referência.
A busca por eficiência e aderência aos índices
Para Castro, da BlackRock, o segredo da excelência em ETFs está no controle do chamado tracking error, o descolamento entre o desempenho do fundo e o índice que ele replica.
“O gestor passivo é obcecado pelo tracking error. É uma operação que exige diligência, liquidez e acompanhamento constante de eventos corporativos, como splits ou fechamentos de capital, que podem afetar o desempenho do índice”, explicou.
Ele destaca ainda o papel dos market makers, instituições responsáveis por garantir liquidez e eficiência no preço dos ETFs negociados em Bolsa.
“Eles asseguram que o investidor consiga comprar e vender o ativo a um preço justo, o mais próximo possível do valor real do índice.”
O formato também democratiza o acesso. Com pequenas quantias — o equivalente a R$ 50 — o investidor pode se expor a centenas ou milhares de ativos de uma só vez, algo impossível de ser feito de forma individual.
“É um instrumento sofisticado, mas com uma experiência simples e eficiente”, resumiu o executivo da BlackRock.

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BDRs de ETFs ampliam o cardápio de investimentos
Um dos temas mais recentes discutidos no programa foi a expansão dos BDRs de ETFs — certificados que permitem investir em fundos estrangeiros diretamente pela B3.
“O regulador permitiu que, assim como nas ações, o investidor local também tivesse acesso a ETFs internacionais via BDR. Isso eliminou a barreira de abrir conta lá fora e simplificou toda a parte tributária”, explicou Castro.
Com essa inovação, o investidor brasileiro pode acessar, no home broker local, ETFs que replicam índices globais de setores como inteligência artificial, veículos elétricos, biotecnologia e 5G — áreas sem representantes na Bolsa brasileira.
“Hoje a BlackRock já tem 181 BDRs de ETFs listados no país. Eles permitem que o investidor monte um portfólio diversificado e com exposição a temas que não existem no mercado local”, disse.
A empresa também vem expandindo sua linha de ETFs locais, que acompanham índices de empresas brasileiras ou listadas no exterior.
“Muitas companhias com forte presença no Brasil abriram capital fora do país. Criar produtos que capturem esse movimento é uma forma de conectar o investidor local a essa nova geração de empresas”, afirmou Castro.
Tendência global, impacto local
O avanço dos ETFs no Brasil não é apenas reflexo de uma moda passageira, mas de uma transformação estrutural na forma de investir.
A combinação entre custo baixo, liquidez e transparência vem alterando a preferência de investidores e remodelando a indústria de gestão de recursos.
Como observou Lucas Collazo, o movimento indica que o país está, finalmente, alinhado às práticas mais sofisticadas do mercado internacional.
“O Brasil não é uma ilha. A gestão passiva está ganhando espaço aqui como em todo o mundo — e o investidor brasileiro está aprendendo a usar os ETFs para construir portfólios mais inteligentes e diversificados.”